Jornal Estado de Minas

SAÚDE PÚBLICA

Nova vacina pode proteger mães e bebês dos efeitos da cocaína; saiba mais

O uso da cocaína na gravidez está associado a quadros graves de gestação no país. Os efeitos da droga na saúde, tanto da gestante, quanto do feto, podem se estender ao longo de toda a vida. No caso da criança, as repercussões na saúde podem ser ainda mais severas. No Brasil, a utilização de drogas na gestação é uma questão de saúde pública. 





Pensando nisso, desde 2013 pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trabalham em uma pesquisa inédita com o objetivo de proteger grávidas e bebês durante a gestação e a amamentação. A proteção criada pela vacina anticocaína pode ser passada da mãe para o filho através do leite. 

A vacina em potencial pode ser pioneira no mundo científico. “Os resultados são de grande relevância científica, já que não existe nenhum tratamento aprovado por agências reguladoras mundiais para esse fim”, afirma Frederico Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental (SAM) da Faculdade de Medicina da UFMG

O medicamento, que está em fase pré-clínica, poderá evitar problemas como pré -eclâmpsia grave, aborto espontâneo e parto prematuro com complicações, nas gestantes usuáriarias de drogas. 





Quanto aos filhos, o experimento aponta chances significativas de prevenção no baixo peso ao nascer, malformações e síndrome de abstinência no recém-nascido. Sintomas comuns observados em bebês nesta situação. 


Entenda a vacina 


Ao longo da pesquisa, foram feitos dois experimentos que compararam a criação de anticorpos pelo uso da cocaína e pela aplicação da vacina. O medicamento estimulou a produção de anticorpos em quantidades de quatro a seis vezes superiores ao do uso da droga.

Injetada em ratas grávidas, os anticorpos gerados impediram ou reduziram a passagem de cocaína para o cérebro da mãe e para os fetos, pela placenta. Os pesquisadores identificaram, ainda, a transmissão dos anticorpos através do leite, protegendo também os lactantes. 





Ao todo, 26 animais foram testados, sendo metade de cada experimento em grupo controle utilizando placebo. Comparadas às mães tratadas com placebo, as mães vacinadas durante a gestação apresentaram maior ganho de peso gestacional e maior tamanho da ninhada. Entre os benefícios, as mães vacinadas tiveram ninhadas 27% maiores no parto, e 37% no desmame.

A pesquisa está sendo desenvolvida pela Faculdade de Medicina, Instituto de Ciências Exatas e a Faculdade de Farmácia da UFMG (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Os resultados também indicam que o leite da mãe contém IgG anticocaína.  Os filhos das mães vacinadas apresentaram IgG até o sétimo dia após o desmame e tiveram os efeitos locomotores e desinibitórios da cocaína mais baixos. 

A molécula GNE-KLH, utilizada no estudo e na produção do medicamento, foi criada a partir da modificação da cocaína e é uma proteína capaz de induzir a produção de anticorpos

O estudo teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Secretaria Nacional de Política sobre Drogas e da Câmara dos Deputados. 





Os pesquisadores responsáveis são da Faculdade de Medicina, do Instituto de Ciências Exatas e da Faculdade de Farmácia e, Atualmente, estão em busca de recursos para a realização das próximas etapas da pesquisa.

Danos à saúde mental 

Segundos dados levantados pelos pesquisadores, a partir de artigos científicos, apenas 25% das mães dependentes de cocaína conseguem interromper o uso da droga na gravidez. 

A cocaína produz vasoconstrição placentária, com diminuição do fluxo sanguíneo da placenta. Além de reduzir a disponibilidade de nutrientes, as trocas de sinalização embrionária, as eliminação de metabólitos e o ganho de peso materno. Foi constatado, também, o aumento do risco de aborto.

“Geralmente a prevenção em saúde mental está ligada a comportamentos, também por isso essa solução é tão inovadora. Nosso objetivo é ajudar essas mães, que sofrem tanto pelo vício, e garantir a saúde desses bebês, para que possam superar esse momento com mais tranquilidade”, conclui Frederico Garcia.  
 
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Vera Schmitz.