Nos bastidores de Acredite,
um espírito baixou em mim
Mantendo sua posição de primeira colocada na venda de ingressos da Campanha de Popularização Teatro & Dança, a peça Acredite, um espírito baixou em mim ainda é um assombro, mesmo 20 anos depois de sua estreia nos palcos. As teorias para explicar o sucesso são as mais variadas. Há quem aposte na simplicidade do texto de Ronaldo Ciambroni, na direção de Sandra Pêra ou simplesmente na empatia de Ílvio Amaral e Maurício Canguçú com o público, ao contarem a história de um gay que, inconformado com a sua morte, não quer arredar os pés da Terra. Nessa nova temporada, o elenco conta com Bruno Albertini, Fabrizio Teixeira, Carolina Cândido e Marino Canguçu.
Depois de duas semanas no Cine Theatro Brasil, a montagem segue a partir de quinta-feira para o Teatro Sesiminas e continua, às segundas, no Teatro Estação Cultural, onde fica até o fim da Campanha, dia 4 de março. Mas a trupe não para e ainda em março segue para o Teatro Raul Belém Machado, no bairro Alípio de Melo, onde Maurício, Ílvio e Carolina estarão em cartaz também com Essa herança é minha comédia dirigida por Fred Mayrink, além de Acredite...
A coluna acompanhou a sessão da sexta-feira passada, no Cine Brasil, e ainda não conseguiu chegar a uma conclusão sobre o porquê de tamanho sucesso, mas reconhece que o que se passa nos bastidores é muito trabalho, profissionalismo e, claro, com bom humor e diversão.
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“Boa noite, Farofa, que hoje vai fazer o Vicente!”. Com a saudação, seguida de uma gargalhada, o ator Fabrízio Teixeira foi recebido por Maurício Canguçu em um dos camarins do Cine Brasil. Assustado, mas sem perder o humor, o rapaz só entendeu a brincadeira ao perceber que, na última hora, houve mudança no elenco da peça.
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Horas antes, Ílvio Amaral já havia se queixado de uma reação alérgica a um remédio que ingerira havia poucos dias. Mesmo assim, o ator ainda se manteve a postos e seguiu com sua rotina antes do espetáculo.
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Ílvio tentou, mas, depois de alguns calafrios, a opção foi seguir para o pronto atendimento de um hospital. Foi só um susto. O ator manteve seu compromisso com a emissora carioca, e as duas sessões da outra comédia em Belo Horizonte estão garantidas.
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Com o elenco reunido e dividido entre os dois camarins, a trupe não perdeu tempo. Faltando pouco menos de uma hora para a cortina se abrir, o movimento foi acelerado.
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Dentro do camarim existem alguns ritos. Na bancada de Ílvio, por exemplo, ele monta um pequeno altar com imagens dos santos de sua devoção, como Nossa Senhora Aparecida e São Judas, além de presentes recebidos por pessoas muito queridas por ele. Tudo envolto por um rosário.
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Outra das superstições é que o ator Marino Canguçu acompanha o intérprete de Loló até sua entrada em cena – que se dá pela plateia. No caso do Cine Brasil, Marino precisa ser esperto para pegar o elevador no andar do camarim, descer dois andares até a entrada do teatro e fazer o percurso de volta a tempo de não se atrasar para sua primeira cena no espetáculo, ao lado de Maurício.
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Embora Maurício se dissesse ansioso por causa das mudanças de última hora, era difícil acreditar nessa tensão. Tranquilo, ele ainda conversou enquanto aguardava o terceiro sinal. Contou que iria justificar a ausência de Ílvio para o público somente no final da apresentação. “Tenho medo da reação das pessoas.”
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Da cochia não foi difícil perceber que, de cara, Maurício colocou a plateia nas mãos. O público gargalhava sem parar. Lá atrás, nos bastidores, o elenco não parava, ora se revezando na produção de efeitos especiais, ora passando trechos das cenas seguintes. Na correira entre uma troca de roupa e outra, 40 minutos depois do início da peça, Maurício vibrava na cochia.
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A noite não acabou com os aplausos finais. O elenco ainda foi para fora do teatro, onde posou com fãs. A fila para fotos durou mais de meia hora. Mas fez a felicidade de Maria Bernardes Pacheco, uma das veteranas na plateia do Espírito. Ela mora no Barreiro e calcula ter assistido à peça pelo menos 20 vezes, desde 2008. “Sempre tive vontade de fazer foto com eles e desta vez consegui”, comemorou, ao lado de Pedro Apolinário, que apontou o que considera o segredo do sucesso da montagem: “Eles têm espontaneidade. Sempre tem coisa nova”.
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