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Estado de Minas SAÚDE

Mutações do vírus da COVID-19 não devem afetar vacinas em desenvolvimento

Fórmulas em desenvolvimento têm como base a versão inicial do Sars-CoV-2. Hoje, porém, a maioria das infecções se dá por outra cepa. Estudo australiano mostra que, ainda assim, os imunizantes que chegarem às clínicas poderão proteger as pessoas


09/10/2020 18:09

(foto: AFP)
(foto: AFP)
Um dos temores relacionados às vacinas da covid-19 que estão em desenvolvimento é que elas tenham um prazo de utilidade muito curto. Isso porque as fórmulas são desenvolvidas com base em uma cepa (forma genética) de um vírus, que sofre alterações em seu DNA com o passar do tempo. Dessa forma, há o risco de a proteção deixar de fazer efeito. Um estudo publicado na última edição da revista Nature traz uma boa notícia. O trabalho sinaliza que a eficácia dos imunizantes em teste deve permanece mesmo com mudanças sofridas pelo Sars-CoV-2. Os investigadores realizaram testes com furões que, depois de imunizados, mantiveram-se protegidos ao serem expostos a cepas distintas do novo coronavírus.
 
 
No estudo, os pesquisadores explicam que a maioria das vacinas para covid-19 em desenvolvimento foi construída com base na cepa D original do vírus, a mais comum durante o início da pandemia. Desde então, o vírus evoluiu para a cepa G, que, agora, é dominante globalmente, sendo a responsável por cerca de 85% dos genomas do Sars-CoV-2 já mapeados e publicados em pesquisas científicas.

“A mutação G, conhecida como D614G, da proteína spike, o principal elemento do vírus Sars-CoV-2, se tornou um dos maiores temores de muitos especialistas. As especulações eram de que ela afetaria negativamente as vacinas feitas antes do seu registro. Mas o nosso trabalho mostra que não”, destaca, em comunicado, Seshadri Vasan, pesquisador da Universidade de York, no Reino Unido, e principal autor do estudo.

Vasan e sua equipe analisaram furões que receberam a vacina INO-4800, feita com base na cepa D pela empresa Inovio Pharmaceuticals, em parceria com a Fundação Bill Gates. Os animais foram expostos ao vírus Sars-CoV-2 em cepas D e G. Os especialistas observaram que as cobaias foram protegidas de todas as formas do patógeno. “Apesar dessa mutação D614G na proteína spike, confirmamos, por meio de experimentos que foram feitos de forma cuidadosa e repetitiva, que as vacinas candidatas ainda são eficazes”, diz o líder do estudo.

O pesquisador explica que os resultados indicam que é baixo o risco de que alterações nas fórmulas de imunização precisarão ser feitas futuramente. “Também descobrimos que a cepa G provavelmente não requer ‘combinação de vacinas’ frequente, quando novas vacinas precisam ser desenvolvidas sazonalmente para combater as cepas de vírus em circulação, como é o caso da gripe”, explica Vasan.

Os autores do artigo enfatizam que o estudo foi feito em animais e que é preciso fazer a análise em humanos. “Ainda assim, destacamos que os resultados são positivos. Acreditamos que estamos mais perto de uma vacina segura e eficaz para proteger as pessoas e salvar vidas”, afirmam. A fórmula está sendo testada nos Estados Unidos em ensaios clínicos, com humanos.

Vigilância genômica

David Urbaez, infectologista do laboratório Exame, em Brasília, explica que os dados do estudo científico são positivos e ressalta que o monitoramento de alterações do genoma do vírus é essencial para compreender melhor o patógeno. “Vemos que, a partir de fevereiro, quando o vírus começou a se propagar de forma mais acelerada, foi quando essa mutação D614G surgiu e se estabeleceu. Sabemos disso porque fazemos o que chamamos de vigilância genômica. Entender as mudanças que vão ocorrer no vírus é essencial para saber se ele pode aumentar a sua capacidade de contágio, por exemplo. Mas essa alteração não permitiu que o vírus tivesse muito mais força, e vemos também agora que o efeito das vacinas não deve sofrer alterações”, analisa.

O médico explica que é normal patógenos sofrerem mudanças com o passar do tempo, mas todas as mudanças observadas, até agora, no Sars-CoV-2 não são preocupantes. “As pessoas escutam que o vírus sofreu uma mutação e já ficam desesperadas, mas, até agora, não temos nada a temer em relação a isso. Temos patógenos que precisam, sim, que as vacinas sejam atualizadas, devido às mudanças, como é o caso da gripe, mas isso não ocorreu com a covid-19 ainda”, justifica. “Outras mutações que o vírus enfrenta também são usadas para fazer um rastreamento. Com elas, podemos dizer se ele veio de um estado do Brasil, por exemplo, ou de outro. Esses dados contribuem bastante para compreender o comportamento do patógeno.”

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também destaca que o acompanhamento das mudanças genômicas do Sars-CoV-2 é essencial para controlá-lo. “É normal que surjam mutações, toda vez que o vírus faz uma cópia de si, tem a possibilidade de ocorrer uma falha nesse processo. Pode ser que ocorram também mudanças positivas, ele pode perder o poder do contágio, por exemplo. Ter esses dados é algo importante no combate à doença”, detalha.


Kfouri explica que apenas uma mudança muito expressiva faria com que as vacinas feitas com base na cepa original do Sars-CoV-2 precisassem ser adaptadas. “Apenas uma alteração de peso, como ocorre no vírus da influenza da gripe anualmente, exigiria essa reformulação. Mas acreditamos que existem poucas chances de isso ocorrer, já que a maioria dos vírus é estável nesse quesito. Como acontece, por exemplo, com a hepatite e a caxumba. Sabemos também que a família dos coronavírus, a qual pertence o da covid-19, também tem essa estabilidade. Então, acreditamos que é difícil que isso ocorra.”

Elemento-chave

Ela é o principal elemento do vírus Sars-CoV-2, responsável pela covid-19. Essa proteína é a responsável pela entrada do patógeno nas células humanas, ao se ligar em uma proteína presente em diferentes locais do organismo humano, a ACE2. Os anticorpos produzidos pelo sistema imunológico do corpo depois da contaminação têm como alvo a proteína S.

Pessoas que sobrevivem a casos graves de covid-19 têm respostas imunológicas duradouras contra o vírus, segundo estudo feito por cientistas americanos. Ao analisar amostras sanguíneas de mais de 300 pacientes, os pesquisadores observaram que os recuperados mantiveram anticorpos de defesa do vírus Sars-CoV-2 por mais de três meses. Os dados foram apresentados na última edição da revista especializada Science Immunology.

“Há uma grande lacuna de conhecimento em termos de quanto tempo duram as respostas de anticorpos em pacientes que sofreram com a covid-19. Os dados relacionados a esse tema ainda são bem confusos, o que atrapalha a nossa compreensão sobre a doença”, afirma, em comunicado, Richelle Charles, pesquisadora da Divisão de Doenças Infecciosas do Massachusetts General Hospital (MGH) e principal autora do estudo científico.

Para entender melhor o tema, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de 343 pacientes infectados pelo novo coronavírus, a maioria deles foi acometida por quadros graves da covid-19. Amostras de sangue dos participantes da pesquisa foram coletadas por quatro meses, logo após o surgimento dos sintomas da doença. Os cientistas também usaram amostras colhidas antes da pandemia (grupo controle).

Mapeamento

No material colhido, foram medidos os níveis do anticorpo imunoglobulina G (IgG), produzido naturalmente pelo organismo humano. A equipe observou que as taxas do agente imune do organismo permaneceram elevadas ao longo dos quatro meses e foram associadas à presença de outros anticorpos protetores, que demonstraram pouca diminuição na atividade durante o tempo de acompanhamento.

“Isso significa que as pessoas, provavelmente, estarão protegidas por esse período”, explica Charles. “Nós mostramos que as principais respostas de anticorpos à covid-19 persistem, e isso nos alegrou bastante.” Os pesquisadores também descobriram que os níveis mais altos de IgG estavam relacionados a infectados que apresentaram sintomas por pelo menos 14 dias.

Segundo os cientistas, determinar a duração da resposta imunológica à covid-19 ajudará na obtenção de dados mais precisos sobre a propagação do Sars-CoV-2. “Saber quanto tempo as respostas de anticorpos duram é essencial para saber usar, com eficácia, os testes de anticorpos, que, com o exame PCR, são uma das armas de diagnóstico. Esses dados podem fazer a diferença durante o mapeamento dessa doença”, avalia Richelle Charles. “Nosso estudo também nos dá a esperança de que as pessoas infectadas desenvolvem proteção duradoura, o que definiria os casos de reinfecção como episódios raros, que é o que acreditamos até agora.”


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