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Estado de Minas SAÚDE NA PANDEMIA

Câncer colorretal: quase 1 milhão de exames de prevenção não foram feitos

Março Azul prevê a conscientização e prevenção do câncer colorretal, segundo tumor maligno mais incidente no Brasil e o terceiro que mais mata


28/03/2022 17:47 - atualizado 28/03/2022 18:43

Imagem que mostra o intestino
Houve nos últimos anos uma drástica redução na realização de exame de sangue oculto nas fezes e colonoscopia, essenciais no diagnóstico do câncer colorretal. (foto: Sociedade Brasileira de Cancerologia/Divulgacao )

Quase 1 milhão de exames de prevenção contra o câncer colorretal (CCR) deixaram de ser realizados nos últimos dois anos. É o que mostra um levantamento da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), que realizam em parceria o Março Azul, campanha de conscientização e prevenção sobre a doença. De acordo com os especialistas, os impactos da pandemia são nítidos e podem trazer consequências irreparáveis a milhares de famílias nos próximos anos.

 

Para avaliar os efeitos da pandemia sobre a prevenção do CCR e subsidiar a campanha de sensibilização para a necessidade retomada segura dos atendimentos, foram levantados os registros da última década sobre os exames diagnósticos no Sistema Único de Saúde (SUS) - colonoscopia e sangue oculto; as internações hospitalares no SUS para tratamento da doença; e os óbitos motivados pela doença.

 

Por apresentar poucos sinais em estágios iniciais, o câncer colorretal deve ser prevenido periodicamente em homens e mulheres, a partir dos 50 anos. Essa investigação acontece, basicamente, por meio da realização de dois exames, que podem ser decisivos para salvar a vida do paciente: a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.

 

Segundo o presidente da Sobed, Ricardo Anuar Dib, apesar de ser um procedimento simples, o exame que investiga a presença de sangue nas fezes ainda é requisitado de forma insuficiente no Brasil. "Embora tenha aumentado o número de solicitações ao longo da última década, o volume ainda está aquém do adequado, se considerada toda a população brasileira dentro da faixa etária elegível ao rastreio", comenta. De 2011 a 2021, foram realizados no Brasil 12,5 milhões de exames.

 

O cenário se tornou ainda mais crítico desde o início da pandemia de COVID-19. A quantidade desse tipo de exame crescia em média 10% ao ano até 2019. Com a pandemia, cerca de 500 mil procedimentos deixaram de ser realizados somente em 2020. No ano seguinte, embora o SUS tenha recuperado parte da produção de exames em relação ao ano anterior, ainda houve déficit de pelo menos 228 mil exames de sangue oculto.

 

Em números absolutos, foram realizados aproximadamente 732 mil exames a menos do que o previsto. De todos os pacientes que realizaram o exame de sangue oculto aqui, em torno de 10% apresentaram resultados positivos e precisaram fazer exames complementares.

 

Exame
Cerca de 500 mil exames de sangue oculto deixaram de ser realizados em 2020, enquanto que em 2021, houve déficit de pelo menos 228 mil exames. (foto: Sistema de Informações Ambulatórias (SIA-SUS)/Divulgação )
 

 

Já a colonoscopia, exame indicado aos pacientes em que existe uma suspeita diagnóstica, apresentou uma queda percentual ainda mais significativa no ano da pandemia. Foram menos 263,8 mil procedimentos a menos do que o esperado em 2020 e 2021. Além da inspeção da superfície da mucosa intestinal, a colonoscopia permite a realização de biópsias endoscópicas (retirada de pequenos fragmentos para análise) que podem ser úteis no estabelecimento do diagnóstico das doenças que acometem os cólons e íleo terminal.

 

"Cerca de 90% dos casos de câncer colorretal têm origem em um pólipo, que é uma lesão decorrente do crescimento anormal da mucosa do intestino grosso. Inicialmente, esse tipo de lesão é benigna, mas pode crescer e se tornar maligna. Por isso enfatizamos a importância da colonoscopia, exame de imagem que permite visualizar o interior do intestino e, caso seja identificado algum pólipo, removê-lo antes que ele se torne um câncer", alerta Eduardo de Paula Vieira, presidente da SBCP.

 

Colonoscopia
A colonoscopia apresentou uma queda percentual ainda mais significativa: foram 263,8 mil procedimentos a menos do que o esperado em 2020 e 2021. (foto: Sistema de Informações Ambulatórias (SIA-SUS)/Divulgação )
 

Doença causa mais de 230 internações no SUS por dia

 

No Brasil, entre 2011 e 2020, foram identificadas 168,7 mil mortes causadas pelo câncer colorretal (CCR). Os registros de internação trazem números ainda mais impressionantes: foram 771 mil hospitalizações só no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento dessa doença em todo o país, entre 2011 e 2021.

 

Apesar de pouco discutida, a doença - que atinge o reto e intestino - já ocupa o terceiro lugar no ranking de neoplasias mais letais para homens e mulheres no Brasil. "O diagnóstico de câncer colorretal não é sentença de morte! No entanto, é um problema de saúde que, se não for bem tratado, pode ter consequências sérias para o bem-estar do paciente", comenta Marcelo Averbach, presidente da Comissão de Ações Sociais da Sobed e coordenador da Comissão de Prevenção do CCR da SBCP.

 

Leia também: Estudo encontra vínculo entre carne vermelha e câncer colorretal 

 

Segundo ele, além de serviços que ofereçam acesso ao atendimento qualificado no diagnóstico e no tratamento, é preciso investir em estratégias de prevenção. "Quanto mais cedo forem descobertos, maiores são as possibilidades de intervenção e cura."

 

A análise dos números oficiais permite identificar o impacto da doença no atendimento hospitalar. A quantidade de internações crescia em média 7% ao ano até 2019. Com a pandemia, estima-se que 9.400 mil internações deixaram de ser realizadas somente em 2020 e no ano seguinte o déficit tenha sido de pelo menos 13,3 mil tratamentos.

 

Os dados de mortalidade decorrentes desse tipo de neoplasia indicam também que, somente em 2020 (último dado preliminar disponível), foram registrados 18.982 óbitos por câncer do cólon e reto. Os casos aumentam, em média, cerca de 5% a cada ano, tendo sido observado um crescimento de 38% em relação aos casos registrados em 2011 (13.736).

 

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.  


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