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QUE PAÍS É ESTE?

Com um protagonista que vive em BH e vai do entusiasmo à desilusão política entre as Diretas-Já e o processo de impeachment de Dilma Rousseff, O Brasil e as batalhas de Quixote questiona a história recente do País


postado em 03/11/2018 05:07

(foto: ARQUIVO PESSOAL)
(foto: ARQUIVO PESSOAL)


Quando se deparou com moinhos de vento, Dom Quixote de La Mancha enxergou gigantes travando batalhas com inimigos que não existiam. A saga criada por Miguel de Cervantes, em um dos maiores clássicos da literatura mundial, foi transposta para o Brasil contemporâneo pelo historiador e cientista político Marcelo Douglas, que lança seu primeiro romance, O Brasil e as batalhas de Quixote (Editora Ramalhete). Gestor no Ministério do Planejamento, Marcelo publicou vários livros na área administrativa e estreia na literatura.

O Brasil e as batalhas de Quixote conta a trajetória de desilusões de Maurício, que, como ele, também é historiador e cientista político, no período compreendido entre as diretas-já, em 1984, e os protestos pela deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Todo a trama se passa em Belo Horizonte, uma homenagem que o autor presta à capital mineira. Quando vai aos comícios que pediam a redemocratização, Maurício sonhava com um país mais justo, entendia que a participação popular era o caminho para a transformação e via-se como cidadão implicado na mudança dos rumos. Três décadas depois, ele volta às ruas, mas sem a esperança de outrora. “Na juventude, sonhava com a retomada da democracia. Já em 2016, Maurício desce a Avenida Nossa Senhora do Carmo conduzido pelos acontecimentos. Vai desiludido e com apatia à política. A trajetória de participação dele retrata sua expectativa em relação ao país, que se frustrou”, diz Douglas.

O futuro promissor da nação – não concretizado conforme Maurício sonhou – reflete também uma derrota pessoal. Em paralelo ao engajamento de Maurício como cidadão, o livro narra como o personagem lida com questões da esfera íntima, em especial a carreira. “No mundo corporativo, ele tem dificuldade de deslanchar. A vida profissional é uma gangorra”, descreve o autor.

A trajetória de desilusões do protagonista coloca em foco as mazelas de seu país. “Será que a sociedade brasileira não está em uma batalha imaginária com inimigos que não existem, em vez de atacar o clientelismo? O personagem reflete se estamos na trincheira certa. Quem sabe não estamos num transe coletivo, e a sociedade não quer mudar de fato, ficando todos condenados a ficar desse jeito?”

BATALHAS
Marcelo Douglas observa que Dom Quixote enfrentava batalhas imaginárias, mas os resultados da luta eram reais e atingiam fisicamente o corpo do herói, que saía machucado dos confrontos.“Depois das batalhas, Quixote ficava com o corpo todo quebrado. O Brasil está buscando batalhas imaginárias, mas os estragos são reais. O país está muito derrotado.”

O paradoxo é que o personagem é alheio à realidade, mas tem consciência de que a transformação vem da participação do cidadão. “Por um lado, ele é chamado a participar. De outro, sente-se enojado e desencantado com a política.”

Como o romance transita entre ficção e realidade, apresentar o contexto social e político brasileiro com precisão torna-se um imperativo. O escritor recheia o romance com dados históricos e usa artigo publicado por ele no Estado de Minas, em 7 de abril de 2003, analisando os primeiros 100 dias da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Maurício recorre à poesia, tomando de empréstimo versos de João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.

O romance adota uma visão desesperançada em relação à política. No entanto, o autor demonstra que os cidadãos são corresponsáveis pelos rumos da nação. “A sociedade brasileira cobra do Estado, do sistema partidário, mas, no cotidiano, assume atitude precária. Esse questionamento é muito forte. Temos cidadãos precários que cobram democracia sofisticada. A matéria-prima da democracia é o cidadão. O personagem questiona tudo isso”, afirma.

Marcelo Douglas atuou como professor na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e na Fundação João Pinheiro. O romance demonstra a situação angustiante na qual o país está imerso. “Estávamos diante de uma escolha de Sofia, uma escolha triste. De um lado, um projeto com pouco apreço às instituições e de outro lado, um projeto de muito apreço à corrupção e à falta de ética. Agora, é hora de tentar olhar para a frente. Essa renovação pode ser boa. É hora de pacificar o país. É o momento de fazer algo positivo com as pessoas e instituições que temos.”

 A sociedade brasileira cobra do Estado, do sistema partidário, mas, no cotidiano, assume atitude precária. Esse questionamento é muito forte. Temos cidadãos precários que cobram democracia sofisticada. A matéria-prima da democracia é o cidadão. O personagem questiona tudo isso”

Marcelo Douglas,escritor

Guimarães na Global

Depois de meses de negociação, o grupo editorial Global assinou nesta semana contrato com os herdeiros de João Guimarães Rosa (1908-1967) para a publicação da obra completa do autor – com exceção de Grande sertão: veredas, que sairá pela Companhia das Letras em fevereiro. A Companhia também estava na disputa por esse contrato maior, bem como Todavia e Rocco.

Casa de autores como Cecília Meireles, Cora Coralina, Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, entre outros, a Global começa a lançar em março suas edições, sempre com fortuna crítica e cronologia. Sagarana será o primeiro. A lista segue com Primeiras estórias, Zoo e Fita verde no cabelo (infantis), A hora e a vez de Augusto Matraga, Manuelzão e Miguilim e outros.

“Quando cerca de 50% da obra estiver publicada em edições individuais, o que deve demorar dois anos no máximo, começamos a preparar o volume da obra completa para sair pela Nova Aguilar com Grande sertão: veredas inclusive”, afirma Luiz Alves Júnior, fundador da editora. “Ganhamos pelo trabalho que fazemos, não pela proposta financeira – embora ela tenha sido alta. Mas é compensador.” A obra de Guimarães Rosa é dividida entre três herdeiros. Um deles, porém, é o único dono de Grande sertão: veredas. (Estadão Conteúdo)

 

 

O Brasil e as batalhas de Quixote
De Marcelo Douglas de Figueiredo Torres
Editora Ramalhete
(194 págs.)
R$ 40


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