Jornal Estado de Minas

PALEONTOLOGIA

'Besta louca' que habitou Brasil: patas de crocodilo e dentes de coelho

Há 66 milhões de anos, quando os dinossauros ainda viviam sobre a Terra, um mamífero bizarro vivia no então existente supercontinete de Gondwana, que reunia o que é hoje a América do Sul (logo, o Brasil), a África, a Austrália, a Antártica, o subcontinente indiano e a Península Arábica.





Por reunir traços tão peculiares, o animal recebeu o nome científico de Adalatherium, que significa "besta louca", em uma junção do grego com o malgaxe, a língua falada em Madagascar, onde um fóssil quase completo foi descoberto. A descrição desta espécie, que ajudará a entender melhor a evolução dos mamíferos e, consequentemente, do ser humano, foi apresentada nesta sexta-feira (18/12) na revista especializada Journal of Vertebrate Paleontology.

Entre as características descritas como bizarras pelos cientistas que o estudaram por 20 anos estão: uma quantidade de vértebras maior que a vasta maioria dos mamíferos; membros posteriores musculosos e abertos, que lembram os dos crocodilos; patas dianteiras posicionadas sob o corpo, como as da maioria dos mamíferos atualmente; dentes frontais de coelho; e uma estranha lacuna nos ossos do topo do focinho.


"Sabendo o que nós sabemos sobre a anatomia esquelética de todos os mamíferos, vivos ou extintos, é difícil imaginar que um mamífero como o Adalatherium pudesse evoluir. Ele entorta ou até quebra muitas das regras da evolução", afirma, em um comunicado à imprensa, David Krause, líder da pesquisa e cientista do Denver Museum of Nature & Science.





Quebra-cabeça

"Ele é simplesmente estranho. Entender como ele se movia, por exemplo, foi desafiador, porque a parte anterior de seu corpo conta uma história totalmente diferente da de sua parte posterior", complementa Simone Hoffmann, do New York Institute of Technology, outra autora do estudo, que reuniu mais 12 especialistas. Segundo Hoffmann, a "besta louca" reunia tanto características de mamíferos cavadores quanto de animais capazes de correr velozmente.

Segundo a cientista, o Adalatherium ajudará a entender melhor como os mamíferos evoluíram. "É uma importante peça do imenso quebra-cabeça da evolução inicial dos mamíferos do Hemisfério Sul, do qual muitas peças ainda faltam", diz Hoffmann.

audima