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De bamba para bamba

Pedro Luís lança disco com canções de Luiz Melodia. Ao recriar o repertório do cantor e compositor carioca, projeto tem a missão de apresentar essa obra ímpar às novas gerações


postado em 09/01/2019 05:02

Pedro Luís,cantor e compositor(foto: Nana Moraes/divulgação)
Pedro Luís,cantor e compositor (foto: Nana Moraes/divulgação)
Pedro Luís correu um risco – e dos grandes. Desde abril do ano passado, percorre o país com um show-tributo a Luiz Melodia (1951-2017). No finalzinho de 2018, ele mandou para as plataformas digitais o disco Vale quanto pesa, com 13 pérolas do autor de Juventude transviada. Não deixa de ser uma ousadia recriar clássicos de Melodia, compositor visceralmente autoral e cantor ímpar.

Pois, como disse Adriana Calcanhotto, “cariocas nascem bambas/ cariocas nascem craques”. Pedro Luís relê clássicos de Melodia sem ranço cover, assumindo a missão de levar adiante a poesia libertária desse rebelde (com muitas causas), injustamente classificado de “maldito” da MPB por ousar desafiar dogmas, seja da indústria fonográfica, seja de rodas de samba avessas à “contaminação” da batucada por guitarras, rock, soul e afins.

Missão, sim. Pedro percebeu que jovens frequentadores de seus shows desconhecem Luiz Melodia e quer apresentá-lo às novas gerações. Diz que a obra do compositor de Pérola negra dialoga com o século 21 por seu espírito livre, desapegado de gêneros, preconceitos e estigmas.

Nos anos 1970, Melodia foi criticado por “contaminar” o samba com outras sonoridades. Certa vez, ao subir a favela para dar uma entrevista, reescreveu a pichação “Eu sou o samba” num dos muros da comunidade. Ficou assim: “Eu soul o samba”.

“Raiz” e rock and roll, Melodia afirmava: “A mim, tudo interessa”. Cultivava com esmero as imagens poéticas, observa Pedro Luís. Jamais foi panfletário. “Um intérprete de elegância congênita”, resume o cantor e compositor carioca.

Pedro chama a atenção para algo marcante na história da MPB: o olhar original e a potência poética de Melodia afloraram pouco depois da Tropicália. A obra desse bamba do Estácio trouxe laços sutis (e firmes) com o libertário movimento gerador de Alegria, alegria e Domingo no parque.

Pedro fez ampla pesquisa sobre a obra de Luiz. Observa, por exemplo, que Forró de janeiro (com Mariquita, Zé Bento, faca e sangue) remete ao triângulo José, Juliana e João do trágico Domingo no parque de Gilberto Gil. Vale destacar que o disco de estreia dele, Pérola negra, foi lançado em 1973, cinco anos depois do estouro da revolução tropicalista.

A competência de Melodia ao transitar por universos alheios impressiona, destaca Pedro. De fato, foi assim com a Jovem Guarda (a versão de Negro gato dele supera a de Roberto Carlos), com o pop de Cazuza (Codinome Beija-flor é mais de Luiz do que do próprio autor) e até com o bamba Zé Keti (são magistrais suas releituras de Diz que fui por aí e A voz do morro; esse último samba fecha o álbum-tributo Vale quanto pesa).

LIBERDADE “Fiz meu disco com a intenção de reverenciar o repertório incrível do Melodia, mas também com o propósito de buscar outros caminhos”, reforça Pedro, dizendo-se “fiel àquela liberdade que o Luiz também se dava”.

O projeto contou com o baterista Élcio Cáfaro (que tocou com Melodia), o baixista Miguel Dias e o tecladista Pedro Fonseca – os dois últimos, talentosos garotos de vinte e poucos anos. Ao lado deles, Pedro Luís se permitiu buscar outras sonoridades para o legado do autor de Estácio, eu e você.

A romântica Fadas, que Melodia gravou como choro, ganhou ares de tango-rock. A levada do reggae é muito presente no disco. Pedro, Cáfaro, Dias e Fonseca formam um “quarteto jazz-rock”, que, de forma elegante, aposta em frases transformadas ritmicamente. Também participaram do disco os convidados Felipe Ventura (arranjos de cordas), Marlon Sette (arranjos de sopros) e Milton Guedes (gaita).

O show de Vale quanto pesa é diferente daquele apresentado por Pedro Luís desde abril (veio a BH em agosto), também com repertório de Melodia. A estreia da nova turnê ocorreu no fim de 2018, no Rio de Janeiro, com belo cenário que remete às pipas da letra de Fadas. Chico Chico, herdeiro de Cassia Eller, e o rapper Mahal Reis, filho de Melodia, fizeram participações especiais. Em 5 e 6 de janeiro, o disco foi lançado em São Paulo. BH já está no radar.

DESAFIO O projeto dedicado a Melodia representou um saudável desafio para Pedro Luís, enquanto cantor. Foi assim também em 2004, quando ele dividiu os microfones com Ney Matogrosso na turnê e no elogiado disco Vagabundo, ao lado do grupo A Parede.

“Descobri que poderia ‘entregar’ de forma personalizada canções cujas versões são consideradas definitivas”, conta Pedro, citando Estácio Holly Estácio, primorosamente interpretada por Maria Bethânia, e Pérola negra, idem por Gal Costa. “Foi uma vitória ter me desafiado”, diz. Em 2015, ele gravou a ótima releitura de Hoje a amanhã não saio de casa em seu álbum solo Tempo de menino.

Vale quanto pesa não deixa de ser um projeto “da juventude”. Pedro, de 58 anos, encantou-se pelo disco Pérola negra ainda garoto, aos 12. Cismou de tirar no violão a faixa preferida, Estácio eu e você. A partir daí, enveredou “desde sempre” pelos caminhos harmônicos de Luiz Melodia. Além das plataformas digitais, o projeto rendeu compacto com quatro faixas. Em breve, o CD chegará às lojas pela Deckdisc.


Faixas

» Vale quanto pesa
» Congênito
» Juventude transviada
» Estácio, eu e você
» Pérola negra
» Magrelinha
» Abundantemente morte
» Estácio, holly Estácio
» Cara a cara
» Pra aquietar
» Objeto H
» Fadas/Passarinho viu
» A voz do morro


VALE QUANTO PESA – PÉROLAS
DE LUIZ MELODIA

• De Pedro Luís
• Deckdisc
• Disponível nas plataformas digitais
• www.deckdisc.com.br


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