Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Hábitos saudáveis: o coração agradece

Em 29 de setembro é celebrado o Dia Mundial do Coração, data para chamar a atenção para a importância de manter hábitos saudáveis para garantir o bom funcionamento do órgão (foto: silviarita/Pixabay)
Em 29 de setembro, é celebrado o Dia Mundial do Coração, uma data estabelecida para chamar a atenção para a importância de manter hábitos saudáveis para garantir o bom funcionamento do órgão, um dos principais do corpo humano. Durante todo o mês, chamado Setembro Vermelho, profissionais da saúde lembram sobre a prevenção das patologias que acometem o coração.





As doenças cardiovasculares, relacionadas à circulação e ao coração, são as causas centrais de morte no país e no mundo. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) estima que, ao final de 2021, quase 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação. São mais de 1.100 mortes por dia, cerca de 46 por hora, 1 morte a cada 1,5 minuto. Só neste ano, são mais de 267 mil mortes.
 
Segundo a SBC, tais doenças acarretam o dobro de mortes que aquelas relacionadas a todos os tipos de câncer juntos, 2,3 vezes mais que todas as causas externas (acidentes e violência), 3 vezes mais que as doenças respiratórias e 6,5 vezes mais que todas as infecções, incluindo a Aids.

Arritmias cardíacas, AVC e insuficiência cardíaca são algumas dessas patologias – esta última atinge cerca de três milhões de brasileiros, e os portadores enfrentam repetidas internações. A doença arterial coronária e o infarto agudo do miocárdio (IAM) – o Ministério da Saúde aponta que cerca de 300 mil indivíduos sofrem anualmente de IAM, levando a óbito 30% desses casos –, respondem pelas causas de morte mais comuns.





"As duas condições estão relacionadas com o processo de formação de placas de gordura na parede das artérias (aterosclerose), o que gera obstrução desses vasos e pode causar a redução do fluxo de sangue que chega ao músculo do coração", explica o cardiologista Fábio Loureiro. Apesar da gravidade e riscos das doenças cardiovasculares, com o tratamento adequado é possível levar uma vida normal.

Entre os fatores de risco para as doenças do coração mais recorrentes estão hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo e obesidade. "O mês de setembro é considerado o mês de prevenção dessas doenças. Entre as medidas gerais para evitar riscos estão a prática regular de atividade física, adotar uma alimentação saudável e evitar o tabagismo. Manter a rotina de consultas médicas também é muito importante", ressalta Fábio Loureiro.

Desde criança, a jornalista Aline Porfírio faz acompanhamento do coração, em intervalos entre um e dois anos. Hoje, aos 31, ela conta que a decisão é por conta própria. Não se trata de orientação médica, mas um cuidado que ela mesma resolveu adotar, já que tem histórico familiar de doenças do coração. Aline não chegou a conhecer a avó materna, que morreu em 1971, aos 53 anos, em decorrência de uma insuficiência cardíaca que se agravou.



A mãe da jornalista acabou também desenvolvendo problemas vasculares. "Na época da minha avó, não tinha tantos recursos. Ela não teve um acompanhamento e nem tratamento adequado, e o SUS também não era tão fortalecido", diz. O avô paterno faleceu devido a um infarto fulminante, aos 56 anos.

Aline não tem problemas clínicos relacionados ao coração e conta que faz o acompanhamento para prevenção. "Os jovens se importam pouco com o coração. Não entendem a gravidade dos riscos que podem correr, mesmo quando se tem por volta dos 30 anos. Na verdade, já existe comprovação de que as pessoas mais velhas é que são mais resistentes ao infarto, por exemplo. O coração não dá sinais tão claros de que algo vai mal", alerta.

DOENÇA CRÔNICA 


A insuficiência cardíaca é uma doença crônica que acontece quando o coração perde a força na contração e, com isso, não consegue bombear sangue em quantidade adequada para o corpo. "Hipertensão arterial, diabetes, doença coronariana, cardiopatias e valvulopatias são as principais causas de insuficiência cardíaca", diz a cardiologista Lidia Zytynski Moura.





Como é uma condição que atinge pessoas de todas as idades, embora ocorra mais frequentemente a partir dos 50 anos, alguns dos sintomas podem passar despercebidos.

"É comum o paciente sentir falta de ar, cansaço e dificuldades ao se exercitar, e atribuir esses sintomas ao envelhecimento. Todos esses sinais podem ser indícios da insuficiência cardíaca, que, com o passar do tempo, causa um acúmulo progressivo de líquido nos pulmões, provocando problemas respiratórios, como falta de ar ao fazer esforço e ao se deitar, e outros sintomas como cansaço e inchaço nas pernas", alerta a especialista.

A cardiologista Sueli Vieira Santos (foto: Arquivo Pessoal)
 
 
A médica salienta que algumas limitações nos afazeres diários podem ser indicativos do problema – o corpo começa a reclamar. "Se o paciente ou alguém próximo dele perceber que, ao longo do tempo, ele começa a sentir dificuldades em desenvolver atividades cotidianas, como estender uma roupa, subir escada ou andar a pé, por exemplo, é bom marcar uma consulta o mais rápido possível, para ter certeza de que não estamos falando de um diagnóstico de insuficiência cardíaca. E, se esse for o caso, iniciar um tratamento adequado", orienta.

Para entender se uma pessoa tem ou não a doença, o cardiologista faz uma avaliação do histórico do paciente, outras enfermidades diagnosticadas, estilo de vida e, se necessário, exames de sangue e de imagem podem auxiliar no diagnóstico. Após a confirmação, continua Lidia, o paciente precisa iniciar um tratamento e segui-lo corretamente, sem quaisquer interrupções. "Não existe cura para a insuficiência cardíaca, porém, a adesão ao tratamento vai ajudar esse paciente a manter a rotina", afirma.




  

PANDEMIA 


A pandemia elevou os riscos à saúde geral da população em diversos âmbitos. Seja pela falta de acompanhamento aos tratamentos para inúmeras doenças, seja pelas sequelas provocadas pela doença, a queda na realização de exames de rotina impede que quadros graves sejam detectados precocemente.

O cenário provoca uma reação em cadeia, conforme explica a cardiologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Sueli Vieira Santos. "Não sabemos o curso que a pandemia terá no futuro, mas cuidar da saúde do coração neste momento é mais importante do que nunca."

Estudo promovido pela International Atomic Energy Agency (IAEA; em português, Agência Internacional de Energia Atômica), sobre o impacto da COVID-19 no diagnóstico de doenças cardíacas, calcula que mais de 700 mil exames de diagnóstico por imagem para aferição de doenças cardiovasculares deixaram de ser realizados em todo o mundo entre março e abril de 2020, redução de 42% em relação ao mesmo período no ano anterior.





Antes da pandemia, a orientação para realização dos exames cardiovasculares periódicos era, em geral, direcionada aos homens com mais de 45 anos ou mulheres após início da menopausa, além de pessoas com quadro de diabetes, obesidade, colesterol e triglicérides altos, fumantes e pacientes com histórico familiar ou que já fossem portadores de doenças cardíacas.

“Essa recomendação não mudou. No entanto, a falta de acompanhamento médico durante o longo período de isolamento social, somada aos riscos de sequela da COVID-19 àqueles que contraíram a infecção e ao aumento do sedentarismo, resulta em um cenário diferente, que nunca vivenciamos antes. Por isso, a atenção agora é maior”, explicita a médica.

SAÚDE À MESA 


Arritmias cardíacas, AVC e insuficiência cardíaca são algumas das patologias que afetam o coração (foto: InspiredImages/Pixabay )


A escolha por alimentos mais nutritivos pode fornecer uma carga extra de energia à saúde cardíaca. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), a maioria das doenças cardiovasculares pode ser prevenida com a inserção de uma dieta equilibrada e a prática de atividades físicas. A escolha por um cardápio mais balanceado faz a diferença para o coração e para o organismo como um todo.





Pratos coloridos oferecem proteínas e nutrientes que podem auxiliar na prevenção das doenças cardiovasculares, ensina a nutricionista do Comitê Umami, Mariana Rosa. “É possível elaborarmos um prato saudável e ao mesmo tempo saboroso. Basta conhecer os alimentos e explorar diferentes combinações. Alimentos como tomate, cenoura, shiitake, milho, aspargo, peixes e frutos do mar, por exemplo, são excelentes opções para inserir na lista de amigos do coração”, diz.

CINCO MITOS E VERDADES SOBRE A SAÚDE DO CORAÇÃO
  1. Somente obesos têm problemas no coração. Mito. Indivíduos com peso normal, mas portadores de doenças metabólicas, a exemplo de diabetes e colesterol alto, também têm risco aumentado para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
  2. Tomar uma taça de vinho por dia protege o coração. Depende. Algumas condições metabólicas podem ser agravadas com o consumo de álcool, o que pode piorar as doenças cardíacas. Mas estudos científicos apontam para “alguma proteção cardíaca”, com o consumo moderado de vinho. A bebida contém substâncias flavonoides, que podem ter efeito protetor.
  3. Câncer de mama mata mais mulheres do que doenças do coração. Mito. Pesquisas apontam que doenças cardiovasculares ainda matam mais mulheres do que câncer de mama. De acordo com dados recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia, no Brasil, 54% das mulheres morrem por doenças do coração, como o infarto, enquanto o câncer de mama é a causa de morte de 14%.
  4. A ingestão de alimentos ricos em gordura e colesterol está associada ao aumento do colesterol ruim no sangue. Mito. Estudos científicos recentes mostram que, em um cenário onde não há alta ingestão de gorduras “ruins”, a ingestão de alimentos ricos em colesterol em si (por exemplo, ovos cozidos) não aumenta o colesterol ruim. Entretanto, o consumo de gordura saturada em excesso e gordura trans pode, sim, elevar os níveis de colesterol ruim no sangue.
  5. O inverno está relacionado com maior número de infartos. Verdade. Principalmente em pacientes com doença arterial coronária, pois o frio é um fator de instabilização das placas de gordura. Em ambientes com temperatura mais baixa, podem haver espasmos das artérias do coração e a pressão arterial tende a aumentar, levando ao maior risco de infartos.
Fonte: Fábio Loureiro, cardiologista


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