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SENHORA DO TEMPO

Exposição Aretuza Moura, que será aberta hoje na Galeria Genesco Murta, reúne desde obras que a artista produziu nos anos 1980 com materiais descartados pela cidade até instalações para Marielle Franco


postado em 07/11/2018 05:05

Obras de Aretuza Moura reunidas em exposição sob a curadoria de Marcos Hill(foto: Fotos: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)
Obras de Aretuza Moura reunidas em exposição sob a curadoria de Marcos Hill (foto: Fotos: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)
    






























Chegar aos 90 anos é um privilégio para poucos. Fazer isso com lucidez e vitalidade para continuar exercendo com excelência seu ofício é motivo de alegria não apenas para a própria Aretuza Moura, mas também para o público, que pode continuar apreciando seus trabalhos. Nesta quarta-feira (7), o Palácio das Artes inaugura exposição dedicada à obra da artista plástica mineira na Galeria Genesco Murta. Reunindo pinturas, esculturas, gravuras e assemblages, a seleção mostra, que do alto de suas nove décadas de vida, ela continua atenta e sensível ao impacto dos acontecimentos cotidianos em seu processo criativo.

Responsável pela curadoria da mostra, o professor e artista Marcos Hill se aproximou de Aretuza na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde ela cursou uma especialização. Segundo Hill, a exposição é fruto de uma admiração não apenas artística, mas também pessoal. “Ela demonstra garra e disponibilidade constantes na busca e na produção do conhecimento”, afirma. “Isso foi, na verdade, o que primeiramente me cativou, desde os primeiros contatos. Daí em diante, a convivência que estabelecemos me levou cada vez mais a me tornar íntimo do trabalho dela, muitas vezes, vendo obras juntos, na casa dela. Então, o que se consolida hoje com a exposição é fruto de uma relação de amizade e admiração.”

Hill explica que a seleção feita no acervo da artista, natural de Corinto, também foi guiada pelo afeto. “A exposição talvez possa ser considerada como um único trabalho. São fragmentos de uma única obra”, pontua o curador. A mostra vai além do caráter retrospectivo por apresentar criações inéditas e em relação direta com os dias atuais.

SURPRESA “O público vai encontrar uma surpresa. São muitas instalações. A tridimensionalidade começou a encantar Aretuza na década de 1980 e dirigir sua atenção para uma materialidade abandonada. Ela encontra nesse ambiente seu principal campo de especulação e exploração. A marca dela é essa – de uma mulher contemporânea, muito presente no seu próprio tempo, muito atenta e trazendo para o campo da arte suas percepções para questões que o próprio tempo lhe oferece”, avalia Hill.

Se a sustentabilidade e o reaproveitamento dos rejeitos materiais das grandes cidades são preocupações recentes, atribuídas às novas gerações, para Aretuza isso está na base de sua arte. Boa parte das obras tem como matéria-prima papelões, panos velhos, sacolas, vergalhões, barris e caixotes, entre outros materiais que ela coleta nas ruas de Belo Horizonte. “Desde 1986, trabalho com lixo e objetos encontrados. Duchamp usou coisas já feitas, como a Roda de bicicleta (1916) e o mictório (instalação A fonte, de 1917); eu trabalho com a antiarte, a arte rejeitada, muitas coisas com plástico”, explica a artista, que considera a reutilização de recursos uma urgência do mundo contemporâneo.

Além dessa tendência, fatos recentes também estão presentes nas criações de Aretuza. “A pessoa é um ser político, ou seja, temos que pensar no outro. Procuro colocar no meu trabalho o que vem acontecendo. Procurei fazer mais instalações dentro de coisas de que gosto. Fiz duas para (a vereadora assassinada) Marielle Franco, por exemplo, uma com papel do Nepal sobre plástico e outra em tela pintada. São assuntos palpitantes de que gosto de tratar”, afirma.

Gravadora, pintora, artista plástica e professora, Aretuza estudou na Escola de Belas Artes da UFMG e formou-se em artes plásticas pela Fundação Escola Guignard. Cursou especialização em museologia no Museu Mineiro e tem uma galeria com seu nome no Centro Cultural UFMG, no Centro de BH. Também dedicou cinco anos de sua vida a dar aulas no Centro de Convivência do Barreiro, o que ela aponta como diferencial em sua carreira artística. Ela não expunha no Palácio das Artes desde 2007, quando realizou a mostra Trans-tempo. “Para mim, é muito importante essa exposição, pela minha idade e pelas coisas que venho fazendo, procurando me situar dentro da arte contemporânea.” Aretuza também deverá ver parte de sua obra ser reunida este ano num livro com textos de Marcos Hill e organização de seu filho Vitor Moura.

Aretuza Moura
Exposição de obras da artista. Abertura nesta quarta (7).  Galeria Genesco Murta – Palácio das Artes ( Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). De terça a sábado, das 9h às 21h; domingos, das 16h às 21h. Até 10/2/2019. Entrada franca. Mais informações: (31) 3236-7400.


Três perguntas para...
Aretuza Moura
Artista

Qual é o seu segredo para continuar se inspirando e criando aos 90 anos?
Consegui conservar uma juventude dentro de mim. Meu olhar é jovem e curioso. O artista tem que ter uma emergência de fazer, uma urgência. Se não, ele morre. Mas tudo isso se junta à minha formação, que foi por meio  de livros, de cursos que procurei. O artista tem que manter uma garra, uma força e uma visão abrangente do mundo. Leio jornal, vejo TV, vou ao cinema – ontem mesmo vi o filme sobre o (ex-presidente uruguaio José) Mujica (Uma noite de 12 anos). Mas minha formação é toda com livros; estudei Duchamp, Picasso, fui seguindo tudo isso. Gostava de um livro, comprava. E aí a gente não para mais.

Esta exposição reúne trabalhos desenvolvidos por mais de 30 anos e muitas das matérias-primas deles são materiais rejeitados pela cidade. Acha que essas obras ajudam a entender um pouco melhor Belo Horizonte? O que procura transmitir com elas?
O artista tem que acompanhar o tempo; ele é uma projeção de si mesmo. Quando ele se expõe, mostra tudo o que acha. Sobre o uso desses materiais, acho importante demais. Isso vai ensinando ao povo que tudo é aproveitável e sobre a necessidade de uma economia das coisas, da comida e da água. O país e o mundo passam por mudanças enormes. Tem um pedaço da exposição em que falo sobre refugiados, pessoas que estão saindo do lugar onde vivem por causa da guerra e de outros problemas. É um conjunto de reflexões, como se fosse uma performance da vida, com toda a liberdade que a arte pede, como diria o Mário Pedrosa.

Sua formação acadêmica é rica. Vivemos hoje no Brasil uma circunstância em que as universidades são colocadas em xeque por setores mais conservadores da população e a arte também vem sendo atacada. Qual a importância de se preservarem ambientes favoráveis à efervescência artística, como são as universidades?
A cultura é essencial para o povo. Um povo sem cultura perde tudo. Estudei arte na UFMG e na Guignard, também tive contato com a filosofia na UFMG. Fiz mestrados que foram importantíssimos para mim, com professores muito capacitados. As universidades têm que ter liberdade de manifestação, é sempre importante, subjetivamente falando. Não tenho partido político nenhum. Pela minha idade, estou fora disso, mas ideais de liberdade tenho vários. Por isso tenho trabalhos sobre Mandela, Malala, entre outros heróis e heroínas da liberdade.


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