Jornal Estado de Minas

ASTRONOMIA

Cientistas acham planeta gigante em área rodeada de estrelas destrutivas

Ele não deveria existir, e, ainda assim, "b Cen (AB)b", um planeta gigante do tipo super-Júpiter orbita um sistema estelar muito massivo na constelação de Centauro, de acordo com um estudo divulgado na revista Nature. O par de estrelas, apelidado de "b Cen", pesa muito, com uma massa de seis a 10 vezes à do Sol. Até agora, nenhum planeta havia sido detectado em torno de um sistema estelar de mais de três massas solares.





Essas estrelas "formam um ambiente considerado bastante destrutivo e perigoso, a ponto de ser considerado muito difícil para grandes planetas se formarem", explica o astrônomo Markus Janson, da Universidade de Estocolmo e principal autor do estudo publicado, coordenado pelo Observatório Europeu Austral (ESO). A mais brilhante das estrelas gêmeas "b Cen" - cerca de 325 anos-luz da Terra - irradia a uma temperatura de superfície estimada em mais de 18 mil graus Celsius, mais de três vezes à do Sol.

Quando o Sol ainda estava em formação, seu disco protoplanetário, uma nuvem de gás e poeira, viu a formação de planetas, com Júpiter à frente, por aglomeração de poeira. Seu núcleo rochoso, então, acretou o gás que hoje forma a atmosfera do planeta mais massivo no Sistema Solar.

Mas estrelas como a "'b Cen' são tão quentes e brilhantes que sua luz sopra a matéria ao redor delas e não há o suficiente para formar um núcleo rochoso nas proximidades, explicou à agência France-Presse de notícias (AFP) o astrônomo Gaël Chauvin do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) e coautor do estudo.





Então, "qual é o mecanismo de formação do planeta em ação em um ambiente tão hostil, devido à radiação muito forte?", questiona o pesquisador. Segundo ele, se a teoria tornava a formação de um planeta em torno de uma estrela massiva dificilmente crível, ela foi "superada pela observação". A saber, pelo Very Large Telescope do ESO, no Chile, e seu instrumento SPHERE.

Gigante gasoso

O "b Cen (AB) b" pertence à mesma espécie de Júpiter, a dos gigantes gasosos, mas tem quase 11 vezes sua massa. Acima de tudo, a distância que o separa de seu par de estrelas é colossal, 100 vezes a que separa Júpiter do Sol. Em primeiro lugar, foi necessário garantir que, apesar da distância, o astro estava de fato em órbita em torno das estrelas de "b Cen".

Um trabalho de arquivo constatou que o planeta tinha sido observado, mas não identificado como tal, por um pequeno telescópio do ESO, há 20 anos. A comparação com 2000 confirmou o movimento próprio do planeta e mostrou que ele se movia da mesma maneira que sua estrela hospedeira. Então, em órbita.

O "b Cen (AB) b" poderia ter formado um núcleo rochoso por aglomeração de poeira a uma distância suficientemente grande de seu par de estrelas, ou então por um fenômeno de instabilidade gravitacional, em que parte da nuvem de poeira repentinamente desabou sobre si mesma. A busca por respostas apenas começou. A equipe internacional de Markus Janson tentará conhecer a composição química do planeta. Isso pode apontar para um cenário mais claro. A resposta virá dentro de alguns anos.




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