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Estado de Minas RISCO À SAÚDE

Ivermectina em excesso pode lesionar o fígado, alerta especialista

Estudioso do medicamento há 25 anos, professor da UFPR Marcelo Beltrão Molento avisa que remédio é indicado apenas contra parasitas e não é eficaz para a COVID


10/02/2021 15:58 - atualizado 10/02/2021 18:28

Uso do medicamento não tem comprovação contra o novo coronavírus
Uso do medicamento não tem comprovação contra o novo coronavírus (foto: Luis Robayo/AFP)
Apontada como uma alternativa de tratamento contra a COVID-19, a ivermectina, usada normalmente no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas, entre elas as causadas por piolhos e sarna, não deve ser usada contra a COVID-19 e é perigosa quando aplicada em dosagem alta. Essa é a avaliação do professor universitário de veterinário Marcelo Beltrão Molento, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que estuda a ivermectina há 25 anos. "Não é recomendada a ivermectina para tratamento de nenhum outro tipo de doença para o qual não é indicada. Para a COVID, é um tratamento que ninguém ainda conhece", pondera.


"Se o paciente for submetido a uma dosagem entre 10 a 30 vezes maior que a dose terapêutica indicada para parasitas, como é o que está sendo prescrito para a COVID-19, há uma grande possibilidade de intoxicação. Entre um a dois dias após a ingestão, já podem começar as reações adversas", alerta Marcelo.

Entre os efeitos negativos da ivermectina estão as doenças hepáticas, como degradação das células e parede do fígado e a hepatite medicamentosa, problemas de intestino, como diarreia, problemas relacionados a disfunções no sistema nervoso central, como tonturas, vômitos e sono profundo. Marcelo cita o caso de um paciente que foi submetido ao fármaco e passou 24 horas dormindo, o que é arriscado até para ocasionar um coma e, em situações mais severas, até a morte.

Já para o uso recomendado na bula, para tratamento de parasitas, ele conta que se trata de uma droga extremamente segura para seres humanos. "Como medicamento antiparasitário é recomendado", diz. O problema é a aplicação em situações para as quais não está prevista a eficácia terapêutica. É recorrente o risco de surtir intoxicação quando em doses elevadas, como o que vem acontecendo no caso do coronavírus.


Jovem terá que fazer transplante 


No último sábado, o pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT) relatou pelo Twitter o caso de um paciente que, após contrair a COVID-19 e usar a ivermectina por uma semana, desenvolveu hepatite medicamentosa e pode ser necessário um transplante de fígado, o que ainda está em avaliação. A equipe que acompanha esse paciente associa a complicação ao uso do medicamento.

O caso reacendeu o debate sobre a existência ou não de um tratamento precoce contra o coronavírus. Especialistas afirmam a inexistência de medicamentos cientificamente comprovados para fazer frente à doença, enquanto profissionais de saúde têm prescrito substâncias para tratar a infecção, certos de resultados positivos, como por exemplo a ivermectina, a cloroquina, as vitaminas C e D, o zinco, antibióticos e vermífugos.

A indicação da ivermectina para enfrentar o coronavírus começou, segundo Marcelo, por causa de um estudo na Austrália que associou o remédio à possibilidade de eliminar o Sars-CoV-2. A questão é que a pesquisa compreendeu apenas a fase in vitro (em laboratório) sem terem sido feitos experimentos em humanos. A informação acabou se disseminando, e o uso nos seres humanos começou a ser feito, ainda que com dados de eficácia insuficientes e não conclusivos.

"Tenho reservas quanto a médicos que prescrevem a ivermectina. Não têm conhecimento sobre o mecanismo e a ação real da ivermectina como antiviral", diz o veterinário. A droga sempre foi recomendada, por exemplo, para tratamento de parasitas em animais, de uso veterinário. Outra questão é que, em animais, em alguns casos o uso constante acarreta uma resistência desses parasitas ao remédio. Em analogia, se ministrado em humanos, uma possibilidade seria, do mesmo modo, o desenvolvimento de vírus ainda mais resistentes, ou até implicar em mutações do vírus, como forma de "fazer frente" ao fármaco.


Sobre pacientes com COVID-19 que relatam melhoras com a ivermectina, Marcelo também tem ressalvas. "Em muitos casos a doença se manifesta de forma leve. São pessoas que naturalmente iriam se curar, mas, usando ocasionalmente a ivermectina, acabam atribuindo a melhora ao remédio", pondera. Além das medidas de prevenção, o tratamento da COVID-19 passa por outros cuidados cruciais, como boa alimentação e hidratação constante, como lembra o médico.

 

Fabricante não recomenda uso contra a COVID-19


A ivermectina já foi recomendada como eficaz para tratar o coronavírus pelo Ministro da Saúde e pelo presidente Jair Bolsonaro, e esteve em pauta em outra polêmica na última semana. Em comunicado divulgado na quinta-feira passada (4/2) a Merck Sharp & Dohme (MSD), subsidiária no Brasil da farmacêutica Merck, que fabrica a ivermectina, afirmou que o medicamento não consegue combater a infecção ocasionada pelo coronavírus.

O "kit COVID", conjunto de remédios que vêm sendo preconizados para tratamento precoce da doença, vai em sentido contrário a orientações científicas, das autoridades sanitárias e de órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas isso também passa pela liberdade do médico - o Conselho Federal de Medicina (CFM), inclusive, recomenda que cada médico faça a prescrição conforme suas próprias convicções, e essa é uma decisão tomada em conjunto com o paciente.


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