Jornal Estado de Minas

Entrevista/Isabela Capelão - terapeuta e gestora do estresse

Como tornar a vida mais leve no Natal e réveillon



A terapeuta Isabela Capelão, especialista em gestão do estresse e fundadora da Meus Miolos, empresa especializada em soluções personalizadas para uma melhor qualidade de vida, alerta que a aceitação, e não o negacionismo, é o primeiro passo para não se frustrar e nem deixar que os sentimentos negativos e de tristeza invadam o coração. Nesta conversa com o Bem Viver, ela aponta caminhos que podem aliviar e entregar certa leveza diante da pandemia que dilacera tantos e priva a todos.




 
Como não deixar que o isolamento social tire a alegria e a esperança das festas do fim do ano, mesmo com as restrições de convívio?

As restrições de convívio já estão presentes há um tempo. É uma realidade e a primeira coisa é aceitar o que não se pode mudar e nem controlar, por mais frustrante que seja. Isso também não impede que sentimentos negativos e tristeza invadam o coração. É desagradável sim, porém não podemos deixar que a situação abale a emoção mais ainda, a ponto de piorar as coisas. Ou seja, não podemos controlar os fatores externos, mas temos controle sob a maneira de lidar com eles. Segundo estudos de Sonja Lyubomisky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia, os fatores que influenciam a felicidade estão divididos da seguinte forma: 50% genéticos, 40% são as atividades que dependem da escolha individual e apenas 10% são as circunstâncias externas às quais o indivíduo está sujeito. Então, o que fazer? Tirar um pouco o pensamento do que está ruim, do negativo e pensar por um lado positivo, os aprendizados, ampliar a visão, apesar de parecer difícil. Além disso, em vez de deixar prevalecer a reclamação, uma boa pedida é exercer a gratidão: pensar e escrever pelo menos as coisas pelas quais você é grato diariamente e tudo de bom que ocorreu na sua vida ao longo deste ano. Além disso, conversar com as pessoas queridas – mesmo que on-line, resgatar as memórias afetivas. Não há quem nunca tenha dito a frase “esperança é a última que morre”, faça planos. Todos temos alguma história de esperança, pense bem. Sabe aquela sensação de que “isso tem jeito”!?
 
 

Pensando em quem teve de lidar com alguma perda em 2020, como encontrar esperança para viver o Natal e o ano-novo? O que exercitar para encontrar uma razão para seguir em frente?

Uma coisa é fato: todos foram impactados emocionalmente pela pandemia. Otimistas podem ter ficado tristes em alguns momentos, os pessimistas podem ter vivenciado situações alegres. A diferença é que, quando a pessoa é otimista, ela tem mais esperança e acredita que tudo se resolverá e ficará bem, por pior que pareça a situação. E em todos os casos é preciso viver o período de luto, período que tem vários estágios e não é linear. Além disso, é conveniente observar os próprios sentimentos e reações para que haja maior clareza sobre esse processo e os recursos internos para o enfrentamento. Nesse tipo de situação, buscar apoio, encontrar e conversar com pessoas nas quais se pode confiar e se abrir para se sentir emocionalmente seguro são de extrema importância. O professor, médico neurologista e psiquiatra Viktor Frankl, após sobreviver aos horrores dos campos de concentração nazistas, escreveu o livro Em busca de sentido, criou a Logoterapia e a teoria sobre o sentido da vida. Ele relata que não podemos evitar o sofrimento, porém podemos escolher como vamos lidar com ele e encontrar um sentido nisso. E ainda evidencia a capacidade do ser humano de enfrentar e superar as piores situações possíveis. É a pessoa que determina o quanto resiste e o que se tornará após o acontecimento. Isto é: a essência da existência humana está na responsabilidade do indivíduo. Por isso, é importante ter um propósito para se tornar a razão para seguir em frente. Além disso, a consciência da finitude faz pensar com mais responsabilidade sobre o sentido da vida.
 
Diante dos sentimentos exacerbados nesta época do ano, como lidar com este turbilhão diante da pandemia? Do estresse ao relaxamento? Da ansiedade à resignação?

O fato de aceitar-se e permitir-se ser humano é primordial. Não há por que se obrigar estar bem e feliz o tempo inteiro. É natural em um momento ou outro experimentar emoções negativas, sobretudo diante da situação vivida neste período. O importante é não deixar com que elas permaneçam e nem dominem. É preciso estimular as emoções positivas, que servem como antídotos para as negativas, ajudando a limpar e desintoxicar a negatividade. A pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte Barbara Fredrikson afirma que as emoções positivas são elementos fundamentais para o bem-estar humano. Diante disso, a pesquisadora identificou 10 classes, consideradas emoções-chave: contentamento, alegria, interesse, amor, gratidão, esperança, orgulho, sensação de divertimento, inspiração, enlevo (sentir-se maravilhado). Elas são capazes de nos libertar da prisão emocional e seu impacto na saúde física e mental. Um dos caminhos para fortalecer essas emoções positivas é relembrar momentos em que tenha experimentado tais emoções e vivenciar na mente, trazer à tona, relatar para alguém essa situação e o sentimento, deixar aquela sensação presente por um tempo. Rir junto com alguém é uma ótima forma de amenizar o estresse, a raiva e outras emoções negativas, já que a risada, além de aumentar o bom humor, permite que o indivíduo enxergue as coisas sobre outras perspectivas. Além disso, se dominado por emoções negativas, é importante buscar ajuda profissional médica ou terapêutica.
 
 

O isolamento é necessário e responsável. No entanto, pode intensificar a sensação de solidão. O que tira o sentido das festas. Como agir?

O desânimo e essa sensação de solidão são uma forma de luto, que é considerado na psicologia como perder algo conhecido e que era importante. Essa situação intensifica a incerteza, a insegurança, e traz à tona os medos e sensação de desamparo. O isolamento e a solidão podem ser vistos como um momento de pausa para dar um passo adiante em seguida, um momento propício para refletir e pensar sobre si mesmo. Porém, o ser humano é um ser social e precisa se relacionar com outras pessoas. Então, torna-se importante que o indivíduo busque os contatos e vá ao encontro dos outros, sem ficar apenas esperando. Escolha as pessoas mais relevantes para conviver neste momento. Algumas sugestões é usar a criatividade – uma grande aliada. Trocar presentes, afetividade e carinho de forma diferente, buscar alternativas junto às pessoas para se divertirem – mesmo que de forma on-line ou a distância, ser gentil com as outras pessoas, como cozinhar algo gostoso e oferecer aos outros, e dar risadas. A solitude é um termo usado na literatura e na filosofia e se define como a capacidade de se isolar de maneira positiva e produtiva. Tal capacidade torna-se praticamente obrigatória, pois ela proporciona o crescimento. Pode ser feita a partir da leitura de um bom livro, de ouvir músicas animadas, dançantes ou relaxantes; praticar o autocuidado e fazer coisas para si mesmo. Sem a necessidade constante de estar junto aos grupos e a um grande número de pessoas. É preciso haver um equilíbrio entre solidão e solitude.





Além da confraternização, como passar pelo fim de ano sem carregar mais desafios e peso? O que sugere? 

Diversas pesquisas evidenciam que atos de bondade e ações de cunho social aumentam as emoções positivas, a vitalidade e o bem-estar. Nesse momento, têm diversas pessoas precisando de algo, seja atenção, solidariedade, demonstração de afeto até as mais carentes que precisam do básico para viver. Uma proposta: escolha cinco diferentes atos de bondade – um por semana, simples e sinceros, e que possam ser feitos com pessoas conhecidas ou desconhecidos, sem esperar nada em troca. No final, quem mais sai ganhando é você. Outra boa pedida para o fim do ano é fazer planos para daqui um ano ou mais, quando tudo estiver bem. E imaginar as conquistas em detalhes, tanto materiais quanto experiências e sensações que gostaria de alcançar. Aproveite e coloque no papel essa lista dos desejos e faça planos de ação para colocá-las em prática e concretizá-los. Fim de ano também é momento de reflexão, então aproveite para pensar tudo de bom que aconteceu, os aprendizados gerados por essa pandemia, as habilidades desenvolvidas, agradeça por estar vivo e identifique aquilo que pode melhorar no próximo ano. Além disso, é interessante aproveitar o fim de ano para fazer atividades relaxantes e descansar, descobrir um novo hobby, encher a casa de flores, provar novos sabores e viver novas experiências de forma positiva e engrandecedora. 

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