Jornal Estado de Minas

ESSENCIAL

Leitura em voz alta é tecnica para adolescentes compartilharem compreensão

Pensar sobre a leitura e a literatura no contexto da adolescência é também imaginar como compartilhar o que se considera sobre isso utilizando as mídias sociais, grupos, Instagram e outras linguagens, a música, o teatro, o desenho, o grafite. À frente de uma iniciativa chamada ‘Literatura e direitos humanos: para ler, ver e contar’ e com trânsito livre entre os jovens, a educadora social Bel Santos Mayer explica que é uma ação com adolescentes em que todos lêem juntos, conversam sobre as obras e, depois, cada um conta suas impressões sobre o que foi lido do jeito que quer e pode nos espaços ocupados pelo grupo.





Entre as formas de trabalho sobre a leitura adotadas para esse público estão, por exemplo, o encorajamento da leitura em voz alta, além da curadoria dessa literatura. “Assim podemos conversar com os adolescentes sobre livros, fazendo indicações intergeracionais, pensando nos temas que nos interessam como pessoas humanas, em como a gente compartilha esses textos e livros, os seus mais diversos gêneros, poesia, as crônicas e romances", diz Bel Mayer.

O que se busca com a literatura é intimidade, encontro, aconchego, uma possibilidade de fuga e diversão. Toda essa busca parece muito evidente quando se trata de literatura para as crianças. O adulto oferece o conteúdo à criança e ela cria os momentos do 'ler juntos'. “De repente, na adolescência, há uma expectativa de uma autonomia, como se ela fosse algo imediato. E por isso, na minha prática como educadora social, tenho investido em momentos de compartilharmos a leitura, momentos em que lemos juntos e encorajamos os adolescentes e jovens a emprestar suas vozes, para fazer com que as palavras literárias possam circular”

Todos esses assuntos foram princípios norteadores do Festival Literário Internacional (FLI-BH), realizado em agosto na capital mineira. Com o tema “Obrigação, prazer ou direito: Adolescentes e leitura literária”, a quarta edição do evento abriu a conferência do seminário “Adolescer – sujeitos e percursos literários, com duas perspectivas para reflexão: a forma como adolescentes percebem e se relacionam com a leitura literária e os discursos comuns sobre leitura.


'TECENDO O AMANHÃ' A literatura é tomada por agentes culturais como transformação de uma geração. Não por acaso, o tema geral do festival – “Virando Páginas: Livros Tecendo Amanhãs” – contornou discussões dedicadas ao público infanto-juvenil, com a participação de escritores e educadores.





Madu Costa é escritora de literatura infantil, contadora de histórias e cordelista, com formação em pedagogia e arte educação, membro do Iabás, coletivo de mulheres negras contadoras de histórias das orixás femininas. Também foi uma das curadoras do FLI-BH. No seminário que celebrou os 30 anos da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte, o tema que trata do adolescente e da literatura foi a pauta principal. 

"A adolescência é uma fase da vida na qual a criança está deixando de ser criança e ainda não é adulta. Os hormônios colaboram para que essa situação fique bem confusa. É uma revolução, em todos os sentidos, na vida desse ser que está em formação. Por conta disso, às vezes o adolescente, que tem a tendência de sempre reunir sua turma, deixa de lado um pouco o hábito de leitura", avalia.

Existem duas faces da mesma moeda, segunda Madu, quando se pensa que a educação ocorre efetivamente pelo exemplo. Uma criança que cresceu em ambiente no qual o letramento sempre foi um valor, inserida em uma família de leitores, que incentivam essa atividade, será uma leitora madura na adolescência. “Mas nas famílias que não têm essa característica, em que as crianças não foram introduzidas na arte da leitura literária, vai continuar essa falha, que é lamentável, mas verdadeira”, pondera.





A especialista destaca que é papel da família, da escola, e também do aparato público, cuidar efetivamente da formação de leitores, pela fruição e o prazer pela literatura, para que em nenhum momento isso seja jogado para escanteio. “Não existe receita de bolo, mas todo o incentivo é bem assertivo. Sejamos leitores de literatura, de jornal, do mundo, da natureza, somos espelhos de referência para nossos filhos. Vamos atingir um bom número de jovens com nosso exemplo. Mesmo quando esse hábito não foi criado na infância, pode ser criado na adolescência. Nunca é tarde."


ESSENCIAL E ROTINEIRA

Familiares e escola devem estar juntos quando o assunto é o hábito de leitura. Para Nathalia Ferrari, coordenadora pedagógica da educação infantil e do ensino fundamental, anos iniciais, do Elite Rede de Ensino, quanto mais lerem, mais preparados estarão a criança e o jovem em todo o processo de desenvolvimento. Veja as dicas para estimular a leitura, desde os primeiros anos de vida:

 
 
PALAVRA DE ESPECIALISTA

Bárbara Bof, diretora Fundação Municipal de Cultura de BH (foto: Maria Elisa Macedo/Divulgação)

 
“Lógica do prazer, não da obrigação”
 
“Sem sombra de dúvida, o digital gera em certo ponto um negligenciamento da leitura, pensando que o contato direto dos jovens com a leitura pode ou não ser pelos livros em um primeiro momento. Mas existem possibilidades, como buscar o diálogo com esses jovens para que sejam protagonistas nesse processo, indicando livros e leituras que dialoguem com a sua realidade, que conversem com o que eles vêem em filmes e séries, por exemplo. Considerando os interesses desses adolescentes, a formação para a literatura também pode partir de gibis, revistas e livros ilustrados. Os livros são parte da vida de um bom leitor, é um caminho do pensamento. É importante aproximar esse jovem da leitura, pela própria perspectiva da formação cidadã, trazendo coisas prazerosas – e há formas de se fazer isso, não necessariamente só a leitura literária. A leitura deve partir de seu desejo, sua curiosidade, seu repertório de vida, desde criança. Tudo para que seja um processo fluido, orgânico. A família e a escola são os primeiros atores nesse desenvolvimento. Inclusive para a socialização da criança, a leitura deve ser um convite generoso, inclusive para a socialização da criança. Há que se colocar a criança e o jovem em contato com as letras, a escrita, dentro da lógica do prazer, não da obrigação."

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