Jornal Estado de Minas

IMPACTOS DA QUARENTENA

Cera de ouvido: médicos percebem aumento atípico de casos na pandemia

Mais de 100 dias após as primeiras orientações de isolamento social, os impactos na saúde já vem aparecendo para muitas pessoas. A maioria dessas consequências para o bem-estar já foram identificadas, mas outras, um tanto quanto atípicas, vêm surpreendendo médicos. É o caso do acúmulo da cera de ouvido.





"No meu consultório chegamos a 30% de atendimentos para casos de acúmulo de cera de ouvido. É um índice comum no verão, mas cerca de quatro vezes acima do esperado para o inverno", comenta o otorrinolaringologista e colunista do Portal Uai, Alexandre Rattes.

O maior uso do fone de ouvido é a principal suspeita de motivação para o aumento do número de casos. "Por conta das reuniões on-line, as pessoas passam basicamente todo o tempo de expediente com fone, em sua maioria de modelos auricular ou intra-auricular, que entra na orelha. Isso faz com que a cera seja empurrada e, a medida em que acumula, acaba entupindo", explica.

A cera de ouvido produzida geralmente é expelida naturalmente, mas o uso do fone de ouvido acaba interrompendo esse fluxo. Os principais sintomas do entupimento por cera são o som abafado, a dificuldade de audição e a dor no ouvido. A orientação é buscar um médico.





"Na tentativa de resolver, as pessoas acabam piorando a situação ao usar o dedo, cotonete ou água. O uso da água morna faz com que a cera amoleça, fique mais fluída e tampe ainda mais o ouvido. É o motivo de o entupimento ser mais comum no verão, inclusive. O cotonete pode empurrar ainda mais a cera para o canal auditivo e o dedo pode infeccionar. A orientação é procurar um médico", alerta Rattes.

Para evitar o problema, a solução pode ser o uso de outros modelos de fone de ouvido. "O ideal nesse caso é usar o headphone, aquele modelo de concha nos ouvidos, ou parar de usar o fone", orienta.

Mudança no perfil de consulta


Outros problemas um tanto quanto "atípicos" começaram a aparecer nos consultórios de otorrinolaringologistas durante a pandemia - causados, principalmente, por estresse e angústia.

"Algumas pessoas também aparecem com uma suposta dor de ouvido que, na verdade, é bruxismo. Passa a apertar e ranger os dentes enquanto dorme porque está estressada, tensa ou agitada. Nesse caso, a orientação é buscar atividades físicas e/ou relaxantes, evitar a cafeína e manter hábitos saudáveis", esclarece Rattes.

A quebra na rotina e o aumento do uso de aparelhos eletrônicos também podem causar problemas relacionados ao estresse.
  
"Não só para o bruxismo, mas para todos os problemas relacionados ao sono, o ideal é fazer o que chamamos de 'higiene do sono', que é desligar de aparelhos eletrônicos mais ou menos uma hora antes de dormir. Evitar ver filmes, séries ou jornais que podem te deixar agitado. E, claro, tentar manter uma rotina", conclui.




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