No Aurélio, amador é aquele que se dedica a arte ou ofício por prazer, não por profissão. Em seus 100 anos de vida, Wilson Baptista (1913-2014) foi funcionário da Prefeitura de Belo Horizonte e dos Correios. Também foi escrivão. Mas foi como amador que ele se realizou, deixando um legado que ainda tem muito a revelar. Como fotógrafo, usou uma câmera até o fim da vida. E a capital mineira foi uma de suas grandes personagens.
Nesta terça (27), no CâmeraSete, as imagens de Baptista voltam à cena na exposição Urbano fotográfico, que reúne 44 fotografias da vida da capital mineira das décadas de 1930 a 1960. “Ele fotografava tudo, mas o que talvez definisse seu trabalho é a forma, principalmente nos anos 1930 e 1940, quando ele andava muito com a câmera fotográfica na cidade. Meu pai era um formalista”, afirma Paulo Baptista, curador da exposição.
Paulo é o único dos oito filhos de Baptista que abraçou a fotografia como profissão (é professor da Escola de Belas Artes da UFMG).
O livro apresenta, por exemplo, a imagem de uma trupe de trapezistas Zugspitzen, que faz uma travessia na corda bamba do Edifício Acaiaca para o do Banco da Lavoura, na Praça Sete. A performance aérea fez com que muita gente se deitasse na Avenida Afonso Pena para pode ver melhor homens suspensos sem qualquer proteção. Outro flagrante é o descarrilamento de um bonde, que caiu do Viaduto da Floresta, chamando a atenção das pessoas que frequentavam o local. Isso na Belo Horizonte da primeira metade do século 20.
ACERVO Essa é apenas uma parte do acervo de Baptista.
Na década de 1950, Wilson Baptista foi um dos fundadores e o primeiro presidente do Foto Clube de Minas Gerais. Nessa época, organizou e participou de exposições e de salões nacionais e internacionais. Mas foi efetivamente a partir de meados dos anos 1990 que as imagens de Baptista passaram a se tornar mais conhecidas, quando teve início uma série de exposições de seu trabalho em espaços culturais de BH. Além disso, suas fotos também passaram a ilustrar publicações de arquitetura e história da capital mineira. Ao morrer, em janeiro de 2014, a mostra Escavar o futuro, reunião de suas fotografias, estava em curso no Palácio das Artes.
No recorte selecionado para o CâmeraSete, um dos destaques é uma série sobre a abertura da Avenida Amazonas, em 1941. “Naquele momento, estava sendo urbanizada.
Mais antiga é uma série noturna, da inauguração da Praça Raul Soares, em 1936. Há alguns personagens de BH, como ambulantes e comerciantes dos anos 1930 e 1940. “Tem algumas ainda que ele considerava mais pessoais, chamava de abstrações.”
PRIMEIRA CÂMERA A câmera fotográfica foi apresentada a Baptista na década de 1920. “Eu tinha 13 anos e um médico casado com a sobrinha do meu pai apareceu lá em casa com uma maquininha caixote, Kodak, com um formato que hoje não existe mais: 6½ por 11... Depois me emprestou essa máquina e eu fiquei com ela... Tirei uma quantidade de retrato da família, e quando a gente ia a Santa Luzia na casa dos meus avós tirava fotografia, guardava”, afirmou ele, em 2006, em depoimento para o Programa de História Oral do Centro de Estudos Mineiros da UFMG.
Começou ali e não parou mais, a despeito de um campo de visão limitado – desde a infância, só enxergava com o olho esquerdo. Seus registros acompanham praticamente nove décadas. “Ele fotografou muito dos anos 1930 aos 1960.
Fotografou até o fim. Em seu último ano de vida, fazia fotos coloridas de coisas que chamavam sua atenção no quintal de sua casa.
WILSON BAPTISTA: URBANO FOTOGRÁFICO
Exposição na CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, Avenida Afonso Pena, 737, Centro, (31) 3236-7400. Abertura terça (26), às 19h. Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h. Até 25 de maio. Entrada franca..