Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Hipertensão arterial representa um risco para a saúde

 
Nesta segunda-feira (26/4) é comemorado o Dia Nacional do Combate à Hipertensão Arterial com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre os cuidados básicos necessários para prevenir a hipertensão arterial. Atualmente, cerca de 30% da população adulta brasileira sofre com quadros de hipertensão, segundo dados do Ministério da Saúde. 



Samira Sodré Picheli, cardiologista do dr.consulta, explica que o paciente é classificado como hipertenso quando apresenta valores maiores de 140 mmHg para pressão arterial sistólica, e/ou 90 mmHg para pressão arterial diastólica.

E isso em indivíduos maiores de 18 anos. Em crianças e adolescentes, são considerados valores iguais ou maiores de 120/80 mmHg ou pressão arterial igual ou superior ao percentil 95 para idade, sexo e estatura.  

Essa alta nos indicadores arteriais é uma consequência multifatorial. “A doença pode ser causada por fatores como sexo (segundo Sociedade Brasileira Cardiologia, atualmente mais prevalente no sexo feminino), idade (acima de 60 anos), etnia (afrodescendentes), histórico familiar de hipertensão arterial sistêmica, alimentação inadequada, sedentarismo, uso de tabaco, consumo excessivo de álcool, glicemia elevada, colesterol e/ou triglicérides elevados, sobrepeso e obesidade”, afirma a cardiologista. 

Porém, o estresse também entra nessa lista, segundo o médico especialista em cirurgia Cid Pitombo. 

“O dano nos vasos facilita o acúmulo de gordura e a formação de coágulos, que podem entupir artérias do coração e provocar um infarto. O coágulo também pode se desprender e se instalar em um vaso do cérebro, causando um acidente vascular cerebral (AVC). O aumento da pressão também causa lesões nas artérias dos rins, que vão perdendo progressivamente sua capacidade de filtrar o sangue. Com o tempo, pode se instalar uma insuficiência renal”, explica a cardiologista Samira Picheli.





E a hipertensão é uma doença silenciosa. “Metade dos pacientes hipertensos desconhece seu diagnóstico. Quando sintomáticos, os sintomas mais comuns são enjoo, tontura, falta de ar, palpitações, dor de cabeça frequente, dor na nuca e alteração na visão”, pontua Samira Picheli.

Haja vista o não conhecimento da doença, os danos podem ser graves, atingindo todo o corpo, explica a cardiologista. “Ela é um fator de risco para quadros cardiovasculares, como Acidente Vascular Encefálico (AVE), Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Doença Obstrutiva Periférica e Doença Renal Crônica. Além disso, a hipertensão pode levar a uma hipertrofia do músculo do coração, causando insuficiência cardíaca e arritmias”, alerta. 

VIA DE MÃO DUPLA 


Os rins são órgãos fundamentais no controle da pressão arterial por produzir hormônios que aumentam a pressão todas as vezes que eles reconhecem que estão recebendo pouco sangue ou quando eles estão “inflamados”. “Por outro lado, os níveis pressóricos elevados são muito lesivos aos rins, já que esses órgãos têm uma estrutura de vasos muito delicada por onde é filtrado o sangue, não podendo, por exemplo, deixar que proteínas sejam perdidas.” 

É o que explica Lectícia Jorge, médica nefrologista e intensivista. É, então, como uma via de mão dupla, já que ao mesmo passo que o próprio rim promove a elevação dos níveis da pressão para “consertar erros” do corpo, ele sofre, e muito, com a alta desses níveis. 





“A hipertensão arterial e a perda de proteína na urina são reconhecidamente os dois fatores de risco principais que aceleram a progressão da doença renal. Quando essa estrutura delicada é submetida a um regime de alta pressão ela se distende e se danifica permitindo a perda de proteínas e a formação de lesões de esclerose, que são como cicatrizes. Logo, essa distensão gera a lesão da estrutura que em última análise fará pacientes com problemas renais perderem seus rins rapidamente e pacientes que não têm começarem a ter problemas.” 

“Em todas essas situações, a perda da função renal será tão mais rápida quanto maior for o descontrole pressórico e muitas vezes o principal tratamento para desacelerar o processo é o controle pressórico rigoroso.” 

Justamente por isso, Lectícia Jorge ressalta quatro pontos importantes para toda pessoa se atentar nessa relação “complexa” entre pressão arterial e rins. Confira: 

Rastreamento: Pacientes com hipertensão arterial devem realizar investigação de doenças renais visando descartar que a causa da hipertensão seja problemas renais; 

Causa: As doenças renais que causam hipertensão são diversas, como estenose de arterial renal, hiperaldosterinismo primário, glomerulopatias primárias (como nefropatia IgA), glomerulopatias secundárias (como lúpus eritematoso sistêmico e nefropatia diabética); 

Controle: É recomendado que todo paciente hipertenso faça exames da sua função renal ao diagnóstico e posteriormente uma vez ao ano, além de exames urinários. Se alterações urinárias forem encontradas, uma consulta com nefrologista é indicada. Os exames de imagem do rim, dos vasos do renais e das glândulas adrenais são indicados, porém eles dependem de uma avaliação médica que leva em consideração idade, história, exame físico; 

Cuidados: Pacientes com problemas renais devem controlar a pressão arterial rigorosamente visando retardar a progressão da doença renal e reduzir o risco de lesões cardiovasculares. Vale ressaltar que pacientes renais têm risco cardiovascular altíssimo, extremamente maior que a população geral, sendo essas doenças a primeira causa de óbito nesse grupo. 

TRATAMENTO 


Samira Pichelo recomenda que o paciente procure ajuda médica sempre que apresentar algum sintoma relacionado à hipertensão. Além disso, ela indica que é importante haver uma avaliação médica se houver predisposição para o desenvolvimento da hipertensão, como histórico familiar da patologia e demais doenças riscos para a condição, como obesidade, diabetes, colesterol alto e tabagismo. 

“Na ausência desses fatores, em geral, o indicado é que os homens incluam o check-up na rotina médica a partir dos 35 anos. As mulheres, por sua vez, devem iniciar aos 40 anos. Isso porque é assim que o diagnóstico da hipertensão, por meio da medição da pressão arterial, será feito. O diagnóstico precoce é importante para evitar complicações da doença e o desenvolvimento de outras doenças cardiovasculares e/ou morte.” 

A partir disso, o melhor tratamento é indicado pelo médico cardiologista. Para os não hipertensos, o tratamento não medicamentoso é sempre o mais indicado, como mudança de hábitos de vida. Caso necessário, a prescrição médica de anti-hipertensivos será instituída para controle adequado dos níveis pressóricos. 





PREVINA-SE! 


Com cuidados e uma vida saudável é possível sim evitar a hipertensão. “Para isso, é importante manter o acompanhamento periódico dos níveis pressóricos, propiciando o diagnóstico precoce da doença e o controle dos fatores de risco associados, por meio da modificação do estilo de vida”, afirma Samira Picheli. 

Cid Pitombo dá dicas: “Muitas doenças podem ser evitadas se diminuirmos o fumo e álcool excessivo, alimentos industrializados e ultraprocessados, que são carregados de sódio, se abandonarmos de vez o sedentarismo e, ao menos, dormirmos sete horas por dia. Fazendo essa rotina, já vai ajudar a aliviar o estresse, grande provocador de hipertensão. Pode-se completar com atividades prazerosas, como ouvir música, dançar, ler um bom livro, brincar com crianças ou animais e tantos outros hobbies ou atividades que trazem calma, conforto e alegria.” 

Quanto à alimentação saudável, Samira Picheli recomenda evitar o consumo de produtos ultraprocessados, observar o rótulo dos alimentos, evitar aqueles com alto teor de sódio, procurar comer mais alimentos in natura, usar e abusar das ervas aromáticas e especiarias na cozinha e evitar temperos prontos.

“Já a prática de atividade física regular é recomendada pela OMS para prevenção de doenças, entre elas a hipertensão arterial, sendo no mínimo 150 minutos por semana para adultos e 300 minutos por semana para crianças e adolescentes.” 

E, se o sódio atrapalha o controle e prevenção da hipertensão, os alimentos ricos em potássio podem ser grandes aliados. É o que afirma Raquel Carreiro, nutricionista da Fresenius. Confira uma dica de alimentos ricos em sódios para se evitar e, também, uma de alimentos ricos em potássio para investir e incorporar na alimentação: 

Evite sódio: Embutidos (salsichas, salames, presunto, peito de peru, mortadela, queijos curados), molhos de tomate industrializado, biscoitos industrializados, refrigerantes, temperos artificiais para comida, lasanhas semiprontas, pizzas semiprontas, batata frita industrializada, macarrão instantâneo com tempero, molho shoyu, entre outos. 

Invista em potássio: Banana, abacate, goiaba, mamão, laranja, água de coco, feijão, castanhas, nozes, chocolate amargo, tubérculos (batatas, inhame, aipim) vegetais (todos: couve, espinafre), beterraba, tomate, brócolis, carnes (consumir de preferência as magras, peixe e frango), grão de bico e lentilha. 

Atenção! Procure um médico especialista antes de inserir os alimentos ricos em potássio na alimentação.
 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram