Jornal Estado de Minas

AQUECIMENTO GLOBAL

Esquilos-do-ártico e mudança climática: fêmeas saem da hibernação mais cedo

Durante o severo inverno do Alasca, os esquilos-do-ártico se enterram no solo e iniciam um período de hibernação de oito meses, ressurgindo apenas na primavera, famintos e prontos para procriar. Contudo, cientistas identificaram uma consequência inesperada das mudanças climáticas para essa espécie: à medida que as temperaturas sobem, as fêmeas estão saindo da hibernação cerca de 10 dias mais cedo do que há 25 anos, enquanto os machos não demonstram a mesma mudança.





De acordo com um estudo publicado na revista Science, os machos, que antes saíam da hibernação um mês antes das fêmeas, não estão acordando mais cedo, o que pode gerar problemas no processo reprodutivo desses animais. Esse intervalo entre machos e fêmeas está diminuindo, e, caso continue assim, é possível que as fêmeas estejam prontas para acasalar antes dos machos estarem preparados para a reprodução, alerta o biólogo Cory Williams, da Colorado State University, um dos autores do estudo.

Os esquilos-do-ártico possuem adaptações especiais para sobreviver ao rigoroso inverno. Eles hibernam por cerca de oito meses, em buracos de aproximadamente um metro de profundidade, localizados nas margens arenosas dos rios, logo acima do permafrost da tundra. Nesse período, suas temperaturas corporais caem drasticamente, chegando a quase -3 °C, o menor valor registrado em mamíferos, e suas funções orgânicas, como cerebrais, pulmonares e cardíacas, diminuem significativamente em um estado chamado 'torpor'.

Os pesquisadores analisaram dados de temperatura do ar e do solo em dois locais e de 199 esquilos durante esse período. Constataram um aumento na temperatura ambiente, como esperado em uma região que enfrenta um aquecimento quatro vezes maior do que a média global devido às mudanças climáticas. Observaram também uma alteração no ciclo de congelamento e descongelamento do solo, com o solo congelando mais tarde e descongelando mais cedo, explica Williams.





Essa mudança climática afetou os esquilos de duas maneiras: as fêmeas encerraram a hibernação mais cedo, seguindo o degelo precoce da primavera, e, mesmo entrando em hibernação ao mesmo tempo que antes, o momento em que suas temperaturas corporais centrais caíram abaixo de 0 °C foi atrasado. A razão pela qual esse efeito ocorre apenas nas fêmeas ainda não está completamente esclarecida, mas os cientistas têm hipóteses. Uma delas é que o aumento dos níveis de testosterona nos machos, que ocorre quando se preparam para se reproduzir, faz com que o fim da hibernação seja fixo, enquanto as fêmeas parecem ser mais sensíveis às condições ambientais.

Há vantagens e desvantagens nessa hibernação mais curta para as fêmeas. Por um lado, elas retornam com mais massa e conseguem coletar recursos antes, o que pode resultar em ninhadas mais saudáveis e maiores taxas de sobrevivência. Por outro lado, ficam expostas aos predadores por mais tempo e enfrentam possíveis alterações nas interações sexuais. Além disso, pode haver impactos indiretos na cadeia alimentar, caso os predadores dos esquilos se ajustem à disponibilidade antecipada de presas.

Ainda é cedo para determinar quais serão os impactos gerais dessas mudanças, mas o estudo mostra como o clima pode afetar diretamente um ecossistema em um período relativamente curto, destaca a pesquisadora Helen Chmura, do Serviço Florestal do Departamento de Agricultura dos EUA.