Recado
“Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta.”
. Voltaire
O faz de conta laranja
A prática é tão velha quanto o rascunho da Bíblia. Partidos políticos fingem que cumprem a lei. Convidam ingênuos (ou espertinhos) a disputar um cargo eletivo. Mas é de mentirinha. A criatura recebe dinheiro pra financiar a própria campanha. Não o faz. Repassa a grana pra outros – discretamente, sem contar pra ninguém. É o candidato laranja. Com o sai não sai do então ministro Gustavo Bebianno, um laranjal frondoso ganhou as manchetes. Com ele, uma questão linguística. Qual o plural de candidato laranja? Resposta: o substantivo laranja vem depois de substantivo. Funciona como adjetivo e, por isso, concorda com o nome a que se refere: candidato laranja, candidatos laranjas, candidata laranja, candidatas laranjas.
Equipe
Laranja joga no time de fantasma e pirata. Como adjetivos, concordam com o substantivo a que se referem: funcionário fantasma, funcionários fantasmas, firma fantasma, firmas fantasmas, filme pirata, filmes piratas, edição pirata, edições piratas.
Ler emagrece
Estudo encomendado pela rede de livrarias britânicas Borders reforçou o ditado “mente sã, corpo são”. O ato de ler gasta calorias, porém o estudo comprovou que, ao ler livros de ação, sexo e suspense, a taxa média de calorias gastas dobra. Isso se deve ao fato de que livros ligados a esses temas provocam a produção de adrenalina, hormônio que prepara o corpo para situações de estresse, reduzindo o apetite e queimando calorias.
Implicâncias
“Seu filho me chamou de mentiroso. Ele implica comigo”, disse Bebianno a Bolsonaro. O presidente negou. Mas não convenceu. O verbo implicar pediu passagem. Ele tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. É no terceiro que a porca torce o rabo. Veja:
1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com a secretária.
2. No sentido de comprometer, envolver, dá a vez a em: A secretária implicou o chefe em escândalos.
3. No significado de acarretar consequências, implicar implica e complica. Ele é transitivo direto. Não suporta preposição: Autonomia implica responsabilidade. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público. Negligência implica acidente.
Sem confusão
Usar a palavra certa para o contexto pega bem como dar bom-dia ao entrar no elevador ou dirigir com cinto de segurança. Eis a questão: a peça de teatro é exibida ou encenada? Exibe-se algo pronto – um quadro, um filme, uma escultura. Uma peça de teatro ganha vida a cada representação. É encenada, representada, não exibida.
Palavra de João Moreira Salles
“Não fui eu é um prodígio de forma. Três palavras, das mais elementares do idioma: o verbo mais comum – ser –, o primeiro pronome – eu –, o advérbio fundamental – não. Fosse matemática, seriam números primos, aqueles na base de todo o resto. Talvez seja difícil expressar com maior concisão o contrato que firmamos com o país. Enquanto a verdade que a frase traduz nos disser respeito, a história por aqui será o que é: uma coisa que se move, mas não avança.”
Leitor pergunta
Onde ou aonde? Nunca sei.
. Samantha Jones, Santos
Em geral, onde. Aonde só se usa com verbo de movimento que exige a preposição a: Aonde ele foi? Não sei aonde ele foi.Você sabe aonde esta estrada vai levar? Talvez ele saiba aonde conduziremos os hóspedes.
Superdica: na hora de escrever aonde pintou a dúvida? Parta pro troca-troca. Substitua a por para. Se couber, vá em frente. Dê a vez ao aonde: Para onde ele foi? Não sei para onde ele foi. Você sabe para onde esta estrada leva? Talvez ele saiba para onde conduziremos os hóspedes.
“Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta.”
. Voltaire
O faz de conta laranja
A prática é tão velha quanto o rascunho da Bíblia. Partidos políticos fingem que cumprem a lei. Convidam ingênuos (ou espertinhos) a disputar um cargo eletivo. Mas é de mentirinha. A criatura recebe dinheiro pra financiar a própria campanha. Não o faz. Repassa a grana pra outros – discretamente, sem contar pra ninguém. É o candidato laranja. Com o sai não sai do então ministro Gustavo Bebianno, um laranjal frondoso ganhou as manchetes. Com ele, uma questão linguística. Qual o plural de candidato laranja? Resposta: o substantivo laranja vem depois de substantivo. Funciona como adjetivo e, por isso, concorda com o nome a que se refere: candidato laranja, candidatos laranjas, candidata laranja, candidatas laranjas.
Equipe
Laranja joga no time de fantasma e pirata. Como adjetivos, concordam com o substantivo a que se referem: funcionário fantasma, funcionários fantasmas, firma fantasma, firmas fantasmas, filme pirata, filmes piratas, edição pirata, edições piratas.
Ler emagrece
Estudo encomendado pela rede de livrarias britânicas Borders reforçou o ditado “mente sã, corpo são”. O ato de ler gasta calorias, porém o estudo comprovou que, ao ler livros de ação, sexo e suspense, a taxa média de calorias gastas dobra. Isso se deve ao fato de que livros ligados a esses temas provocam a produção de adrenalina, hormônio que prepara o corpo para situações de estresse, reduzindo o apetite e queimando calorias.
Implicâncias
“Seu filho me chamou de mentiroso. Ele implica comigo”, disse Bebianno a Bolsonaro. O presidente negou. Mas não convenceu. O verbo implicar pediu passagem. Ele tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. É no terceiro que a porca torce o rabo. Veja:
1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com a secretária.
2. No sentido de comprometer, envolver, dá a vez a em: A secretária implicou o chefe em escândalos.
3. No significado de acarretar consequências, implicar implica e complica. Ele é transitivo direto. Não suporta preposição: Autonomia implica responsabilidade. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público. Negligência implica acidente.
Sem confusão
Usar a palavra certa para o contexto pega bem como dar bom-dia ao entrar no elevador ou dirigir com cinto de segurança. Eis a questão: a peça de teatro é exibida ou encenada? Exibe-se algo pronto – um quadro, um filme, uma escultura. Uma peça de teatro ganha vida a cada representação. É encenada, representada, não exibida.
Palavra de João Moreira Salles
“Não fui eu é um prodígio de forma. Três palavras, das mais elementares do idioma: o verbo mais comum – ser –, o primeiro pronome – eu –, o advérbio fundamental – não. Fosse matemática, seriam números primos, aqueles na base de todo o resto. Talvez seja difícil expressar com maior concisão o contrato que firmamos com o país. Enquanto a verdade que a frase traduz nos disser respeito, a história por aqui será o que é: uma coisa que se move, mas não avança.”
Leitor pergunta
Onde ou aonde? Nunca sei.
. Samantha Jones, Santos
Em geral, onde. Aonde só se usa com verbo de movimento que exige a preposição a: Aonde ele foi? Não sei aonde ele foi.Você sabe aonde esta estrada vai levar? Talvez ele saiba aonde conduziremos os hóspedes.
Superdica: na hora de escrever aonde pintou a dúvida? Parta pro troca-troca. Substitua a por para. Se couber, vá em frente. Dê a vez ao aonde: Para onde ele foi? Não sei para onde ele foi. Você sabe para onde esta estrada leva? Talvez ele saiba para onde conduziremos os hóspedes.