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Doença bíblica


postado em 08/12/2018 05:08


Família grande sem muitos casos para contar não é família grande. E lembrar todos eles é um exercício de memória. Agora que a hanseníase chegou às páginas dos jornais, com notícias de que o governo pretende dar uma grana mensal para filhos de doentes e que o problema dá um rombo danado na Previdência, me lembrei logo de um caso familiar, mais do que curioso. Naquele tempo em que as casas dos primos eram como nossas casas, a frequência não tinha qualquer cerimônia. Gostava muito de ir almoçar na casa de uma prima, era companheira de seus filhos. Comida ótima, biscoitos deliciosos, sobremesa perfeita.

E uma cozinheira, conhecida de todos, trabalhava há anos lá. Tinha um problema, a coitada: a ferida na perna que não sarava, qualquer que fosse o tratamento. Recomendado, inclusive, por um médico da família. Minha mãe, muito experiente em diagnósticos, pois acompanhava meu pai, que era médico, quis dar uma olhada na ferida da cozinheira. Deu logo o diagnóstico: “Isso não cura porque é lepra”. Criou um pandemônio, pois seu diagnóstico foi confirmado e levou todos os usuários da deliciosa cozinha a fazer exames para se livrar da preocupação do contato. Felizmente, a doença não passou nem para os patrões da moça nem para os filantes de sua comida. Pode até ser um caso raro de contágio, mas o problema era e é sério.

O Brasil está em segundo lugar global no ranking de casos de hanseníase – são cerca de 25 mil por ano, conforme o Ministério da Saúde, atrás apenas da Índia. A média mundial é de 2,9 casos por 100 mil habitantes, enquanto no Brasil é de 12,2/100 mil. Embora a doença ainda esteja cercada de preconceitos, a hanseníase pode ter cura sem sequelas e sem expor outros ao risco. “Somente 8% dos casos evoluem com sequelas incompatíveis com o trabalho, como é o caso da mão em garra, quando os indivíduos não conseguem segurar um copo, girar uma maçaneta ou manusear talheres”, explica a dermatologista e hansenologista Laila de Laguiche, membro da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH).

A falta de informações sobre a doença, aliada à dificuldade em compreendê-la e diagnosticá-la, pode fazer com que os portadores adicionem um peso à Previdência, além de sofrerem as consequências em sua qualidade de vida. Até junho de 2018, o país acumulava um déficit de R$ 90,8 bilhões nas contas previdenciárias. Somente em junho, o déficit entre arrecadação e a quantia paga em benefícios foi de R$ 14,5 bilhões, conforme o Boletim Estatístico da Previdência Social.

Apesar de ser um número pequeno dentro dos valores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a hanseníase é uma das enfermidades que concede aposentadorias e benefícios mensais aos portadores do bacilo. As indenizações são pagas pelas chamadas “legislações específicas”, que representam o equivalente a 19,4 mil benefícios, com R$ 36,3 milhões pagos em junho de 2018. Dentro desse grupo, os portadores de hanseníase alcançam 5,7 mil benefícios – 29% do total –, atingindo R$ 7,3 milhões mensais (20% do total de recursos). O valor médio das indenizações é de R$ 1.279.

A hanseníase é uma doença bacteriana, causada pelo bacilo de Hansen, que infecta o ser humano por meio das vias respiratórias, afetando sobretudo a pele e os nervos periféricos. A doença atinge outros órgãos somente em casos raros. Quando não tratada, pode levar à cegueira e incapacitação de membros superiores e inferiores, pois o paciente perde a sensibilidade, facilitando a ocorrência de traumas e lesões repetitivas.

Entretanto, estima-se que 90% dos humanos tenham a chamada imunidade nata à doença: em outras palavras, não vão jamais manifestar a hanseníase. O tratamento é feito com antibióticos – a mistura de três drogas por, no mínimo, seis meses, podendo chegar a alguns anos, dependendo da forma da doença. Após o tratamento, contudo, o paciente não pode infectar outras pessoas, embora esteja sujeito à reinfecção.


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