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Proibição aumenta perigo

Droga sintetizada em laboratório, geralmente confundida com o ecstasy, o MDMA é aplicado na recuperação de pacientes que sofrem com transtorno de estresse pós-traumático


postado em 10/11/2018 05:06

Subtância não vicia e é administrada com acompanhamento médico, como suporte à terapia(foto: Paulo Santos/Reuters %u2013 20/2/11)
Subtância não vicia e é administrada com acompanhamento médico, como suporte à terapia (foto: Paulo Santos/Reuters %u2013 20/2/11)



O MDMA é um composto químico geralmente confundido com o ecstasy. Próximo ao que ocorre com o uso medicinal do princípio ativo da maconha, a substância já é aplicada na recuperação de pacientes que sofrem com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ideal para uso complementar ao acompanhamento terapêutico de pessoas com trauma. O potencial curativo do MDMA é conhecido desde antes de sua proibição, nos anos 1980, desvendado pelo químico norte-americano Alexander Shulgin, que, na década de 1960, testou os efeitos em si mesmo e depois apresentou as descobertas para a comunidade científica.


“MDMA é a sigla de um composto químico, uma molécula, chamada metilenodioximetilanfetamine. É uma molécula específica e nenhuma outra. Entretanto, a denominação científica se confunde com gírias usadas em cenas de uso de drogas ilícitas, como MD, ‘Michael Douglas’, ou outros apelidos, como ecstasy, bala ou simplesmente ‘e’. Isso é um grande problema, pois as pessoas pensam estar consumindo MDMA, mas muitas vezes não estão”, explica o neurocientista Eduardo Schenberg, diretor da ONG Plantando Consciência e pioneiro no país em estudos sobre efeitos de drogas psicoativas como MDMA, ibogaína, LSD e ayahuasca no cérebro.


O MDMA é uma droga sintetizada em laboratório, transformada em cristais incolores e inodoros que, normalmente, são misturados com água e cujo efeito passa por euforia, sensação de bem-estar e alterações sensoriais, com expansão dos sentidos. Consumido no mundo inteiro, o MD ficou popular entre os jovens, principalmente em festas rave. O especialista cita pesquisa da Fapesp, em conjunto com a Polícia Federal, que revelou que menos da metade desses comprimidos ou pós/cristais encontrados no mercado ilícito contêm MDMA – em quase todas as amostras foram encontrados contaminantes, incluindo mais de 200 outras substâncias, como cafeína, cocaína, anfetamina e parametoxianfetamina, uma molécula bem mais tóxica do que o MDMA. “Esse fato faz muita diferença no que tange aos riscos do MDMA puro, fabricado com controle de qualidade, usado nos estudos com dosagem controlada, e o material ilícito de rua. A proibição aumenta os perigos”, esclarece Eduardo. “Nosso objetivo é trazer o avanço dessa medicina ao Brasil”, continua. No fim das contas, em se tratando de drogas em países onde são criminalizadas, o usuário nunca sabe o que está tomando.


É comum que pessoas que viveram ou presenciaram alguma situação de violência extrema desenvolvam o transtorno de estresse pós-traumático. Pacientes com o mal apresentam menor ativação cerebral nas áreas ligadas à memória e aprendizagem. Por outro lado, sobressaem os campos que ativam o medo, como a amígdala. Quando o MDMA chega ao cérebro, diminui a ação da amígdala, influenciando, assim, para a minimização de sinais como medo e ansiedade, dando à pessoa uma sensação mais clara de autoconfiança. Estudos sobre o assunto, há pelo menos 10 anos, são empreendidos em vários países, como Estados Unidos, Canadá, Suíça e Israel, com foco, por exemplo, em veteranos de guerra e, agora, o Brasil começa a atuar também nessa frente. “O MDMA não vicia, você não vê gente em clínicas de dependentes com vício em MD. O que pode ocorrer é as pessoas abusarem do ecstasy. O uso de droga no sistema ilegal é mais perigoso do que no sistema controlado”, complementa Eduardo Schenberg.


MAIS CLAREZA O novo método de tratamento contra o TEPT é chamado psicoterapia assistida com MDMA – como o nome indica, é uma abordagem que combina psicoterapia com o uso de um fármaco, e os resultados não se dão por um ou outro fator isoladamente (terapia ou medicação), mas sim pela combinação deles, explica o neurocientista. A terapia inclui 15 sessões com dois terapeutas simultaneamente, um homem e uma mulher, sendo uma sessão por semana, em um total de aproximadamente três meses de tratamento. Apenas três sessões incluem uso do MDMA, sempre sob supervisão constante dos terapeutas e do médico responsável pela administração do medicamento. As sessões com MDMA duram de seis a oito horas – o paciente ouve músicas instrumentais evocativas e pode interagir com os terapeutas sempre que quiser. Após as sessões, a pessoa faz pernoite na clínica e, na manhã seguinte, tem uma consulta sem uso da substância. Todas as demais consultas duram 90 minutos. Como ressalta Eduardo, o MDMA aumenta a função do córtex pré-frontal, parte ligada ao raciocínio, intelecto e pensamento. Facilita, assim, a percepção sobre processos emocionais intensos, enquanto a memória sobre os eventos é preservada.


“Durante os efeitos do MDMA, os pacientes sentem, temporariamente, menos medo e conseguem raciocinar com clareza, criando um momento propício para a psicoterapia sobre traumas muito dolorosos e dos quais os pacientes mais graves, com os quais lidamos, praticamente não conseguem falar sem o auxílio do MDMA. Portanto, a substância não cura o trauma por si só, mas permite uma interação otimizada entre terapeutas e paciente. Nesse ponto, a atuação dos terapeutas é fundamental para garantir segurança e orientar o paciente a revisitar suas memórias de forma segura e terapêutica. Os pacientes se emocionam muito, choram, refletem, confessam sentimentos, expressam raiva, rancor, mágoa”, elucida.


No Brasil, as práticas médicas associadas ao MDMA ainda são incipientes – até então, o tratamento foi realizado com três pessoas, todas vítimas de abuso sexual. Segundo Eduardo, os pacientes reagiram bem à terapia, sem nenhum evento adverso grave. No exterior, já foram tratadas centenas de pessoas, em mais de 1 mil sessões com MDMA, registrando apenas um efeito negativo, uma arritmia cardíaca temporária, que não acarretou problemas de saúde ao paciente. “Os resultados são impressionantemente positivos, com cerca de 70% dos pacientes chegando no fim do tratamento curados do transtorno. É importante notar que todos tratados até agora já tinham tentado outros métodos convencionais, sem sucesso, e que os benefícios foram duradouros. Alguns pacientes continuavam livres dos sintomas do transtorno mesmo quatro anos após terminar o procedimento”, diz o médico.


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