Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Coronavírus: quais são seus planos para depois da pandemia?


Com a vida em ritmo mais lento, muitos têm o privilégio de lidar com o tempo de maneira diferente. Deixar de correr contra o relógio, de agir de forma automatizada para, passados dois meses de isolamento social e de quarentena impostos pela pandemia do novo coronavírus, uns mais outros menos, começar a planejar o futuro. É saudável que cada um faça planos. Quais são os seus? A vontade de que tudo volte, ao menos, próximo da realidade vivida até fevereiro de 2020 pode ser impulsionadora de desejos, projetos, mudanças, reviravoltas e criações que podem ou não vir a ser concretizados. Mas é essencial para a sanidade, para o bicho social homem, para a existência da espécie.





O que vai fazer quando a tão sonhada “liberdade” chegar? Seja por considerações filosóficas, psicanalistas ou literárias, certo é que o planejar, o sonhar, o desejar e o fazer encontram-se nos fundamentos da própria criação do homem. “Penso, logo existo”, nos presenteou o francês René Descartes ao nos inspirar a, se existimos, se ainda não somos chips de computador, criar, ter planos, imaginar e evoluir. Se vai executar neste momento não importa, pensar o que fazer já é um passo.
 
O que mais Fernanda Rocha Vidal, mestre em economia de transição, tem feito neste período são planos. Ela está com 25 semanas de gravidez e à espera de Benjamin, com previsão para o fim de agosto. Planejar, sonhar, buscar objetivos e traçar metas são todas as possibilidades que mãe e filho vão ter pela frente: “Impossível não fazer planos. Penso muito que o Benjamin chega para ajudar a construir. Espero que a geração dele ofereça algo melhor e esperança, que saia revendo aquilo que nos permita cuidar do outro e do planeta. Espero que não passe pelas desigualdades que vivemos hoje e nem tenha de lidar com reações autoritárias e concentração de renda. O desejo é que esta crise possa se traduzida em um mundo mais justo. Ainda que não tenha garantia de nada”.

Fernanda ressalta este tempo de pausa como abertura para refletir sobre escolhas pessoais e comunitárias e para (re)imaginar um futuro possível: “Tive chamados. Viver o presente, o que importa, o que é essencial, fortalecer as conexões e estar mais próxima da família e dos amigos. Estou aprendendo a cozinhar, quero ser mais independente, ter mais habilidades essenciais – o faça você mesma –, ter mais laços comunitários fortes. Este tempo também tem servido para nos dar conta de como valorizamos pouco, por exemplo, os trabalhadores que estão na linha de frente da pandemia, dos enfermeiros aos lixeiros. Espero que alguns hábitos de hoje, desnecessários, sejam descartados”.





Para Fernanda, formada em engenharia de produção, o isolamento não a fez rever a vida profissional, como tem ocorrido com muitos. “Já fiz essa mudança no passado e, hoje, tenho certeza da minha escolha e acredito que trabalho com temas importantes, essenciais, que é o produto agroecológico, a valorização do produtor local, a ecologia integral, a conexão com a natureza e a liderança facilitadora. Viver de acordo como bem lembrou o papa Francisco, consciente de que o ambiente social e o ambiental não são organismos separados.” Ela é sócia da Casa Horta (negócio alimentar saudável e ecológico) e coordenadora da Casa Gaia – Centro de Referência Agostiniano em Ecologia Integral, um espaço conceitual, formador por uma grande teia de cooperação para inspirar e fazer ocorrer o cuidado com a chamada casa comum, a de todos.

Fernanda tem projetos ambiciosos, genuínos e desejo de transformação. Ela revela que o confinamento e tudo que tem aprendido nesta reclusão a despertou para a vontade de se envolver politicamente, seja apresentando propostas dentro da sua atividade profissional para candidatos ou, quem sabe, sendo uma candidata. “É forte a necessidade de fazer algo com mais alcance, para mais pessoas, entrar neste espaço, propor diálogos e ações. Não usava tanto o contato on-line. De repente, descobri que funciona e até participo de um grupo de estudos em parceria com a Escola Schumacher Brasil, com discussões ricas, frutíferas, com novas visões de economia e o desejo de alinhar com parte do mundo que já discute a riqueza de um país pelo indicador de bem-estar, não do PIB. Quero me aproximar dessas propostas. Agir para fazer a diferença”, diz.

PLACAS TECTÔNICAS Com todos os significados trazidos pela pandemia do novo coronavírus, até que ponto é importante pensar no futuro? É possível planejar? Há espaço para planos? Como retomar a vida? Quais caminhos seguir? É hora de ter aspirações? E de mudar? A psicóloga Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Estácio, explica que agir assim é da condição humana. No entanto, alerta que deixar a vida levar não é a melhor escolha, porque ela requer um remador para direcionar o barco para onde cada um quer ir.





Até porque, na visão dela, a vida não é uma lagoa parada, mas um mar em movimento. É importante saber para onde o desejo aponta. O que não pode é confundir isolamento com falta de movimento. Há um baita movimento da vida como um todo e também com a de todos em particular. As placas tectônicas estão se mexendo. Por isso, é tempo ideal para se perguntar aonde quer ir, a qual lugar quer chegar, para onde estava indo.

Para planejar e pensar no futuro, a psicóloga enfatiza a necessidade de as pessoas se auto-observarem, uma vez que pode gerar ansiedade e é importante não criar potencializador com a premissa que tem de fazer planos e definir metas para o momento da saída do distanciamento: “Planejar deve gerar certo conforto emocional, um pensamento orientado, e não criar expectativa ou perspectiva rígida de que algo tem de acontecer. É importante que cada um possa tomar decisões e se comportar não impulsivamente e, sim, com alguns critérios que são resultados do que a pandemia gera. Ou seja, pensar antes de agir”.

Fernanda Mafra lembra o trabalho de dois psicanalistas, Freud e Winnicott, para destacar o valor da fantasia, do brincar e da realidade neste momento para a construção de uma vida saudável: “Temos à disposição um processo mental que é o fantasiar consciente, como recurso importante para amenizar o desconforto e o mal-estar do momento presente, que alivia as tensões. Nesse sentido, é preciso ter consciência de que fantasia está à disposição. E o pensar criativamente também, como parte do planejamento realizável e possível que vai garantir a manutenção de coisas que foi preciso resgatar. É possível se beneficiar e pensar para mudar comportamentos que sejam favoráveis à existência e à vida em comunidade”.





Então, hoje, este é o convite do Bem Viver: desconectar-se do caos causado pela COVID-19 acalma o coração, organiza os pensamentos e coloca de maneira clara e real para você o que vai fazer quando tudo isso chegar ao fim. Vai passar. Sonhar é de graça. Planejar também.
 
Os advogados Bianca Silva Rabelo e Lucas Batalha Marreiros estão noivos e organizam o casamento, marcado para setembro (foto: Arquivo Pessoal )


Planos para ressignificar a vida
 
Um dos lados positivos do ter de ficar em casa para se proteger e cuidar do outro é que sempre sobrará um tempo para cada um planejar o que fará quando tudo isso passar. Porque vai passar. Se tudo vai ser diferente e novo não sabemos. A previsão é de mudanças, de comportamento, de ações e atitudes. Enquanto o futuro não chega, nada como viver o presente pensando no que virá e como cada um vai estar inserido na vida pós-pandemia. Há quem faça planos, quem pretenda seguir os antigos ou ainda quem vai ter de adaptá-los.

A advogada Bianca Silva Rabelo e o noivo, Lucas Batalha Marreiros, também advogado, estão de casamento marcado para setembro. A data não mudou, avisa, mas o planejamento foi todo modificado. “Reduzimos consideravelmente o número de convidados, não é o momento ideal para algo maior. Muitos parentes do meu noivo moram em Brasília e no interior de Minas e não vão conseguir vir. Desde o primeiro dia da quarentena já sabia que teríamos de fazer mudanças. Não quero me sacrificar financeira e emocionalmente.”





Celebrar é fundamental, mas ela aprendeu a valorizar o mais importante, ver o lado bom de tudo isso, que é estar cercada da família e dos amigos próximos, que são seus alicerces. Será o conforto maior. “Pedi a Deus para me guiar no que fazer. Ele me respondeu em meio ao caos que vivemos que, na frente, vamos colher frutos esperançosos, vamos voltar diferentes, mas melhores, acredito.”
 
(foto: Arquivo Pessoal)
 
 
Juntos há mais de cinco anos e sócios no escritório Rabelo & Batalha Advogados Associados, Bianca e Lucas também tiveram de mudar os planos profissionais e buscar novas diretrizes para a carreira: “Vimos nossa profissão totalmente à mercê desta pandemia. Tudo parou. Perdemos contratos fixos porque as empresas tinham que reduzir os gastos, processos parados. Tínhamos a intenção de expandir nosso campo de atuação, mas recuamos nos investimentos internos como forma de contenção de gastos. No entanto, no meio desta crise toda enxergamos a oportunidade de fazer parcerias. Já começamos uma com um colega de profissão e tem sido um momento bem interessante de abrir novos horizontes”.

Também surgiu a oportunidade de outra parceria com um escritório de Brasília. Eles estão estudando muito e têm feito atendimentos on-line. “Quando essa pandemia acabar, sabemos que vamos enfrentar um desafio, mas acredito que estamos fortalecidos em Deus e que o nosso escritório vai ter muitas oportunidades. Quero voltar aos atendimentos presenciais, ter o contato com os clientes e tirar do papel os planejamentos”, conta Bianca.





Neste tempo, o amor também fica à prova: “Minha relação com o Lucas é muito boa. Quando começamos a sociedade, tive muito medo de não dar certo, já que sou acelerada e ele mais calmo. Mas vimos com o decorrer dos anos que essas características nos ajudaram a equilibrar o escritório. Tem momentos em que é precisoser ágil e outros em que é hora da calmaria. É um aprendizado diário. E com todas as alterações no casamento não foi diferente. Enquanto eu tinha todas as ideias para adequação da nossa festa por conta da quarentena e já queria tudo resolvido para ontem, ele ia do outro lado me deixando mais calma, que tudo tinha seu tempo. Então, foi um processo em que ambos colaboraram muito. E nossa relação e amor estão a cada dia mais fortes.”
 
Para Bianca, fazer planos sem a família por perto, não é fácil. Assim como não curtir o sítio, lugar de congraçamento de todos, se aconchegar dentro de um abraço, conviver com a afilhada, Maria Vitória, de 9 anos, os avôs idosos, tios e uma turma de primos que via com frequência são obstáculos diários porque são todos bem próximos. Os sopros de alívio vêm dos pais, Wagner e Ana Paula, e da irmã, Maria Eduarda, já que estão juntos em casa: “Acredito que a quarentena veio para que eu visse a necessidade de desacelerar, de valorizar ainda mais a família e dedicar mais tempo às coisas simples, com mais qualidade de presença. Tem sido um tempo de reflexões. Antes, a vida no mundo era de muita ostentação; é preciso pouco para ser feliz”.

MUDANÇAS INDIVIDUAIS Os planos e a revisão feitos por Bianca têm todo sentido. Nietzsche escreveu em uma de suas afirmações mais famosas: “O que não me mata, me fortalece”. E há comprovação científica disso. O posttraumatic growth (PTG), em português, trauma pós-traumático, constructo científico da Universidade da Pensilvânia, que conduz um programa de pesquisas chamado Growth Initiative, revela que uma experiência traumática pode resultar em crescimento e mudanças individuais de cinco formas: encontro de novas oportunidades e possibilidades; relações mais profundas e maior compaixão pelos outros; fortalecimento para desafios; mudança de prioridades e maior apreciação da vida; e aprofundamento da espiritualidade. Ou seja, experiências extremas causadas por ameaças e grandes crises geram o chamado “crescimento contraditório” como resposta.




 
“Essa é nossa capacidade de não apenas superar a crise, mas de realmente ficarmos mais fortes, espertos e resilientes”, explica Flora Victória, mestre em psicologia positiva pela Universidade da Pensylvania (EUA), palestrante e autora do livro O tempo da felicidade, que está sendo lançado pela HarperCollins.

Flora revela que uma das suas grandes inspirações para enfrentar a pandemia vem do psiquiatra austríaco Viktor Frankl. “Durante a Segunda Guerra Mundial, Frankl foi enviado para campos de concentração, entre os quais o de Auschwitz. Lá, em meio a horrores inimagináveis, ele começou a se imaginar num lugar bem diferente, num auditório lotado, no qual ele contava o que havia aprendido com essa experiência para ajudar outras pessoas. Esse propósito foi tão marcante para Frankl que se tornou uma força motriz – ele de fato deu todas as palestras que havia imaginado naquele momento de desespero e provação. Se é possível ter um propósito numa situação como a de Frankl, por que não durante a pandemia?”

Para Flora, fazer planos diante da incerteza é mais importante do que nunca, porque isso dá estabilidade interior em meio ao caos exterior. “Neste momento, há uma série de coisas que não podemos controlar. Mas o que podemos controlar são os nossos sonhos, objetivos e o propósito. Desde que tenha isso, os meios podem ser encontrados.”

É possível se preparar, usar esse tempo para aumentar recursos internos, para se fortalecer. Tem como fazer treinamentos, cursos e workshops on-line. “Cada um pode, por exemplo, aprender a usar suas forças de caráter, a aumentar sua resiliência – que está ligada à sua capacidade de superação. Aprender a desenvolver a carreira, melhorar os relacionamentos e até ser um líder melhor. E isso vai além de fazer planos para pôr em prática quando a quarentena acabar. Investir no desenvolvimento significa que já está entrando em ação.”




 
Para a psicóloga Renata Mafra, professora da Estácio, há muito o que descobrir no isolamento: seja com quem se convive, com a sociedade, com as coisas, com você mesmo (foto: Arquivo Pessoal )
 
Imaginação que movimenta
 
Para que os planos, sonhos e desejos não se tornem uma obrigação e daí, claro, aumente a ansiedade e a pressão dentro do confinamento determinado pelo risco de contaminação da COVID-19, a psicóloga Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Estácio, enfatiza que planejar e definir metas não têm de ser algo novo, mas também pode ser algo que fazia, mas que será retomado com mais consciência, sabor e capacidade de valorizar.

“O psicanalista Contardo Calligaris disse outro dia sobre o querer estar no abraço das pessoas e de se ver livre com a oportunidade de andar na rua. A força da sobrevivência está no desejo que a vida continua. Portanto, nada como apostar na vida, não como ilusão, mas como oportunidade real porque a sombra da morte já é muito presente. Essa condição impõe a verdade da finitude humana e das relações humanas. Como escreveu Renato Russo, 'é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã'. Isso sempre esteve presente, mas na loucura do cotidiano, muitos entraram no automatismo. E, com a pandemia, se assustaram que a vida parou. Pensam que não aproveitaram os filhos, o casamento, os amigos, os pais, o trabalho... Pensar que o mais difícil (para quem pode) não foi comprar o presente do Dia das Mães, mas não estar à mesa. A mesa estava perdendo lugar dentro da casa, ela é vista como espaço de encontro, da conversa. Ela está presente no planejamento do futuro? Tomar consciência de que a vida consome tempo e que ele passa na presença ou ausência do outro.”

Para ajudar neste caminho futuro, que não deve ser de tomadas de decisões impulsivas, a psicóloga cita Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2002, dono de uma obra das mais relevantes da economia comportamental, que no livro Rápido e devagar – Duas formas de pensar, best-seller de 2011, faz uma metáfora ao explicar a forma de pensar, que corrobora outras teorias psicológicas: “Ele fala sobre o quanto os humanos são pouco racionais. O quanto existe na nossa mente o sistema impulsivo, automatizado, rápido e que, muitas vezes, as decisões são tomadas por ele. E como utilizamos pouco, durante um período de tempo, o chamado ‘eu devagar’, que seria o eu racional. Kahneman diferencia ainda o ‘eu experiencial’, que está vivendo a experiência, do ‘eu recordativo’, que após a experiência vai olhar para o passado e recordar o que vivenciou e que pode ser o norteador de algumas tomadas de decisões”.





Fernanda Mafra continua explicando que a questão de fazer plano e executá-lo depois de uma experiência traumática, intensa ou marcante é que, quando passa a experiência, ela tende a ser negligenciada, esquecida, ter problemas de julgamento, até pelo próprio funcionamento da memória. “É o que Daniel Kahneman vai chamar da 'regra do pico final’, que é lembrar mais do final do que de tudo aquilo que a experiência possa ter demonstrado, ensinado.”

Para aproveitar de verdade todo o aprendizado, é preciso se organizar numa perspectiva de criar determinadas ações, comportamentos e hábitos no presente que vão garantir continuidade no futuro. “A que me vinculo hoje que, ao passar tudo isso, posso continuar fazendo? Qual prática, qual ação, qual atitude? É necessário planejar com possibilidade de manutenção de aprendizado para não sair mais impulsivo e irracional de tudo isso, já que nosso sistema de decisão é falho neste sentido.”

INÉRCIA Para a psicóloga, há muito o que descobrir no isolamento. Seja com quem se convive, com a sociedade, com as coisas, com você mesmo e até com o que não sabia que sentia falta: “Penso no filme A vida é bela, e a forma de lidar com o confinamento e com a morte que naquele lugar tinha cheiro, cor e imagem. E que, para sobreviver, foi criada uma fantasia. Sonhar, projetar, ser resiliente na travessia e ter capacidade para olhar para fora do isolamento. O que fazer? O que é importante? Com determinação, humor e alegria, ainda que não tenha limite, terá recursos para ir atrás, ainda que seja utópico ou possível no todo ou em parte. O planejamento sempre pode ser modificado. Toda inércia é psicopatológica, mortificadora, é o contrário da vida. O que nos mantém vivo é o movimento. Vida e morte. Movimento e inércia. Tudo que é construção humana um dia foi imaginada”.





Se planos não fazem parte do seu futuro, a psicoterapia, com oportunidade de acesso bem ampla neste momento, em vários canais e plataformas on-line, pode ser um caminho. Segundo ela, a força do desejo, do projeto, da fantasia de se colocar em movimento é importante. Muitos se identificam com os pensamentos, mas somos mais do que pensamos e sentimos. “Portanto, olhar para aqueles que são sofridos e tóxicos e começar a dialogar com eles. Depressão, ansiedade, angústia. Há saídas que contornam essa realidade.”
 

Palavra de especialista

Tathiane Deândhela, especialista em produtividade, marketing, negociação e liderança e autora do livro Faça o tempo trabalhar para você
 

Era da reinvenção e transformação

“Tem muita gente revendo a rotina, repensando o modo de vida, mas não por opção. O isolamento obriga a essa reflexão, e é neste momento que entra a inteligência emocional, que faz com que o indivíduo consiga avaliar o contexto, traçar novas estratégias, partir para a ação e se transformar, mantendo a positividade em relação ao que está por vir. Tenho alunos escrevendo livros, colocando em prática projetos adormecidos por falta de tempo, mudando completamente de carreira e se reinventando com resultados mais satisfatórios do que antes da pandemia. É o novo se apresentando de forma clara para aqueles que não têm medo do novo. Estamos na era da reinvenção e da transformação. O momento nos convida a sair da zona de conforto, desapegar daquilo que já não faz mais sentido, mudar a forma de pensar e agir, adaptar as novidades e mudanças que a vida está nos oferecendo e usar a criatividade.”

Saída individual e coletiva
 
Não é questão de pessimismo ou otimismo. Fazer um exercício de futurologia sobre como será a sociedade brasileira pós-pandemia, a princípio, é tarefa fácil porque, acreditem, a maioria dos problemas latentes escancarados agora já existiam antes do ataque da COVID-19. Os desafios têm dois ramais: desigualdade e violência, feridas apontadas por Luana Hordones, pós-doutoranda em sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp).





Segundo ela, a pandemia expõe as condições de desigualdade do país em todos os níveis, questões muito caras que colocam em risco um número grande de pessoas, principalmente as populações mais vulneráveis. “A enorme desigualdade social e a desigualdade de gênero são somadas ao histórico de uma sociedade violenta. Atualmente, com o agravante de um governo também violento, que minimiza mortes e não desenvolve políticas públicas de proteção social. Tudo isso à vista porque existe uma naturalização tanto das condições de desigualdade, como da violência na nossa sociedade.”
 
(foto: Arquivo Pessoal)
 
 
Como sair desta encrenca? Mesmo para quem vive em bolhas, Luana Hordones alerta que a pandemia não tem contado nada de muito novo, mas, sim, deixa à mostra as mazelas do Brasil e muitas questões que normalizávamos cotidianamente. Desde a falta de saneamento básico, como o machismo que estrutura a violência doméstica, por exemplo. Se tudo está mais perceptível, e perceptivelmente pior, talvez faça com que ocorra alguma ação de mudança no futuro.

A pandemia expõe as desigualdades que compõem a sociedade brasileira em uma dimensão maior. Diante disso, impossível ser otimista. “No entanto, para supor alguma mudança e pensar em um cenário menos desigual e violento, só vejo como saída a mobilização de recursos em todos os âmbitos e em várias áreas, como a única forma de construir uma realidade social um pouco mais digna. Podemos citar a urgência da defesa da ciência, acesso à educação, a necessidade de um projeto político inclusivo e contínuo para o país, e a construção de condições mínimas de sobrevivência para a população. Temos muito trabalho pela frente, e a pandemia dá este recado. Muito do que era naturalizado ou invisibilizado, agora salta aos olhos. E nada disso não é e não pode ser natural. Espero que em alguma medida haja um movimento, individual e coletivo, neste sentido: precisamos desnaturalizar as inúmeras formas de desigualdade e de violência.”





ESPERANÇA Por isso, Luana Hordones acredita que para construirmos uma realidade mais digna para a maioria da população, e menos violenta para todos nós, precisaríamos que todos se envolvessem de alguma forma, em movimentos diferentes, com os quais se identifiquem ou se aproximem mais. “Isso pode ser feito no âmbito de ação possível a cada um, revendo comportamentos e relações, mas uma transformação mínima da realidade só será eficaz mesmo se tivermos aprendido que toda ação é política e que, vivendo em sociedade, temos que ter responsabilidade e compromisso com os projetos políticos que apoiamos”, afirma.

E não se trata de pessimismo, mas em um contexto em que o distanciamento social seguro e a rotina de higienização (ações básicas para evitar a propagação do vírus) se tornam privilégio de poucos, é preciso estar atento à realidade. “Para construirmos uma sociedade minimamente melhor do que esta que conhecemos agora, necessitamos de ações conjuntas, e nesse sentido toda ação importa. Eu insisto nisso porque tanto a docência quanto a maternidade me impõem uma esperança no futuro, senão deixam de ter sentido.”

COMPORTAMENTO Na prática, o que deve ocorrer na vida futura pós-pandemia? Além dos planos, como os brasileiros devem agir e se comportar? Estudo da Toluna, fornecedora de insights do consumidor sob demanda, identificou as principais mudanças nos hábitos e comportamentos dos brasileiros após a chegada do novo coronavírus ao Brasil e, a partir disso, quais serão as tendências na vida dessas pessoas quando o pico da pandemia tiver sido superado no país.





De acordo com a pesquisa feita entre os dias 8 e 10 de maio com 1.052 pessoas de todas as regiões, os entrevistados afirmaram que pretendem manter hábitos como higienizar todas as coisas que entram em casa (59,5%), cozinhar (49,6%), fazer cursos on-line (43%) e ir ao mercado ou farmácia somente quando for extremamente necessário (40,6%). Quando questionados sobre tendências pós-pandemia, 63,6% das pessoas acreditam que o trabalho remoto irá se manter, assim como educação à distância (58%), busca por conhecimento (57%), novos modelos de negócios para restaurantes (54,3%) e revisão de crenças e valores (49,6%).

Luca Bon, diretor-geral da Toluna para América Latina, conta que desde fevereiro, antes mesmo da confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, a empresa tem dedicado atenção e esforços para ouvir e entender os sentimentos, necessidades e opiniões da população: “Nesse estudo inédito podemos concluir que depois da pandemia os brasileiros estarão mais conscientes em relação à saúde e aos outros, eles perceberam que não estão sós neste mundo. Também estarão ainda mais conectados. Num primeiro momento pós-pandemia, é possível que as relações sejam mais distantes, por conta do medo que ainda estará forte, mas à medida que voltarem à rotina e o medo for se dissipando, voltarão a ser como sempre, quentes. É forte entre os brasileiros o sofrimento pela falta do contato humano, e isso não vai mudar depois da quarentena.”

A pesquisa foi feita com pessoas das classes A, B e C, segundo critério de classificação de classes utilizado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), no qual pessoas da classe C2 tem renda média domiciliar de R$ 4.500 por mês. Contemplou ainda pessoas acima de 18 anos, em todas as regiões brasileiras, com 3% de margem de erro e 95% de margem de confiança. Luca Bon destaca que “em um cenário em que tudo voltasse a funcionar normalmente, mas ainda sem vacina e sem cura para a COVID-19, a maioria das pessoas afirmam que não frequentaria shows (62,3%), cinema e teatros (62%), academias (57,5%), eventos esportivos (56%) e clubes (55,2%).”




 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
 
Respostas na astrologia
 
O que os astros dizem sobre o que o mundo vive e quais são os planos para o planeta e os homens? Desde sempre, a curiosidade sobre o que virá, o que está adiante e o que vai acontecer acompanha a humanidade. Para alguns, as respostas são científicas, para outros, céticos ou não, são interpretações que não levam tão a sério assim. Mas, podem apostar, as previsões fazem parte do universo. Yubertson Miranda, todos o chamam de Yub, astrólogo, numerólogo e tarólogo, formado em filosofia pela PUC Minas (1996-1999), é feito desse caldeirão de distintos conhecimentos que o faz buscar a compreensão dos humanos e do mundo.

No fim de 2019, ele abordou as previsões para o Estado de Minas, no caderno Bem Viver. Na oportunidade, ele não falou da regência do ano, no caso, a do Sol, já que há muitos anos comprovou que não tem relevância diante da importância dos eclipses (os quais costumam ter um efeito de seis meses) e do mapa do ano novo astrológico (20/3/2020 a 20/3/2021). Ele lembra que para previsões coletivas, envolvendo cada país e o mundo, é fundamental estudar na astrologia mundial os ciclos entre os planetas lentos (de Júpiter a Plutão).
 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
Assim, Yub Miranda enfatiza que o eclipse da Lua em 10 de janeiro de 2020 sinalizou a crise econômica e de saúde, com fortes possibilidades de perdas e mortes, porque o eclipse no eixo Câncer-Capricórnio aspectou a conjunção Saturno-Plutão. “Ou seja, eles estão mutuamente se influenciando por estar interligados. Estão de mãos dadas, atuando juntos. Por volta desse dia, foi justamente quando o primeiro caso da COVID-19 foi reportado (31/12/2019), pela China, e quando os EUA assassinaram o general iraniano (3/1/2020) Qassem Soleimani.”





Conforme Yub Miranda, quando esses astros aspectam, algo bem impactante tende a ocorrer no mundo, o que pode representar uma crise profunda diante da qual se demanda uma significativa reestruturação. “Saturno em aspecto com Plutão esteve presente, por exemplo, nos atentados do 11 de Setembro. Na época, o aspecto de oposição: ângulo de 180 graus entre os astros. Uma conjunção ocorreu, por exemplo, no fim da década de 1940 (entre 1946 e 1948). Foi o período pós-Segunda Guerra Mundial, quando o mundo passou por uma considerável reconstrução.”
 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
Yub Miranda assegura que esse eclipse do início do ano no eixo Câncer-Capricórnio durará até 5 de junho de 2020. “Enquanto isso, pelo fato de Câncer ser um signo associado ao lar, à residência, o mundo precisou ficar em casa (Câncer); enquanto a crise econômica e de saúde (Saturno-Plutão em Capricórnio) se fez duramente presente. Os efeitos e consequências durarão muito tempo, representando essa reestruturação. Uma nova ordem mundial terá início em 21 de dezembro de 2020, pois um novo ciclo entre Saturno e Júpiter ocorrerá, desta vez no signo de Aquário.”

Na análise e estudo do astrólogo, a partir de junho, o eclipse lunar de janeiro dará lugar a outro eclipse, o eixo Sagitário-Gêmeos entrará em cena: “Gêmeos representa o comércio, a troca, a interação social e a movimentação pelo ambiente ao redor. Portanto, a partir de junho, o mundo como um todo começará a se abrir para as trocas comerciais e as relações sociais”.





MISTURA DE eclipses Todavia, Yub Miranda avisa que esse eclipse fará quadratura com Marte e Netuno em Peixes. “Netuno e Peixes têm associado com vírus e contaminações. Ou seja, abrir o comércio e interagir com as pessoas (Gêmeos) será algo arriscado e que demandará constantes ajustes (quadratura) por conta de ações e decisões (Marte) que podem gerar as contaminações (Marte e Netuno em Peixes). Em seguida, teremos, logo um mês depois, isto é, em 5 de julho de 2020, um eclipse lunar novamente no eixo Câncer-Capricórnio (todavia, sem aspectar Saturno, mas ainda flertando com Plutão, num aspecto mais distante, mas presente).”

O que isso significa? “Ou seja, por conta dessa mistura de eclipses lunares, não ficaremos tão reclusos como no primeiro semestre, mas poderemos ainda precisar das regras e limites (Capricórnio) e de se proteger em casa (Câncer) para driblar os riscos de contaminação (simbolizados pela quadratura com Marte-Netuno em Peixes do eclipse de junho e pela aproximação com Plutão do eclipse de julho). Talvez a liberdade maior em termos de circulação e livre-comércio virá no eclipse de 30 de novembro de 2020 (também no eixo Sagitário-Gêmeos; e, desta vez, sem a quadratura com Marte-Netuno em Peixes).”

Diante de tudo isso, é possível planejar o futuro? As pessoas podem fazer planos? “Como falei ao Bem Viver nas previsões de 2020, o ano era de muita resiliência diante das dificuldades, demoras e obstáculos. Só não imaginava que seria nesse nível de intensidade. Mas os pés no chão, a responsabilidade econômica e muita perseverança para empreender e fazer nossas metas continuam superválidos. Lembre-se: só podemos mudar a realidade quando aceitamos as coisas como estão. Ficar esperando as condições externas perfeitas é frustrante. Nas crises, temos a oportunidade de trazer à tona dons e talentos que podem ser muito úteis no trabalho e no cumprimento das metas. Essa atitude tem tudo a ver com o céu deste ano, já que o mapa do ano novo astrológico teve esta ênfase capricorniana (Marte, Júpiter, Saturno e Plutão nesse signo). Continuemos dispostos a arregaçar as mangas e pôr mãos à obra para renascer das crises profissionais, financeiras e de saúde. Capricórnio é um signo que pede um alto nível de produtividade e resiliência para superar os obstáculos, com muita disciplina e comprometimento.”