Na sexta-feira, fomos surpreendidos, na hora do almoço, pela notícia do rompimento de mais uma barragem da Vale, desta vez em Brumadinho. O dia amanheceu bonito, céu azul, sol brilhando, calor. Tinha tudo para ser mais um fim de semana de verão alegre de descanso. No entanto, vivemos uma tragédia, e pior de tudo, uma tragédia anunciada.
Invade-nos um sentimento estranho, esquisito, abafado. É um misto de tristeza, raiva, revolta, incredulidade e impotência, mesmo não conhecendo ninguém que estava ali. Mas quando recebemos a informação de que alguém que conhecemos mora na região e não está atendendo o telefone, o sentimento muda, acrescentando a ele o desespero da aflição e preocupação, porque o acidente fica mais próximo.
O porteiro do prédio mora em Mário Campos, a 50 metros do Rio Paraopeba. Demorou a atender o celular e dar notícias. Graças a Deus, está tudo bem.
O temor agora é por quanto tempo a água do rio, represada por essa lama, vai resistir. Ou ele vai empurrar a lama toda e inundar a região.? Uma coisa me intrigou. O sensor de risco da barragem fazia a leitura a cada 15 dias.
Tivemos três anos para tornar as leis mais rigorosas, fiscalizar mineradoras, adotar medidas e exigir ações para evitar novas catástrofes. No entanto, o antigo governo flexibilizou. Dá para entender. Infelizmente, sim. A ganância ultrapassa qualquer limite, e as pessoas que deveriam olhar por nós só olham para elas mesmas.
Na manhã de ontem, o saldo era de 60 mortos, 292 desaparecidos, 192 resgatados e 135 desabrigados, segundo a Defesa Civil.
Já estão falando dos riscos que pairam sobre Congonhas. A cidade histórica, cheia de belas peças de Aleijadinho, tem expressiva população e sofre as consequências da ação das mineradoras. Minas Gerais vive entre a cruz e a caldeirinha. Se de um lado mineradoras sustentam todos esses municípios, por outro, são elas as responsáveis por nossa destruição. O que vale mais? É possível encontrar o equilíbrio? Ainda dá tempo para remediar o irremediável.?
O que podemos fazer? Orar e pedir a Deus que não permita o rompimento de outra barragem. Ouvir o presidente da Vale pedir desculpas, dizer que esta catástrofe foi terrível – tragédia muito mais humana do que ecológica? Até hoje há famílias de Bento Gonçalves sem receber indenização. O vilarejo não foi reconstruído. Nada andou.
É possível, sim, tomar medidas que mudem essa triste realidade. Basta querer. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)
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