Uma história de amor é contada em fluxo sinuoso nas páginas de Partitura, novo livro da escritora mineira Maraíza Labanca, lançado pela Cas’a Edições. Pela primeira vez, ela investe na prosa, mas não abandona a poética presente em seus outros trabalhos. Desta vez, narra numa escrita sem obviedade o encontro de duas mulheres que “escrevem, falam, desenham e colhem folhas secas” em meio a um cenário vegetal.
Arbusto foi o primeiro título pensado para a publicação. A escrita teve início na Serra do Cipó e está impregnada pela atmosfera do cerrado mineiro, segundo a autora. “É um lugar que remete à minha infância, para onde retornei na época em que comecei a escrever. Anotava os dias da viagem e a escrita continuou na volta a BH, impregnada por aquelas paisagens”, diz Maraíza.
Para Maraíza, essa região “era uma espécie de paraíso infantil. Não à toa, retornei para escrever naquela paisagem, como quem retorna para casa, pelo que há de familiar e estranho ali”, diz a autora. “Também gosto muito da palavra ‘cerrado’ e da composição das paisagens de Minas: a disposição dessa vegetação, com a secura, a descontinuidade de árvores e os arbustos de porte médio.”
MUSICALIDADE
Partitura traz uma prosa poética, que não se encaixa em romance ou conto.
Ela conta que, quando a escrita começou, não era seu intento publicá-la em livro. A história parte de uma espécie de diário da autora, em que se encontram sua imaginação e capturas dos dias na Serra do Cipó. “Escrevi porque precisava. Estava enfrentando dias de muita intensidade amorosa e escrever me ajudava a suportar aquele momento, além dos cortes e rupturas que viriam depois.”
“É um ponto de verdade muito íntimo e, por isso, difícil de publicar. Achei que poderia me expor em algum sentido.
A autora define Partitura como uma história de amor, embora não em seu sentido mais comum. “A narrativa não segue a estrutura convencional da ficção, de personagens, tempos e espaços definidos, com respeito à cronologia de fatos e ações. Quando se depara com esses pontos de verdade, uma narrativa que segue o real dos dias, você abala a estrutura ficcional. Também por isso, defini como partitura. Essa é uma história cheia de vazios, entrecortada.”
PROSA
Esse é o terceiro livro de Maraíza Labanca, que lançou também Refratário (2012) e Rés – Livro das contaminações (2014), ambos de poemas. A prosa poética adotada agora não é a única diferença entre Partitura e as publicações anteriores.
“Partitura é mais imagético e permite mais desdobramentos, com um fluxo e uma abertura maior. Investi em uma escrita mais íntima, mais erótica, de outra linhagem.
Por ora, a escritora não define qual gênero seguirá em trabalhos futuros. “Acredito na escrita como experiência, que nasce e só depois adquire forma e dita seu próprio caminho. Por isso não faço projetos. Mas adianto que não pretendo abandonar a prosa poética. Partitura é o livro de que mais gostei.”
PARTITURA
. De Maraíza Labanca
. Cas’a Edições (48 págs.)
. R$ 25 (promocional para o lançamento) e R$ 30 (preço de capa)
. Lançamento neste sábado (16), das 11h às 17h, na Feira Textura. Rua Esmeralda, 298, Prado.