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A MULHER POR TRÁS DOS ÓCULOS

Repórter relembra seu encontro, em Ouro Preto, com a grande dama dos palcos brasileiros, de quem se tornou fã por influência da mãe. Em tom de bate-papo, atriz falou de sua arte e de sua fotofobia


postado em 14/02/2019 05:05

Bibi Ferreira dá entrevista no Palácio das Artes, onde se apresentou diversas vezes (foto: arquivo EM )
Bibi Ferreira dá entrevista no Palácio das Artes, onde se apresentou diversas vezes (foto: arquivo EM )


Virei fã de Bibi Ferreira por causa da minha mãe, Ephigenia, que teria exatamente a mesma idade dessa grande atriz, e gostava muito de ir ao teatro, principalmente quando viveu no Rio de Janeiro, em plenos anos dourados. Assim, a cada dia, desde criança, aumentava minha admiração pela artista completa na acepção da palavra: cantava, dançava, interpretava, dirigia colegas magistralmente, falava vários idiomas e enchia o palco com seu talento descomunal.

Há alguns anos, tive oportunidade de entrevistar Bibi Ferreira em Ouro Preto. Cheguei um pouco antes da hora marcada ao hotel onde ela estava hospedada e batemos o maior papo. Falei um pouco sobre a admiração materna e até que minha irmã, Rosa, lá pelos 6 anos, aprendera a ler e escrever num programa educativo que ela conduzia na televisão e era transmitido pela antiga TV Itacolomi. Bibi sorriu docemente e comentou: “Foi há tanto tempo!”.

Durante a entrevista, Bibi usava óculos escuros enormes e me contou que tinha fotofobia, não suportava as luzes dos estúdios de televisão. “Às vezes acham que é charme ou antipatia, mas não faço novelas por isso.” Logo depois, recordou uma turnê por Minas, na década de 1940, ao lado do pai, Procópio Ferreira, com apresentação em Ouro Preto. Falou com carinho da plateia e da beleza da cidade colonial mineira que revisitava. E interrompeu a fala para me pedir um copo d’água. Quanta honra.

Um momento bem-humorado da conversa se deu quando falei sobre as peças que já tinha visto. Citei, com orgulho, O Homem de la Mancha, com um trio maravilhoso: Bibi Ferreira, Paulo Autran e Grande Otelo, na inauguração do Teatro Bloch, no Rio. Depois, Gota d’Água, no Teatro Tereza Rachel, quando a vi circulando nos corredores, antes de incorporar Joana/Medeia, e pôr o público em transe durante mais de duas horas com um vigor impressionante. “Menino, você viu coisa, hein?”, brincou.

E tinha mais: Piaf, que parecia mais uma sessão espírita, pois tenho certeza de que Edith Piaf “baixava” ali a cada espetáculo; Às favas com os escrúpulos; e inúmeros shows que trouxe ao Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Fico pensando em quantas personagens essa mulher se transformou, em quantos cantos do mundo se apresentou, que palcos pisou entoando seu hino à vida e declarando o amor à arte. Num desses últimos Natais, comprei um CD em que ela canta clássicos da época: e não é que fez um dueto gostoso de ouvir com o Padre Fábio de Melo?

A morte de Bibi Ferreira me pegou de cheio... completamente despreparado nestes dias brasileiros tão escuros, embora ensolarados pela natureza. Emoção em estado bruto. É uma estrela que vai da Terra para o céu e deixa um rastro de inteligência, beleza e força. Sem dúvida, ficamos um pouco órfãos.





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