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A arte das tensões

Tarsila do Amaral, a modernista, de Nádia Battella Gotlib, ganha edição ampliada. Livro reconstitui vida e obra da pintora de múltiplas vivências, figura central na arte brasileira


postado em 02/12/2018 05:03

Autorretrato (manteau rouge), pintado durante a estadia em Paris, em 1923 (foto: Fotos: Reprodução/Sesc Edições)
Autorretrato (manteau rouge), pintado durante a estadia em Paris, em 1923 (foto: Fotos: Reprodução/Sesc Edições)


Quando ocorreu a Semana de Arte Moderna em 1922, durante três dias do mês de fevereiro, no Theatro Municipal. em São Paulo, a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) estava na Europa. Iria voltar para o Brasil em junho daquele ano, e ainda não conhecia Oswald de Andrade (seu futuro marido), Mário de Andrade e Menotti del Picchia, artistas que participaram da semana que mudou os rumos da cultura brasileira. Eles foram apresentados a Tarsila pela amiga e também pintora Anita Malfatti, outra artista que participou do evento no Municipal.

“Depois de uma permanência de dois anos na Europa, de lá voltei trazendo uma caixa de pintura com muitas tintas bonitas, muitos vestidos elegantes e pouca informação artística”, confessaria Tarsila em dos textos do catálogo da sua primeira retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1950, reproduzido no livro Tarsila do Amaral, a modernista, de Nádia Battella Gotlib, originalmente lançado em 1997 e que ganha nova edição revista e ampliada pela autora e publicada pela Edições Sesc.

Juntamente a Tarsila: Sua obra e seu tempo (1975), o estudo pioneiro da crítica de artes Aracy Amaral, o livro de Nádia busca dar ênfase na produção artística da pintora modernista e sua relação com as manifestações estéticas presenciadas por ela. “Procuro, nesse percurso de leitura, deter-me sobretudo nos anos 1920, quando tais pendores modernistas se concretizam em arte pau-brasil e antropofagia”, escreve Nádia na introdução do livro

Filha de uma tradicional família paulistana do interior, Tarsila nasceu em Capivari, na fazenda do clã. Fez sua primeira viagem para Europa em 1902, quando foi estudar com uma irmã no Colégio Sacré Couer, em Barcelona, Espanha. Foi nessa escola que ela fez seu primeiro desenho, Coração de Jesus. “Quando frequentei o Colégio de Barcelona, era bem pequena ainda e não sabia absolutamente desenhar”, recordaria, anos depois.

O livro Tarsila do Amaral, a modernista traz cartas, desenhos, entrevistas e depoimentos da pintora, além de reproduções de algumas de suas pinturas mais importantes que abarcam as três principais fases de sua obra tão múltipla de referências e movimentos artístico – pau-brasil, antropofágica e social.

São dessa primeira fase Pau-Brasil – iniciada junto ao convívio com o seu segundo marido, o poeta e escritor Oswald de Andrade (1890-1954) – os quadros Carnaval em Madureira (1924) e A feira II (1925). A capa do livro de poesia do seu marido, Pau-brasil, foi feita por ela.

A pintora tinha voltado para Paris em 1923, para estudar e conviver com artistas como André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger. Assim como a viagem realizada entre 1920 e 1922, Tarsila teve contato com os movimentos artísticos e de vanguarda que ocorriam na efervescente Paris naquela década, entre eles, o Cubismo e o Surrealismo.

Mas é no Brasil – numa viagem que faz com Oswald, Mário, Olívia Guedes Penteado e o poeta Blaise Cendrars pelo carnaval carioca e às cidades históricas de Minas Gerais – que a pintura da artista ganharia os contornos da cultura brasileira associados às técnicas geométricas e de formas cubistas aprendidas por ela nos anos em que morou na Europa.

“Nesse livro, examino alguns dos aspectos dessa ‘personalidade artística’, procurando acompanhá-la em sua vida cultural, marcada por uma atitude de inquietação, sempre à procura de novos objetos e modos de expressão, e por um comportamento de mulher tranquilamente firme em seus propósitos”, exemplifica Nádia sobre a busca artística de Tarsila do Amaral.

Uma busca feita de tensões entre a sua origem caipira do interior de São Paulo e o convívio com as manifestações artísticas mais importantes dos anos 1920 na Europa, em particular em Paris, na França.

Tarsila casou-se quatro vezes, teve uma única filha, Dulce, do seu primeiro casamento com André Teixeira Pinto, que era contrário à sua dedicação à pintura. Ela se separaria dele logo depois, causando escândalo na família. Com Oswald de Andrade, Tarsila desenvolveria duas das três principais fases de sua pintura, além da pau-brasil, a antropofagia, nascida depois que ela presenteou o marido com seu quatro mais famoso, Abaporu (1928).

A outra fase importante da artista foi nos anos 1930, quando já estava casada com o psiquiatra socialista Osório César e empreenderia com ele uma viagem à antiga União Soviética, que lhe colocou em contato com as classes operárias e o socialismo – chegou a trabalhar como operária da construção civil. Dessa fase social, ela faria os quadros Operários (1933) e Segunda classe.

No final da vida, nos anos 1970, Tarsila do Amaral, já separada do seu último marido, o escritor Luís Martins, amargava o envelhecimento em cima de uma cadeira de rodas, fruto de uma operação mal-sucedida da coluna, e a perda da única filha, Dulce, que morreu em 1966, de diabetes – sua única neta, Beatriz, de 15 anos, tinha morrido afogada em 1949. Nessa fase, agora não mais artística, mais de vida, Tarsila, ainda altiva, aderiu ao espiritismo e chegou a trocar cartas com Chico Xavier. Morreu de depressão, em 7 de janeiro de 1973.

TARSILA DO AMARAL, A MODERNISTA
. De Nadia Battella Gotlib
. Edições Sesc
. 240 páginas
. R$ 100





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