Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Casais tipo Eduardo e Mônica: abaixo o preconceito

Amar não tem raça, cor, credo. Basta as pessoas se olharem, se conhecerem e se permitirem. É isso que pensa a psicóloga clínica e sexóloga Alessandra Araújo. Mas nenhum relacionamento é fácil.



É verdade também que é mais difícil levar uma relação adiante quando a diferença de idade é considerável. Muito disso se dá pela negação da sociedade de que há amor nesses casos. "É como se fosse muito estranho para as pessoas. E tudo que parece estranho, infelizmente, incomoda e vira alvo de julgamentos."
 
Quando a mulher é a mais velha, nem se fala. Como explica Alessandra, o patriarcado impõe a ideia de que o homem deve ser mais velho e, consequentemente, o mais viril. E quando são elas que ficam nessa posição, são tratadas como as que sustentam o "garotão" mais novo, como se não houvesse amor de verdade.

Mas a psicóloga reforça que a idade não está na carne, e, sim, na alma. É a conexão de um com o que há de melhor no outro que supre e gera a sensação de completude.

TROCA SAUDÁVEL


Ainda assim, e como qualquer relacionamento, a troca deve ser saudável. "E isso tem a ver com a forma como um trata o outro, e não com idade", reforça Alessandra. Um dos problemas que identifica entre esse perfil de par romântico é que o mais velho tende a assumir o outro como filho e usar a suposta maturidade para orientar o mais novo. Nesses casos, a especialista explica que há uma imposição. Um dos dois pega a mão do outro e o puxa para um caminho individual, sem pensar, de fato, no casal.




 
Raquel Fernandes, de 28 anos, e Carlos Francisco Barretos, de 54, estão juntos há um ano e três meses (foto: Arquivo pessoal)
 
 
E quem disse que o mais velho é, necessariamente, mais maduro? Pessoas que sofrem traumas, por exemplo, tendem a desenvolver mais vivência em torno de um determinado assunto. E, às vezes, se revelam mais experientes.

MATURIDADE X IDADE


Depois de sair de um relacionamento de cinco anos, Rafael Braga, de 33 anos, prometeu a si mesmo que só se envolveria com uma pessoa mais velha, convencido de que esse alguém, pela idade, seria capaz de proporcionar uma relação mais feliz, saudável e, principalmente, madura. Mas, como se o roteiro já estivesse escrito, algo fez ele mudar de ideia. Foi pelas ruas da cidade que ele e Victor Moreira, de 25, se conheceram.
 
Na época, Rafael estava com 30 anos e Victor, com 22. Eles pegavam o mesmo ônibus. Conversa vai, conversa vem, dias depois eles e alguns amigos saíram para assistir ao filme “Ana e Vitória”, no cinema. E aí tem início a relação dos dois.



Rafael tinha acabado de terminar a faculdade de psicologia e começava a atuar na área. Victor, hoje supervisor de marketing, estava entrando na graduação. Ao contrário de Rafael, ele ainda não tinha o costume de beber. Frequentava a igreja. Ainda não havia assumido sua sexualidade.
 
Os diálogos transpareciam, sim, os oito anos de diferença: "Sentia que eu já havia explorado tanto da vida, viajado, me divertido, e ele não", lembra Rafael. A idade gerou algum conflito, mas nunca a dúvida que eles se gostavam de verdade. Passados alguns meses, Victor questionou o par com o famoso "estamos namorando ou não?", de quem quer algo sério, já provando estar disposto, com maturidade, a tomar o próximo passo. E em novembro de 2018, eles oficializaram o namoro.
 
Em 2020, Victor pediu Rafael em casamento e passaram a morar juntos. Vida financeira e cuidados com dinheiro ainda estão entre as pautas que  acabam em divergência entre eles. Afinal, os conflitos existem. Rafael dá alguns toques e recomendações para Victor, que está numa fase de gastar mais. O psicólogo assume que a conversa, embora seja o caminho que ele próprio recomenda aos pacientes, nem sempre é a forma de eles se resolverem. Primeiro, os dois se afastam, esfriam a cabeça, para, no fim, se acertar.




 
O casal não chegou a passar por incômodos externos significativos devido à idade. A família apoia bastante a união. Os amigos até chegam a brincar, mas nada sério. É o sentimento e companheirismo entre os dois que dita a relação: "A diferença de idade me fez empacar no início, mas vi que valia a pena. Percebi que a maturidade não está associada à idade. Você pode ter 50 anos e não chegar nem perto da maturidade de alguém de 25", pontua Rafael.

SEM JOGUINHOS


No universo dos relacionamentos sugar – por sinal, cheio de tabus –, o que os parceiros querem fica explícito. A afinidade é importante, mas os objetivos pessoais de cada um estão muito bem definidos: pode ser viajar, fazer networking, garantir mimos, empreender ou crescer um negócio.
 
Nessas relações, é comum que a mulher seja a mais nova, mas isso não é regra. Os sugar daddies, geralmente homens bem-sucedidos, buscam uma relação leve e sem drama e, em troca, proporcionam experiências à parceira. Na TV, novelas como “Império” e “A dona do pedaço” trouxeram o tema. Por meio de uma relação transparente, a então sugar baby garantiria poder financeiro e, por que não, conexão.




 
A fisioterapeuta Raquel Fernandes, de 28, e Carlos Francisco Barreto Pires, de 54, estão juntos há um ano e três meses. Conheceram-se durante a pandemia e, à medida que as restrições decorrentes da crise sanitária se flexibilizaram, encontraram-se pessoalmente. Para ela, a experiência de vida do parceiro dá muita segurança. Mas não que isso falte para ela. Formada, Raquel já sabe o que quer para a vida.
 
Ela conta que já namorou homens da idade dela, mas não o faria novamente. "O que para um homem de 25 anos é motivo de briga, para um de 50 não é. Um homem mais maduro não perde muito tempo." Conversando, os dois sempre chegam a um consenso.
 
“Já recebi questionamentos de pessoas que não entendem o que é um relacionamento sugar. Mas não importa, ele me faz bem, me mima, me ajuda profissionalmente, me dá carinho e não tem por que não ter uma relação com alguém mais vivido e maduro. O que importa é que me faz bem e sou feliz."