Todo artista tem de ir aonde o povo está, diz a letra de Fernando Brant em Nos bailes da vida, uma das canções mais conhecidas de Milton Nascimento. Pois foi ouvindo a voz do povo que o cantor e compositor decidiu gravar seu primeiro projeto inteiramente acústico. De acordo com ele, o EP Nada será como antes (Universal), que acaba de ser lançado, surgiu de pedidos dos fãs. Nas cinco faixas, Milton está acompanhado pelo violão de Wilson Lopes, o maestro de sua banda.
O EP reúne os clássicos Clube da Esquina e Clube da Esquina 2, parcerias dele com Lô e Márcio Borges; Para Lennon em McCartney, dobradinha com Fernando Brant, Márcio e Lô; Saudade dos aviões da Panair, dele e de Fernando Brant; e Nada será como antes, parceria com Ronaldo Bastos. Nesta entrevista, concedida por e-mail, ele fala sobre o novo trabalho e comenta sua relação com a música digital.
Você lançou dezenas de álbuns marcantes da MPB. Atualmente, mudou a forma de fazer música devido à internet, plataformas de streaming e ao YouTube. Chegou a vez dos singles, EPs... Você se adequou a esse jeito contemporâneo de fazer música?
Tem um lance na minha vida e de que nunca abri mão, que é o seguinte: nunca fui obrigado a fazer nada.
Todas as canções do EP foram compostas durante ditadura militar, nos chamados Anos de Chumbo. De que forma elas dialogam com o atual momento do Brasil?
Nunca fui muito de analisar música, principalmente as minhas. Acho que isso é uma coisa que vai de pessoa pra pessoa. Minha parte é compor, depois cada um sente a música de um jeito muito pessoal. Gosto quando as pessoas vêm me contar o que sentem.
As canções do novo EP são “quarentonas”, digamos assim. Ao regravá-las, você as renovou? Acrescentou algo para que soassem, digamos, contemporâneas?
A gente não ficou pensando muito nisso não. Música, pra mim, é um lance que chega bem naturalmente. Nesse projeto, a gente apenas tocou. E deixamos que a música nos guiasse.
Como é o seu diálogo com a nova geração? Os meninos da Dônica, por exemplo, são “discípulos” seus. Jovens rappers te adoram. O mineiro Djonga “copiou” a capa do Clube da Esquina 1 em seu disco Heresia. Criolo virou seu parceiro.
Gosto de música que me emociona. Independente do gênero, se emocionar já valeu. Na verdade, essas parcerias já existem. Criolo e eu já fizemos uma turnê juntos em 2014, a Linha de frente. Depois, fizemos uma música juntos, Dez anjos, que foi até gravada pela Gal Costa. Então, acho que esse movimento já está acontecendo.
NADA SERÁ COMO ANTES
• Milton Nascimento e Wilson Lopes
• Universal
• Disponível nas plataformas digitais.