Jornal Estado de Minas

ASTRONOMIA

Segundo estudo, não há água suficiente para ter vida em Vênus

A vida humana não pode existir em Vênus, anunciaram os autores de um estudo publicado, nesta segunda-feira (28/6), na revista Nature Astronomy. No artigo científico, os especialistas mostram que a disponibilidade de água nas nuvens do planeta mais próximo da Terra é menor do que a quantidade necessária para que seres vivos possam habitá-lo. A conclusão é diferente do que foi anunciado recentemente por cientistas britânicos: em setembro, eles afirmaram ter detectado um gás provavelmente relacionado a uma forma viva em Vênus.





Os autores da nova pesquisa explicam, no artigo, que o planeta é semelhante à Terra de diversas maneiras, incluindo o tamanho e a massa, mas difere pela alta temperatura de superfície (470ºC) e pela atmosfera de gás carbônico a 97%, condições não muito propícias à vida. No estudo, os especialistas resolveram avaliar também a disponibilidade da água do planeta, que é “fabricada” nas nuvens. “A atividade de água de um ambiente pode afetar consideravelmente os organismos, incluindo aqueles que são capazes de viver em ambientes extremos, conhecidos como extremófilos”, justificaram.

A equipe calculou atividade da água nas nuvens de Vênus e de outros planetas do Sistema Solar. Para isso, foi usada uma escala de 0 a 1, como um parâmetro equivalente à umidade relativa. Segundo o artigo, estudos mostram que a vida requer uma atividade de água de pelo menos 0,585 para que ocorram o metabolismo e a reprodução. A análise mostrou que as altas concentrações de gotículas de ácido sulfúrico reduzem a quantidade de água presente nas nuvens de Vênus para abaixo de 0,004, mais de 100 vezes menos do que o limite para a vida ativa.

“Comparativamente, a atividade representativa da água nas nuvens de Marte é 0,537, que está ligeiramente abaixo da faixa habitável para a vida é semelhante à da segunda camada, ou estratosfera, da atmosfera da Terra. Não há vida ativa possível em Vênus”, declarou, em coletiva de imprensa, o microbiologista John Hallsworth, principal coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Queens Belfast, no Reino Unido.





Fosfina

Em setembro, a astrônoma britânica Jane Greaves anunciou que havia descoberto fosfina em camadas de nuvens de Vênus. Como na Terra, a fosfina provém da atividade humanas ou microbiana. A descoberta abalou a comunidade científica, já que se tratava de um indício de existência de vida no planeta vizinho. Porém, especialistas começaram a questionar a observação e o método usado para estabelecer a presença do gás.

“Embora a equipe da professora Greaves tenha revisado a quantidade do gás que havia dito ter detectado, não há um consenso firme na comunidade científica de que o sinal detectado é realmente fosfina”, explicou Chris McKay, coautor do estudo divulgado ontem e astrofísico da agência espacial americana, a Nasa. “O micróbio mais tolerante à seca não teria tido uma única chance nas nuvens de Vênus, e o mais tolerante a um ambiente ácido menos ainda”, acrescentou Hallsworth. A aposta é de que as três sondas que estão programadas para explorar o planeta até 2030 confirmem os dados existentes de temperatura, pressão e água, e ajudem os especialistas a chegarem a um consenso.

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