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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Tatuagem na terceira idade: memórias marcadas na pele

Paixão antes restrita aos mais jovens, a tatuagem caiu no gosto da terceira idade.


28/03/2021 04:00 - atualizado 25/03/2021 14:17

A vendedora Élida Martins, de 66 anos, fez sua primeira tatuagem há cerca de dois anos e já tem 11 espalhadas pelo corpo
A vendedora Élida Martins, de 66 anos, fez sua primeira tatuagem há cerca de dois anos e já tem 11 espalhadas pelo corpo (foto: Arquivo pessoal)

Muitas pessoas da terceira idade abandonaram medos e preocupações para amar o que são e até mesmo abrir corpo e mente para receber novas marcas sociais: as da tatuagem. Uma paixão antes conhecida como de jovens “rebeldes”, agora é parte do ser de idosos e pessoas mais maduras na vida. “Até certo tempo atrás, homens e mulheres mais velhos tinham de ser caretas. Quem tinha alguma tatuagem no corpo era, com certeza, algum ‘revoltado nos tempos da juventude’. Mas a expectativa de vida tem aumentado e a terceira idade está se redescobrindo e ficando cada vez mais jovem”, afirma o tatuador mineiro Marcos Sousa.

“Eles estão viajando mais, trabalhando mais, reinventando-se, recolocando-se no mercado de trabalho, praticando mais atividades físicas, namorando, saindo e se divertindo. Eles estão cheios de vida, planos, sonhos e juventude. E é esse espírito mais jovem e o maior acesso à informação que têm feito com que a prática da tatuagem, antes repleta de preconceitos e tabus, se torne cada vez mais comum nessa faixa etária. Afinal, aquele estereótipo de vovô e vovó de bengala já era. Nunca é tarde para começar e nada mais justo que marcar na pele aquilo que desejam.”
 
A vendedora Élida Martins, de 66 anos, é a personificação perfeita desse cenário. Ela, que fez a sua primeira tatuagem há cerca de dois anos, conta que sempre teve vontade de marcar na pele desenhos ou memórias, mas, na juventude, por não conhecer muito sobre ou até mesmo pela tatuagem não ser tão popular na época, apenas se restringia a admirar a vizinha que tinha belos desenhos nos braços.

“Não existiam tantos profissionais tatuadores no mercado também, era algo praticamente impossível. Eu até tinha uma vizinha que tinha frases no braço. Ela era estrangeira e eu ficava encantada, mas nunca tinha perguntado para ela sobre quem tinha feito, se doía, nada. O tempo foi passando e fui aprendendo mais sobre o universo da tattoo e me tornei ainda mais interessada pela arte”, relata Élida, que destaca, ainda, que do interessar ao fazer demorou um pouco, pois, além do alto custo, era preciso escolher bons profissionais.

“Foi aí que meus filhos começaram a tatuar. Primeiro foi o mais velho. A tatuagem ficou linda e foi feita com um excelente profissional. Depois veio minha outra filha, a Bruna, que também apareceu em casa com uma tattoo nas costas. Passado o tempo, minha neta, Letícia, também decidiu tatuar. A primeira dela nas costas é apaixonante. Eu ficava horas admirando. Atualmente, ela é tatuadora e todas as minhas tattoos foram feitas com ela, exceto uma. O primeiro desenho que fiz foi uma rosa e uma mandala no braço.” 

E a vendedora não parou por aí. A paixão veio com força e ela já tem até mais duas tatuagens marcadas, além das 11 gravadas pelo corpo. As próximas marcas na pele ganharão a forma de uma borboleta e uma mandala. Para ela, as tattoos representam mais que linhas e traços: é amor e força.

SONHO REALIZADO 


Sergio Canesso Viegas, de 59, também se rendeu às tatuagens um pouco mais tarde que na juventude. Ele conta que adiou o sonho de marcar a pele com desenhos em razão da carreira profissional. “Antigamente, tinha um pouco de receio, pois comecei a trabalhar no mercado financeiro na década de 80 e era um mercado muito preconceituoso e fechado com relação a tatuagem. Eu trabalhava em uma empresa em que os próprios donos eram muito preconceituosos.”
 
“Hoje, o mundo é diferente, o pensamento é diferente, mas, naquele período, ainda sob o regime militar, havia um extremo preconceito. Em função disso, acabei adiando o sonho e foi o que me motivou a fazer tattoo mais tarde. Acabei esperando a oportunidade para poder fazer os desenhos”, diz.
 
(foto: Jean Junior/Divulgação)

"É esse espírito mais jovem e o maior acesso à informação que têm feito com que a prática da tatuagem, antes repleta de preconceitos e tabus, se torne mais comum nessa faixa etária”

Marcos Sousa, tatuador  

Ele tem duas tatuagens, ambas feitas em 2020, mais precisamente em fevereiro e agosto do ano passado. E elas são carregadas de simbolismo, uma vez que fazem parte do cumprimento de um sonho e de um desejo de jovem sendo alimentado. “Escolhi os desenhos em cima de algo de que eu gosto muito, que é a arte. Não gosto muito de arte abstrata, mas sim da concreta. Gosto de desenhos com formas e significados. Mesmo que não tenha para outras pessoas, ele tem de ter significado para mim.”

A primeira tattoo que escolheu foi uma caveira com ‘rock and roll’ escrito. Ele decidiu por esse desenho porque gosta muito do estilo musical e escuta até hoje o som. “O simbolismo de uma caveira escutando rock é de que eu vou escutar até morrer.” A segunda tattoo é um relógio e tem uma pessoa adulta abraçando uma pessoa mais jovem. “Sou eu hoje abraçando o que fui no passado. Algo que reflete que estamos sempre presos às escolhas que fazemos, aquilo que colhemos por conta de nossas ações. Todos somos um pouco nostálgicos. Tem muito a ver com o tempo, pois nossa permanência na Terra é curta e nosso presente, passado e futuro estão sempre muito ligados”, diz.

NOVAS TÉCNICAS 


Há quem teima que, com o tempo, a tatuagem se perca ou com o amadurecimento da pele ela se “desconfigure”. É verdade, isso tende sim a ocorrer, conforme explica o tatuador mineiro Marcos Sousa. “Hoje, as informações estão ao alcance de todos. Os materiais estão cada vez mais modernos e os profissionais com muito mais conhecimento sobre novas técnicas e materiais.”

Segundo ele, à medida que os anos passam, é possível retocar as tatuagens e mantê-las com a mesma cor e intensidade. Mas ressalta que a pele realmente vai ficando mais fina e flácida e isso pode descaracterizar alguns desenhos. “Porém, não prejudica em nada a real função da tattoo.”

Justamente por isso, ele destaca que não existe um tipo de desenho especifico para “os mais velhos”. Isso porque tudo está relacionado ao desejo e gosto do cliente. “Muitos tendem a querer desenhos ou fotos que homenageiem entes queridos, algo que tenha algum significado, lembranças e recordações. Já outros, porém, têm preferência por tatuagens orientais tradicionais, outros querem tatuar animais, frases, corações, flores, entre outros. Vai do gosto de cada um, varia muito”, aponta.

Nesse cenário, Marcos Sousa explica que o primeiro passo para gravar na pele memórias ou desenhos é escolher bem o profissional. “Cada vez mais, consegue-se imprimir e eternizar aquilo que o cliente quer que seja feito com traços mais finos e tintas melhores. Atualmente, independentemente da idade, vale procurar um estúdio e tatuador profissional qualificado e especializado em determinado estilo que o cliente deseja para que a experiência seja a melhor possível”, recomenda.

CUIDADOS 


Para além de se eternizar memórias ou desenhos na pele, mantê-los requer muitos cuidados, o que, na terceira idade, pede ainda mais cautela. Isso porque, conforme destaca Marcos Sousa, à medida que os anos vão passando, corpo e pele sofrem mudanças relacionadas ao envelhecimento.
 
É quando há queda na produção de colágeno, tornando as camadas da pele mais finas. Além disso, com a diminuição das glândulas sebáceas, a pele tende a ficar mais seca. “Tudo isso torna o processo de cicatrização mais lento. Por isso, o creme cicatrizante deve ser usado durante todo esse processo. Além disso, é importante que, após a realização da tatuagem, os cuidados com a hidratação da pele sejam mantidos”, explica o tatuador mineiro.

*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram


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