“Quis fazer uma peça que estudasse as diferenças entre o ‘novo’ e o ‘revolucionário’. O revolucionário nem sempre é novo, absolutamente, e o ‘novo’ nem sempre é revolucionário”, disse Oduvaldo Vianna Filho, em 1972. E você, quis fazer o mesmo com o filme? Mostrar as diferenças à luz do Brasil dos últimos anos?
Não. Eu li (e vi) na peça uma história de amor e política, em que o microuniverso da família espelha o mundo inteiro. Vianinha era um humanista, gostava de gente. Seu amor pelo ser humano, como nos grandes criadores, está acima de sua ideologia.
“O mundo mudou. Vem aí a abertura política”, diz uma das personagens. Eram tempos de esperança.
Os tempos são, como eram no fim da ditadura militar, de apreensão e também de esperança. O Brasil sobreviverá.
“Você tem que reagir.” E como o cinema brasileiro pode reagir ao crescente desinteresse do público pelas produções nacionais?
Tentando se reconectar com o público. Não para satisfazê-lo, mas para representá-lo.
Como reconstruir o diálogo entre pessoas que habitam “galáxias diferentes”, como define uma das personagens?
Talvez a mais nobre faculdade humana, aquela que nos define, seja nossa capacidade de imaginar o mundo do ponto de vista do outro. Temos que encontrar os nossos mínimos denominadores comuns, aquilo que nos une, que é muito maior do que o que nos divide. Alguém não quer melhor educação, segurança, saúde?
O pai, Custódio, que era conhecido pelo codinome Manguari Pistolão, grita para o filho: “Revolucionário pra mim já foi uma coisa pirotécnica, agora é todo dia”. Essa é a revolução possível no Brasil de 2018?
Talvez essa seja a única revolução possível em qualquer lugar, em qualquer época. Como diz Manguari ao filho, “na vida a gente tem que se encher de problemas, não fugir deles”.
Assim como o ex-militante Manguari, diante da “imensa solidão dessa gente, da imensa injustiça”, você ainda chora pelo Brasil?
Sim, eu ainda choro pelo Brasil.