(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

História antiga


postado em 08/01/2019 05:05

Elizabeth Benesch e Hans Aichinger (centro) observam padre abençoando o Bar e Restaurante Alpino no dia de sua inauguração, em 1961(foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 30/4/61)
Elizabeth Benesch e Hans Aichinger (centro) observam padre abençoando o Bar e Restaurante Alpino no dia de sua inauguração, em 1961 (foto: Arquivo EM/D.A Press %u2013 30/4/61)

No vira e mexe do princípio do ano, fui parar em velhos textos publicados aqui. Um me lembrou um belo tempo da cidade, em que BH era realmente risonha e franca e os restaurantes da cidade eram ponto de encontro de amigos. Escrito em 2006, falava do Alpino, de saudosa memória e bem importante para a geração dos anos 1960. Peço licença aos leitores para republicá-lo:

“O ambiente econômico pouco animador dos anos 1920 incentivou duas famílias austríacas a imigrar para o Brasil – a Aichinger chegou em 1921 e a Benesch, em 1927. Não eram da mesma região, mas os fados as levaram ao mesmo lugar, Rio Comprido, no estado do Rio de Janeiro. Em 1935, os jovens Hans Aichinger e Elizabeth Benesch se casaram e vieram morar em Belo Horizonte. Hans abriu uma loja no ano seguinte. Ficava na Rua Tupinambás, na esquina com Avenida Afonso Pena. Vendia produtos alemães: rádios Telefunken e Pilot e automóveis DKW. Ia tudo muito bem para o casal, ele empresário, ela de prendas domésticas, quando a guerra estourou na Europa. Os patriotas da pacata capital mineira se exaltaram: a loja do “nazista” (algo que Hans nunca foi nem de longe) acabou saqueada, e o que não deu para carregar os criminosos incendiaram.

Como se não bastasse, o jovem Hans foi recolhido, como preso político, à penitenciária de Neves, então dirigida por José Maria de Alkmin. Ficou lá alguns meses. Quando caiu a ficha e os brasileiros desconfiaram que quem fugia da Alemanha não podia ser nazista, Hans foi solto. Voltou para a mulher e para o comércio. Criou a Importadora Guarani, que vendia produtos de refrigeração, de geladeira a máquinas de fazer sorvete, pagos (quando eram) em até 18 meses. Com o dinheiro curto por causa da inadimplência dos clientes, Elizabeth deu um ultimato ao marido: ele devia deixar a mania de ser representante comercial e abrir um negócio com pagamento à vista, e que, de quebra, pudesse alimentar a família com o “estoque” encalhado. Assim chegou a comida alemã à cidade.

O primeiro restaurante do casal, Luxemburgo, tinha como sócios quatro funcionários da Mannesmann. Em pouco tempo, Hans e Elizabeth descobriram que os sócios bebiam mais chope do que todos os clientes juntos. Acabaram com a sociedade e partiram para um negócio só deles. Em 1956, abriram as portas do Alpino, na Avenida Amazonas, 119, numa loja que pertencia ao lendário Juventino Dias. A casa, bem montada e diferente das outras existentes na cidade, tornou-se conhecida pela cozinha diferenciada, onde se servia o primeiro chucrute garni da cidade, acompanhado de suculentos joelhos de porco, vindos de São Paulo diariamente, produzidos pelo Frigorífico Eder. A novidade agradou tanto ao então governador Israel Pinheiro, que, proibido por seus médicos de comer carne suína, mandava o motorista comprar os joelhos de porco e os comia às escondidas no Palácio da Liberdade.

Em pouco tempo, o Bar e Restaurante Alpino, com sua comida farta, o chope muito gelado e seu clima informal, transformou-se numa versão cabocla dos dois maiores templos da intelectualidade em Paris – o Café de Flore e o Deux Magots. Era lá que se reuniam, todas as noites, as tribos do Teatro Experimental, do Ballet Klauss Vianna, do Madrigal Renascentista, da Revista do Cinema, os jornalistas do Estado de Minas e do Diário da Tarde. As animadíssimas discussões, intelectuais e “pseudo”, viravam a noite e eram controladas pelo garçom Max, que tomava conta dos chopinhos bebidos por cada um. Na cozinha, sempre presente, dona Elizabeth mandava não só o seu excelente chucrute como imensas saladas de batata com salsichão e o fantástico bauernhfrüstück (café da manhã camponês), que só comi igual anos mais tarde, em Munique. Mas o daqui não só era melhor como, por ser muito farto, podia ser dividido entre dois comensais com muita animação e pouco dinheiro.

Da Avenida Amazonas, o Alpino se mudou para a Rua Tupinambás, levando a mesma cozinha, o mesmo chope, os mesmos frequentadores. Funcionou durante 30 anos, de 1961 a 1991. Nesse endereço, foi aberta a primeira delicatéssen da cidade, onde era possível encontrar panelas de cerâmica suíça para fazer fondue (receita pouco conhecida por aqui na época) e latas de sproten, rollmops para saladas e outras delícias. Com a morte do seu Hans e de dona Elizabeth, o restaurante passou para o filho Eberhard Hans Aichinger, que levou a casa para a Avenida do Contorno, no Carmo. A tentativa não deu certo, em 2001 o Alpino foi fechado. Na análise de Eberhard, “por causa da concorrência dos restaurantes a quilo”.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)