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Prova de fogo

Tensão, rigor e sigilo marcam audição destinada a selecionar músicos para duas vagas na Orquestra Filarmônica de Minas. Só uma, para oboé e corne inglês, foi preenchida


postado em 09/12/2018 05:07

Sem serem vistos, candidatos a ingressar na Filarmônica se apresentam atrás do biombo instalado no palco da Sala Minas Gerais, enquanto a banca, na plateia, ouve nota por nota(foto: Juarez Rdorigues/EM/D.A Press)
Sem serem vistos, candidatos a ingressar na Filarmônica se apresentam atrás do biombo instalado no palco da Sala Minas Gerais, enquanto a banca, na plateia, ouve nota por nota (foto: Juarez Rdorigues/EM/D.A Press)

Encerrado. Foram muitas as vezes que Karolina Lima, inspetora da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, repetiu esta palavra, na última segunda-feira. Infelizmente. Ao ouvir “encerrado”, o músico atrás do biombo que cobria a metade direita do palco da Sala Minas Gerais sabia que sua chance havia terminado. Não seria daquela vez que passaria a integrar uma das mais importantes orquestras do país.
Do lado de cá do biombo, na plateia, sete pessoas ouviam atentamente cada nota. Não sabiam o sexo, a raça ou a idade de quem estava do lado de lá. “O que a gente quer é o melhor músico. Mesmo”, afirmou Fabio Mechetti, diretor artístico e maestro da Filarmônica.

Na segunda-feira, ele comandou a banca de audição para a orquestra, que contou também com o chefe de naipe para a vaga oferecida, dois músicos da seção do mesmo naipe e três outros da mesma família de instrumentos. De manhã, foram 10 candidatos para uma vaga para segundo oboé e corne inglês. À tarde, 12 instrumentistas se candidataram para a vaga de violinista. A reportagem do Estado de Minas assistiu a todas as provas – pela primeira vez, a Filarmônica permitiu que um órgão de imprensa acompanhasse a audição.

Apenas a vaga para oboé e corne inglês foi preenchida. A paulista Maria Fernanda Gonçalves, de 35 anos, foi a selecionada. Ela assume o posto em fevereiro, quando tiver início a temporada 2019. Foi a quarta audição para a Filarmônica da qual participou.

Audições para orquestras costumam funcionar de maneira semelhante. No primeiro momento, os candidatos participam da chamada banca cega, já que tocam sem ser vistos. Aqueles que passaram para a segunda fase voltam para se apresentar, aí sem o biombo.

Não é preciso saber diferenciar dó maior de lá menor para ter uma ideia de quem estava indo bem. A banca cega para oboé e corne inglês durou 100 minutos. Durante esse tempo, não se ouvia uma palavra na Sala Minas Gerais. No palco, além do biombo, só se via Karolina Lima sentada. É a inspetora quem faz a comunicação do maestro com os candidatos. Bastava um sinal de Mechetti com as mãos para Karolina dizer ao músico que ele deveria passar para a próxima peça. Ou, então, um gesto mais curto fazia a inspetora dizer o famigerado “encerrado”.

Integrantes da banca tinham em mãos partituras das peças selecionadas, para tirar qualquer dúvida. Foram selecionados para a prova trechos de peças de Beethoven, Brahms e Debussy, por exemplo. “Cada peça visa avaliar um aspecto dos desafios que a gente tem no dia a dia. Às vezes pode haver uma musiquinha meio bobinha, meio lenta, mas ela está numa região muito grave, que é difícil afinar. Outra peça trata de afinação, outra trata da própria técnica. Você deve ter para a orquestra pessoas mais desapegadas do individualismo, que trabalham em função do todo. Não se pode ficar brincando com ritmo”, afirma Mechetti.

No caso dos candidatos para oboé e corne inglês, era preciso trocar de instrumento durante a prova. Houve músico que nem chegou a tal – o maestro encerrou uma prova com cinco minutos de apresentação. “Tem candidato que na primeira nota já mostra que não é para a Filarmônica. Ou é muito jovem, ou está nervoso. Quando a gente vê que realmente não cabe, não há por que escutar o fim”, explica o maestro.

Na parte da tarde, durante as provas para a vaga de violinista, a situação foi desanimadora. Dos nove candidatos participantes da banca cega, somente dois não tiveram a execução encerrada antes da hora (tanto que a prova durou apenas 50 minutos).

“O violino é um instrumento difícil, muito exigido na orquestra. É o que menos escola de preparo tem no Brasil. Isso não ocorre com outros instrumentos, mas as cordas em geral e o violino em particular ainda são um desafio”, explica Mechetti. Como a vaga não foi preenchida, deve haver nova audição no primeiro semestre de 2019. Até que chegue o novo violinista, serão contratados músicos avulsos.




VÍDEO Dos 90 músicos da Filarmônica, 24% são estrangeiros. Muitos candidatos a uma vaga não vêm a Belo Horizonte para o teste. Para aqueles (brasileiros e estrangeiros) que não podem estar presentes, existe a prova em vídeo. Ainda que não haja o nervosismo da audição presencial, a prova em vídeo não tem o mesmo peso daquelas ao vivo.

O EM assistiu a trechos da prova de um oboísta estrangeiro. O vídeo não pode ser editado, o músico deve tocar todo o repertório sem interrupções – dessa maneira, o vídeo assistido tinha, no total, 28 minutos.

“O som da TV é ruim, mas a gente entende o que é problema de televisão. Fora isso, ritmo, nota, não é questão de opinião. Ou a pessoa toca o ritmo e a nota certos ou não toca, tanto faz se é vídeo ou não. O que é mais ou menos subjetivo é a dinâmica, o volume em que a pessoa toca”, comenta Mechetti.

Quem é bom é bom, independentemente do formato. Em setembro, houve audição para uma vaga de viola. Ela foi preenchida por um instrumentista russo, que havia enviado a prova em vídeo.

De acordo com Mechetti, a apresentação foi “muito superior” às demais, presenciais ou em vídeo. Por causa da burocracia envolvendo o visto, o violista Mikhail Bugaev chegou na semana passada, de armas e bagagem, para morar em Belo Horizonte.


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