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'Olheiros' internacionais vêm a Tiradentes buscar filmes brasileiros

Representantes de festivais estrangeiros elogiam a originalidade de produções do Brasil, com narrativas e linguagem inovadoras. Mostra de cinema acaba neste sábado (26)


postado em 26/01/2019 05:11

A rainha Nzinga chegou: olhar renovado sobre a cultura herdada dos negros (foto: Rafael Barros/divulgação)
A rainha Nzinga chegou: olhar renovado sobre a cultura herdada dos negros (foto: Rafael Barros/divulgação)


As imagens exibidas nos telões, durante a Mostra de Cinema de Tiradentes, que será encerrada neste sábado (26), abrem janelas para filmes brasileiros em diversas partes do mundo. Programadores de festivais internacionais acompanham as sessões, atentos ao que é produzido no país.

“Estou descobrindo filmes para o Festival de Locarno, que tem a tradição de acolher linguagens cinematográficas inovadoras e produções ousadas. As palavras-chave ditas a mim pelo presidente do festival foram: ‘Surpreenda o seu público’”, conta Mathilde Henrot, programadora do Festival de Locarno, na Suíça, um dos mais importantes da Europa.

Convidados estrangeiros são unânimes em destacar a variedade da produção contemporânea brasileira, com filmes fora do eixo Rio-São Paulo. Boa parte deles vem sendo realizada em Belo Horizonte, Recife e Brasília. “Gosto da diversidade de filmes exibidos aqui: tanto de temas, como é o caso do documentário A rainha Nzinga chegou, quanto de gêneros, com o Tremor iê. Mesmo sem orçamento de um filme de ficção científica, os diretores e produtores de Tremor conseguiram criar um ambiente futurista e altamente político”, afirma Mathilde Henrot. Esse longa é dirigido por Elena Meirelles e Lívia de Paiva.

A rainha Nzinga chegou, produção de Júnia Torres e Isabel Casimira Gasparino, foi ovacionado em Tiradentes. O filme retoma a história ancestral de Isabel Casimira, rainha da Guarda de Moçambique Treze de Maio.

A curadoria da mostra mineira, ao optar pelo tema Corpos adiante, destacou sujeitos usualmente invisibilizados na sociedade brasileira e destituídos de espaços de poder apesar de serem maioria, como é o caso das mulheres, negros e LGBTs. Os programadores destacam que a característica do cinema contemporâneo brasileiro é abordar esses sujeitos não apenas como personagens, mas como corpos políticos que performam modos de vida. Esse olhar para o mundo afeta as narrativas, o que resulta em inovações na linguagem.

COPRODUÇÃO

Outra característica dessas obras é o sistema de coprodução, como é o caso de A rainha Nzinga chegou. “Há muitos filmes feitos em colaboração. Os sujeitos não são meros transmissores, mas coparticipantes no desenvolvimento da linguagem. Esse é um caminho do cinema documentário do Brasil: ser colaborativo. Isso resulta numa forma fílmica expressiva muito poderosa. É forte, vem do interior dos sujeitos”, afirma a curadora e documentarista equatoriana María Campaña Ramia, programadora no Festival de Cinema Documentário Ambulante, no México. Ela também é assessora de programação do International Documentary Filmfestival Amsterdam, na Holanda, e do festival Encuentros del Otro Cine, no Equador.

Noirblue – Deslocamentos de uma dança, dirigido por Ana Pi, chamou a atenção da crítica e pesquisadora francesa Claire Allouche. “É incrível a simbologia profunda do passado nos deslocamentos geográficos. Ela visita vários países da África e mostra a sensação de estar lá pela primeira vez. É um filme poético e político ao mesmo tempo. Mostra o potencial de um corpo se movimentar e ocupar o presente”, afirma Claire.

A francesa destaca também Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes. “O filme explora com fantasia e criatividade de outros gêneros, maneiras de reinventar o próprio corpo”, diz. A discussão vai muito além do binarismo homem e mulher.

Para a argentina Violeta Bava, consultora de programação dos festivais internacionais de Veneza e de Macau, o corpo é o lugar de maior possibilidade de resistência. “O tema Corpos adiante mostra novas possibilidades éticas, estéticas e políticas. É difícil doutrinar os corpos. O tema da mostra se refere tanto ao corpo humano quanto ao corpo de um filme. Pode ser entendido como metáfora cinematográfica, o filme como organismo vivo”, afirma Violeta.

Outra característica da produção contemporânea brasileira é a quebra de fronteiras entre gêneros cinematográficos. “Os elementos tradicionais da linguagem ficção se mesclam à realidade. Podemos ver muitas ferramentas do cinema de ficção nos documentários, que tomam emprestado elementos que pertencem às narrativas ficcionais”, afirma María Ramia.

Exemplo disso é Baronesa, da mineira Juliana Antunes, apresentado em Tiradentes no ano passado. “O filme parte de uma experiência pessoal, mas temos elementos ficcionais. Nunca saberemos quanto é ficção e quanto é real”, afirma María. Embora pareça tratar de uma realidade específica brasileira, o longa de Juliana Antunes tem muito a dizer sobre elementos comuns a países latino-americanos. “A narrativa se conecta muito à realidade mexicana, extremamente machista”, observa, citando o feminicídio nas comunidades rurais do México e o assassinato de trabalhadoras em seu país.



PROJEÇÃO

Vários filmes já exibidos em Tiradentes ganharam projeção internacional. O Festival de Cinema Documentário Ambulante, no México, apresentou Baronesa (2017), de Juliana Antunes; Híbridos: os espíritos do Brasil (2018), de Vincent Moon e Priscilla Telmon; Meu corpo é político (2017), Alice Riff; e No intenso agora (2017), João Moreira Salles. A próxima edição, em novembro, vai receber Bixa travesty (2017), de Kiko Goifman e Claudia Priscilla, que conta a história da cantora transexual Linn da Quebrada. Maria Ramía está atenta a esta edição da mostra mineira para compor a seleção do evento.

Em Tiradentes, foram discutidas estratégias para ampliar a circulação dos filmes brasileiros. Muitas vezes, eles são exibidos de forma pontual em festivais, mas não chegam ao grande público. Claire Allouche destaca a variedade da produção nacional. “Porém, muito pouco dessa diversidade circula na França”, lamenta ela, pesquisadora do cinema feito no Brasil e na Argentina.

Como nossos pais (2017), de Laís Bodansky, e Aquarius (2016), de Kléber Mendonça Filho, foram apresentados em salas francesas. Porém, Claire destaca que, geralmente, a produção brasileira exibida em seu país traz a visão de mundo da classe média. Isso representa apenas uma parte do que se filma no Brasil, onde ganha força a produção ligada às periferias e a vozes e corpos com pouca visibilidade.

Um exemplo desse cinema inventivo é Adirley Queirós, diretor de Era uma vez Brasília (2017), argumenta a pesquisadora francesa. “O cinema brasileiro não é apenas aquele produzido pela classe média e a elite. O cinema brasileiro atravessa classes sociais e se reinventa muito. Com a colaboração de amigos e vizinhos, Adirley mostra deslocamentos no jeito de morar e de projetar a vida. Ele surge da periferia não planejada pelo modernismo. Adirley é o que há de mais potente no cinema brasileiro”, conclui.

22ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
Encerramento neste sábado (26). Informações: https://mostratiradentes.com.br/programacao-geral




"O cinema brasileiro não é apenas o produzido pela classe média e a elite. O cinema brasileiro atravessa classes sociais e se reinventa muito"

. Claire Allouche, pesquisadora


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