Jornal Estado de Minas

SAÚDE

COVID-19: Medidas de prevenção para conter o vírus


Mesmo diante de tantas polêmicas sobre a COVID-19, certo é que as medidas de prevenção ao coronavírus, de conhecimento geral, devem ser mantidas e seguidas à risca, mesmo para quem já foi vacinado. Isso ganha ainda mais importância diante do processo lento da vacinação que ocorre até agora no país e do surgimento de variantes do coronavírus mais infecciosas, o que já vem acontecendo, e que eventualmente demandem atualizações nos imunizantes.





É o que reforça o médico infectologista e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco. "Até o momento, não existe nenhum tratamento farmacológico, nenhum remédio com eficácia comprovada para a COVID-19", diz.

O médico generalista Luiz Marcatto trabalha no Centro de Saúde Jardim Leblon, em Venda Nova. Conta que poucas pessoas solicitam o kit Covid, mas, ao mesmo tempo, outras confessam que fazem uso dos medicamentos por conta própria. Os relatos geralmente são de sintomas leves, como diarreia, dor abdominal e dor de cabeça.
 
 

"Estimulando o uso de remédios que não servem, a pessoa fica confiante de que vai ficar tudo bem, que não vai ser grave, quando isso não é verdade. E acaba descuidando das medidas de segurança porque acredita no remédio"

Luiz Marcatto, médico generalista do Centro de Saúde Jardim Leblon, em Venda Nova 
 

Por outro lado, ele conta também que recebeu a informação, por grupos de mensagem entre médicos, de uma situação com um paciente de 30 anos, em Belo Horizonte, que está na espera de um transplante de fígado devido ao uso de ivermectina, além de outro paciente, de 34, que recebeu em um plantão e logo precisou ser transferido para a urgência, com piora substancial no quadro clínico – estava com COVID-19 e tomando ivermectina sem orientação médica.



Luiz Marcatto diz que defende a educação na consulta. Não simplesmente descarta a prescrição, mas explica de onde vêm as informações, qual o motivo dos riscos dos fármacos, fala sobre os dados científicos. "Sobre indicar o tratamento precoce, há vários perigos. Estimulando o uso de remédios que não servem, a pessoa fica confiante de que vai ficar tudo bem, que não vai ser grave, quando isso não é verdade. E acaba descuidando das medidas de segurança porque acredita no remédio", alerta.

O nefrologista Fernando Lucas diz que não prescreve o kit Covid, para ele, inclusive, uma denominação que generaliza o tema. Indica alguns tipos de medicamentos em situações específicas, de forma individualizada, com o devido acompanhamento médico – o que ele chama de atendimento precoce. Em alguns casos, já recomendou corticoide e o anti-inflamatório colchicina, diante de risco de inflamação pulmonar, além de anticoagulantes.

"A forma como tem sido tratado o tema está mal encaminhada. O importante é o acompanhamento individual, o acolhimento, o paciente ter um médico de referência, de confiança. Está comprovado que esses remédios não têm efeitos benéficos. Não fazer mal não é motivo para prescrever ou não. Tem que haver evidência de que faz bem", diz.





SEM OPÇÃO 


Para o infectologista Guenael Freire, é muito difícil para o médico não oferecer nenhuma possibilidade de tratamento ao paciente, especialmente diante de uma doença potencialmente grave, que pode levar à morte. Tudo o que se tem falado sobre a pandemia muitas vezes gera situações de pânico entre a população.

"É difícil argumentar com o paciente que não existem tratamentos específicos. O que se tem são remédios para amenizar sintomas, com alerta sobre os sinais de gravidade. É uma angústia para o médico também", diz. Para Guenael, o que acaba acontecendo é muita gente se apegando a evidências frágeis com relação a medicamentos, até para ter a sensação de que está fazendo alguma coisa. "Não há ação direta sobre o vírus entre os antivirais, ou medicamentos que poderiam modificar a imunidade nos quadros leves. Mas não fazer nada é complicado", continua.
 
 

"É difícil argumentar com o paciente que não existem tratamentos específicos. O que se tem são remédios para amenizar sintomas, com alerta sobre os sinais de gravidade. É uma angústia para o médico"

Guenael Freire, infectologista
 

O que existe até o momento são drogas indicadas essencialmente para os casos moderados, quando já é preciso a suplementação de oxigênio, como corticoides ou anticoagulantes. Para quadros leves, praticamente todos os remédios são inócuos, e podem surtir efeitos colaterais sem nenhum benefício terapêutico. "Na etapa mais grave da COVID-19, com o paciente com necessidade de ventilação mecânica invasiva, não há tantos medicamentos. Corticoides e anticoagulantes também podem funcionar, mas mais como medidas de suporte. Em qualquer que seja a situação, há que se atentar para o uso excessivo de medicamentos", recomenda Guenael.





E a cada dia crescem os índices de contaminação no Brasil – o país tem hoje o maior número de notificações e mortes pela COVID-19. "Vivemos uma crise sanitária grave, sem precedentes, e também uma crise humanitária (pessoas estão morrendo sem atendimento), uma crise política e uma crise ética. As pessoas não podem não se importar com a vida do outro. A vida humana é valiosa. É fundamental tomar atitudes responsáveis. Hoje, a agenda que está dada no Brasil é a do egoísmo, do individualismo, da divulgação de mentiras infundadas. Isso está nos levando ao colapso. Essa é, infelizmente, a política da morte", conclui Gerson Salvador.

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