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Filosofia na literatura policial

Obra A promessa /A pane, romance e conto do dramaturgo e escritor suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), mergulha na moralidade humana com escrita contemporânea


postado em 11/02/2019 05:04

Friedrich Dürrenmatt, conhecido por suas peças teatrais como A visita da velha senhora, também se destaca na literatura policial (foto: Reprodução/Internet)
Friedrich Dürrenmatt, conhecido por suas peças teatrais como A visita da velha senhora, também se destaca na literatura policial (foto: Reprodução/Internet)


O conflito que habitualmente existe entre realidade e sua representação artística sempre fascinou o escritor e dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990) – apesar de conhecido por suas peças teatrais (A visita da velha senhora é a mais notável), ele enveredou pela literatura policial, à qual conferiu um nível filosófico. É o que se observa com a chegada agora do livro A promessa / A pane, reunião de um romance e um conto, pela editora Estação Liberdade.

O que torna especial a publicação de A promessa é a possibilidade de se observar como Dürrenmatt não apenas apresenta uma trama de mistério como principalmente subverte as convenções do gênero – ali, ele desmerece o que, para muitos, é considerado um feito: a construção de uma trama perfeita. Com o subtítulo Réquiem para um romance policial, a obra – que inspirou um filme estrelado por Jack Nicholson – começa quando um escritor (o próprio Dürrenmatt) é abordado por um ex-chefe de polícia, logo depois de um debate sobre esse estilo.

“Nunca tive os romances policiais em alta conta e sinto muito que o senhor também os escreva”, diz o homem. “Em seus romances, o acaso não tem vez e, se algo parece acaso, é ao mesmo tempo destino e coincidência; desde sempre, a verdade é jogada aos lobos por vocês, escritores, em detrimento de regras dramatúrgicas.” E completa: “Vocês, da escrita, não tentam lidar com uma realidade que vive escapando entre os dedos, mas montam um mundo que é administrável. Esse mundo talvez seja perfeito, possível, mas é uma mentira.

”Em seguida, o policial oferece uma carona ao escritor na volta para Zurique e, durante o trajeto, passa a narrar a história da derrocada de Mattäi, um experiente inspetor. É aqui que Dürrenmatt se revela original, pois, após apresentar a tese que despreza a forma comum de se escrever uma trama policial, essência daquele discurso do ex-chefe, o autor suíço apresenta um exemplo do que, de fato, é um caso de suspense.Mattäi é designado para solucionar o brutal assassinato de uma menina. Trata-se da terceira garota morta em semelhantes condições e as suspeitas recaem sobre um caixeiro-viajante que, apesar das muitas evidências que o recriminam, nega veementemente.

Ele acaba preso, depois de confessar sob condições pouco lícitas. E, na cadeia, enforca-se. Mattäi, no entanto, não acredita em sua culpa e, contrariando o desejo de todos, satisfeitos com o que acreditam ser um caso solucionado, promete que vai, de fato, desvendar aquele crime.

É o início da derrocada, com o inspetor arriscando sua carreira, princípios e até a própria sanidade. É o suficiente para Dürrenmatt fazer uma reflexão sobre justiça, culpa, virtude e acaso, temas que sempre lhe foram muito caros. Mais: ao embaralhar ficção e realidade, ele propõe a discussão sobre a literatura dentro da própria obra.

APROVAÇÃO
Escritores brasileiros de romance policial, todos com obra respeitável, aplaudem a tese do colega suíço. “Considero perfeita a ponderação da personagem”, observa Alberto Mussa, autor do Compêndio mítico do Rio de Janeiro, conjunto de cinco romances nos quais investiga, por meio de histórias policiais, a confluência das tradições ameríndias, africanas e do Brasil popular na composição do imaginário e do panorama mitológico da cidade.

Pela mesma trilha segue Tony Bellotto, músico e autor de uma série de livros policiais com o detetive Remo Bellini como protagonista. “Uma das coisas que sempre me incomodaram em algumas histórias policiais foi exatamente essa necessidade de todos os fatos se encaixarem logicamente, como num quebra-cabeças. Convenhamos, nem todos nascem com o talento da Agatha Christie”, comenta ele. “Não concordo com a frase que diz que a realidade não precisa fazer sentido, mas a ficção, sim.” (Estadão Conteúdo)



A PROMESSA/A PANE
Friedrich Dürrenmatt
Petê Rissatti e Marcelo Rondinelli (tradução)
Editora Estação Liberdade
368 páginas
R$ 45


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