Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Mulheres relatam a dificuldade em lidar com a queda de cabelo no pós-COVID

A gerente de marketing, Grace Lara Melo, de 45 anos, ficou 20 dias internada por COVID-19, sendo dez deles em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Após a alta, a sensação de ter vencido a doença foi imensa, mas logo vieram descobertas de que a infecção pelo novo coronavírus acarretou vários outros problemas além dos respiratórios e cardíacos. Lara perdeu 80% dos seus cabelos e lutou para recuperar os fios e a autoestima no pós-COVID.





“A queda começou entre 30 a 40 dias após a minha alta hospitalar. A médica disse que a minha perda capilar foi similar à de quimioterapia. Eu só chorava, não queria sair de casa”, conta Lara, que, no período, usou lenços e buscou ajuda médica.

Lara tem intercalado aplicação de medicamentos e tratamento regenerativo de plasma sanguíneo no couro cabeludo, além de uma terapia à base de óleos essenciais e, após 60 dias, o resultado tem sido satisfatório.

“Em 48 horas após a primeira aplicação do plasma o meu cabelo parou de cair. Agora está em processo de crescimento saudável. A sequela é muito difícil de lidar, eu não me reconhecia. O cabelo fazia com que a imagem dessa doença continuasse na minha vida. Era como se eu não tivesse superado a COVID”, pontuou Lara.





A publicitária, Adriana Facella, de 53, também esteve internada em uma UTI e chegou a ter 75% dos pulmões comprometidos pelo novo coronavírus. No início de junho recebeu alta e está, ainda, fazendo fisioterapia respiratória e também em busca de ver os fios capilares voltarem ao normal. Adriana perdeu metade dos cabelos que antes eram bastante volumosos. 

“Cabelo da gente é tudo. Você olha e vê ele horrível. Além de cair, parece ser um cabelo doente, não fica a mesma coisa, é péssimo. Claro que não é a pior sequela da COVID, mas cada um sente o seu problema. Para mim, está sendo terrível”, conta Adriana sobre a experiência.
Lara segue em tratamento, mas já comemora o crescimento saudável dos fios (foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
 
Essa queda capilar que ocorre pós-COVID é chamada de eflúvio telógeno. Segundo a dermatologista e assessora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Alessandra Anzai, já existem mais de 100 artigos publicados no Brasil sobre o assunto.    

“Um terço a metade das pessoas que pegam COVID desenvolvem a queda capilar. Mas não é considerada uma sequela porque há cura. É uma consequência da infecção. É necessário dar suporte para o fio voltar ao normal. Isso é um reflexo do que aconteceu na saúde”, explica Alessandra, que ressalta a necessidade de avaliação de um dermatologista para dignóstico a respeito.





O infectologista e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dirceu Greco, faz uma análise sobre essas consequências causadas pela pandemia do novo coronavírus.

“É certamente preocupante a chamada ‘COVID longa’, de as pessoas continuarem a ter outros sintomas por muito tempo. Se a pandemia for superada, e certamente acabará sendo,  nós continuaremos tendo uma sobrecarga enorme no sistema de saúde, consequência dessas diversas situações de sequelas ou efeitos da COVID”, pontua Greco.     
 
Estudo aponta queda de cabelo pós COVID com predominância entre mulheres

Um estudo brasileiro multicêntrico (vários centros acadêmicos) chamado “Post-COVID-19 Hair Loss: Prevalence and Associated Factors Among 5.891 Patients” constatou que há uma frequência alta de queda de cabelos em pacientes que se recuperaram da infecção do novo coronavírus. 

O pesquisador da Unesp de Botucatu (SP) Paulo Muller Ramos destaca que 48% das pessoas que se recuperaram da COVID-19 tiveram a queda capilar como consequência.

As análises constataram que há uma frequência maior entre as mulheres: 44% das mulheres tiveram o eflúvio telógeno de forma moderada a intensa e 9% dos homens desenvolveram a queda capilar pós-COVID. 

O problema geralmente aparece 30 dias após a recuperação da infecção. “Essa queda não é um fenômeno permanente, mas transitória. Ela tende a melhorar entre três a seis meses após a infecção. Existem casos leves, moderados e intensos, mas, quando é só devido à COVID, ela regride”, explica Ramos.
 

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