Jornal Estado de Minas

Juntos, ainda que separados

Pandemia do coronavírus impõe novas formas de celebrar o Dia das Mães


Uma data especial que não pode passar em branco. O Dia das Mães ganha novos significados em tempo de coronavírus. Em muitas famílias, essa será a primeira vez em que a ocasião é experimentada à distância. Fundamental é perceber que o afastamento social não é o mesmo que isolamento emocional. Sentimentos como o respeito, a admiração, o carinho e o amor incondicional parecem potencializados quando não se está por perto - se tornam ainda mais importantes, urgentes. Quando o beijo e o abraço apertado não podem fazer parte do presente, mães e filhos reinventam as formas para estar juntos, ainda que separados.




"Está chegando o Dia das Mães e muitos filhos e mães vão passar separados. Alguns por morarem em cidades diferentes, mas muitos que estão na mesma cidade e não podem se encontrar por conta do coronavírus. Muitas mães, inclusive, fazem parte do grupo de risco para a doença. Um data tão especial e não poder estar perto - isso tem causado angústia e ansiedade", diz a psiquiatra Jaqueline Bifano.

"Um data tão especial e não poder estar perto - isso tem causado angústia e ansiedade" - Jaqueline Bifano, psiquiatra (foto: Guilherme Breder/Divulgação)
Para ela, importante é que as pessoas se conscientizem e entendam que esse tem sido um ano atípico, e que o distanciamento físico é uma medida de proteção fundamental diante da pandemia. "O isolamento é um ato de solidariedade com todo mundo, não só entre os familiares. Mas é momentâneo, tudo vai melhorar, ainda que não exista uma perspectiva clara de tempo para isso acontecer", opina Jaqueline.

A psiquiatra lembra que o isolamento social não precisa significar um isolamento emocional. "Vamos fazer uma vídeo conferência, ter um contato visual, conversar, tentar minimizar esse afastamento. Ver se o outro está bem, dar um beijo e um abraço virtual, o que também é uma demonstração de carinho. Não deixar de dizer à mãe o quanto é amada", pontua. Para Jaqueline, essa é uma situação a ser superada. "É hora de um incentivar o outro. Todos estamos aprendendo e vamos tirar daqui uma lição. Pela ausência física, cada vez mais percebemos o valor em estar presente, em contato com quem amamos."



DISTÂNCIA

A relações-públicas Bruna Oliveira Zanotti, de 31 anos, é mãe de Luiza, de 4 anos, e Teo, de cinco meses. Por 10 anos vivenciou a distância da mãe, Vera, de 56, que já morou no Pará, no Maranhão e no Ceará, entre outros lugares. Nesse período, desfrutaram juntas o Dia das Mães em três anos diferentes. Agora, em 2020, faz pouco tempo que Vera voltou à capital mineira, justamente na semana em que teve início a quarentena. Seria uma ótima oportunidade para reunir todos novamente, não fosse o coronavírus. "Infelizmente não vamos passar esse dia juntas. Estamos respeitando todas as recomendações de isolamento social. Qualquer saída de casa pode ser perigosa", lamenta Bruna.

A relações-públicas Bruna Oliveira Zanotti, de 31 anos, teve que desfazer os planos de comemorar a data com a mãe, Vera, de 56, respeitando as regras de isolamento (foto: Arquivo Pessoal)

O pai de Bruna, Hércules, de 55 anos, trabalha e reside em Conceição do Mato Dentro, costumava vir a BH periodicamente, mas com as medidas restritivas está orientado a permanecer na cidade. "Desta vez é diferente, porque eu e minha mãe estamos na mesma cidade e seria o primeiro Dia das Mães com o Teo. Na Páscoa fomos à casa dela, e pela janela do carro a Luiza ficou cantando uma música para ela", lembra. Na dia dedicado às mães, o plano de Bruna é fazer uma chamada de vídeo, comprar pela internet um bom presente para Vera e enviar uma cesta de café da manhã. "Minha mãe sempre fala que está com saudade, mas que é preciso respeitar esse momento - uma simples volta na rua pode ocasionar a infecção."

POR PROTEÇÃO

Michelle Faêda, de 38 anos, e suas duas irmãs, sempre passaram a data com a mãe, Grace, de 60 anos. A cabeleireira é mãe de Caio e Hugo, de 10 e 4 anos, respectivamente. Grace reside em Itaoca, no Espírito Santo, mas a distância nunca foi empecilho para que todos se encontrassem no Dias das Mães - agora é o coronavírus que quebra esse ciclo. Todos os anos, ou a mãe vinha a BH, ou as filhas iam a Itaoca. "Minha mãe mora sozinha e pela primeira vez vai passar esse dia sozinha. Ninguém estará com ela. Isso para lhe proteger e a nós também. Estamos mesmo é preocupadas com a saúde. Além de ter 60 anos, ela é diabética, do grupo de risco", diz Michelle.



Ela não fica tímida em dizer que desta vez também vai faltar o agrado - o presente mesmo será a ligação por vídeo para conectar a família. "Uma maneira de retribuir o carinho que ela dedicou a nós durante toda a vida. O maior presente que podemos dar a ela é preservar sua saúde. Estamos respeitando todas as medidas de proteção", conta.

Na família da administradora Fabiana Faria Sales, de 38 anos, nesse ano o Dia das Mães também será diferente. Ela é mãe de Matheus, de 16, Bianca, de 7, e Duda, de 6 meses. Em 2020, o filho mais velho não vai passar o dia com ela. Ele mora com o ex-marido de Fabiana e optou por estar com a avó paterna, de 73 anos, e o pai, já que a senhora ficou viúva há pouco mais de um ano e vive sozinha. Todos estão em total isolamento.

A administradora Fabiana Faria Sales, com os filhos Matheus, Bianca e Duda, diz que a tecnologia será aliada para demonstrar o amor pela mãe (foto: Arquivo Pessoal)
Os pais de Fabiana, Adir, de 67 anos, e Maria de Faria Sales, também de 67, moram juntos, na companhia de outra filha, de 25 anos, e o grupo fica completo com outro irmão, de 41 anos. O pai e a mãe de Fabiana, além de idosos, são hipertensos, e a irmã é asmática - integram o grupo mais vulnerável quando da infecção pela COVID-19. Fabiana e o marido atual costumavam dividir o Dia das Mães entre as famílias, revezando o encontro no café da manhã ou para o almoço com a mãe de Fabiana e sua sogra. "Neste ano vamos passar o dia na minha casa, eu, meu marido e minhas filhas. Não teremos contato com ninguém", diz Fabiana.



A alternativa vem da tecnologia. "Faremos primeiro uma vídeo chamada com a família do meu marido, seus irmãos e sua mãe, depois com meus irmãos e minha mãe, e depois com o Matheus e minha ex-sogra, com quem também tenho uma boa relação", descreve Fabiana. A administradora já comprou um tablet para a mãe, que será entregue durante a chamada ao vivo. "Minha mãe de vez em quando vê as crianças pelo carro mesmo, de longe. Meu marido leva para ela as compras de supermercado, quando precisa, e deixa na garagem, sem contato. É um momento bem difícil", confessa Fabiana.

O que dá sentido à vida
Estar juntos, ainda que virtualmente, é uma maneira de demonstrar amor e carinho no Dia das Mães. Para neuropsicanalista, muitos valores mudarão e as pessoas vão focar no que importa


O coronavírus ensina para as pessoas o valor das verdadeiras coisas que dão sentido à vida, como os laços familiares, a relação com os amigos, o carinho, a importância de que todos estejam bem, na opinião da neuropsicanalista Priscila Gasparini Fernandes. "Devemos valorizar a família, os amigos, o trabalho. Com toda essa crise e o isolamento, tenho certeza que muitos valores mudarão. As pessoas deixarão de dar importância para coisas pequenas, como o consumo excessivo, e realmente focar no que vale a pena: o amor e a liberdade", salienta.

O coronavírus ensina o valor das verdadeiras coisas que dão sentido à vida, na opinião da neuropsicanalista Priscila Gasparini Fernandes (foto: Arquivo Pessoal)
Nesse contexto, o Dia das Mães ganha um novo significado. "Muito maior que o presente é o desejo de que ela esteja bem e segura, sem o risco de se contaminar. Não é hora do abraço físico, mas podemos ter um contato virtual, mostrar todo o carinho e preocupação, com a certeza de que, quando tudo isso passar, as visitas físicas serão ainda mais valorizadas", pondera Priscila.



A neuropsicanalista lembra que hoje a tecnologia é uma boa aliada. "Dentro do possível, filhos e mães podem fazer uma reunião virtual, conversar, talvez até almoçar virtualmente juntos, o que irá amenizar a falta da presença física. De alguma forma, estar presente e compartilhar este dia, tentando tirar o melhor proveito da situação com alegria e otimismo", aconselha.

Para Priscila, o isolamento social, afora todos os transtornos, convida a refletir. "Pensar na vida, nas pessoas que amamos, nas preocupações que temos, e também sobre como podemos nos adaptar nesse período. Quando tudo isso passar, tenho certeza que haverá uma exaltação das relações presenciais, que serão muito mais prazerosas. Por enquanto, vamos nos prevenir, preservar quem amamos, para que possamos, em um futuro bem próximo, nos encontrar e desfrutar com alegria a presença da família e dos amigos", diz.

TRISTEZA

Roberta de Castilho Henrique, de 39 anos, encomendou o presente pela internet e vai fazer uma surpresa para a mãe, Tânia, de 67 (foto: Arquivo Pessoal)
Roberta de Castilho Henrique, de 39 anos, cuida do filho Vitor, de 5 anos. Sua mãe, Tânia, de 67 anos, vive com seu pai, Paulo, de 69 anos, e ela tem ainda uma irmã, que mora sozinha. A servidora pública federal diz que são todos muito ligados, e não esconde a tristeza em passar o Dia das Mães distante da família. "Nunca passamos separados. É a primeira vez que vou passar esse dia longe da minha mãe. Tenho duas avós vivas ainda, de 96 e 86 anos, e sempre estamos reunidos nessa ocasião. Com o coronavírus, é natural surgir um certo sentimento de depressão, e nessa data parece que piora", reclama.



"Estamos isolados. De vez em quando pego o carro, vou até a casa dos meus pais, nos vemos pela varanda. Também sou mãe, é triste não estar junto." Roberta já encomendou uma cesta de café da manhã para a mãe, e vai comprar o presente pela internet, em uma loja que conhece - no dia, a ligação pelo vídeo também não vai faltar. "Temos muitas memórias boas desse dia em outros anos. Agora ninguém poderá estar com ninguém", diz.

Simone dos Santos Silva, de 44 anos, demonstra toda sua dedicação ao filho, João Antônio, de 6 anos. O pai da analista administrativo é falecido e a mãe, Joaquina, de 66 anos, casou novamente. Joaquina e o marido vivem em uma área rural entre Divinópolis e Igaratinga, no interior de Minas Gerais. A senhora costumava ir a BH quinzenalmente, mas com a pandemia parou com as visitas.

A família de Simone dos Santos Silva (e), de 44 anos, é numerosa e pela primeira vez não vai passar o Dia das Mães reunida (foto: Arquivo Pessoal)

Simone tem outras duas irmãs, de 39 e 37 anos, enfermeiras e empregadas em hospitais da capital, bem na linha de frente contra o coronavírus. As irmãs, inclusive, foram afastadas do trabalho por suspeita de COVID-19, o que já foi, no entanto, descartado. Uma delas vive com seus dois filhos na casa de Simone, também na companhia de João Antônio.



A família é numerosa. No Dia das Mães é festa na certa. A mãe de Simone, suas tias, irmãs, primas, as sogras, os netos - todos sempre se reúnem. "Esse ano não vai ter jeito. É o primeiro que estaremos separados. É triste. Minha mãe, além do isolamento, tem doença autoimune e muitas vezes fica deprimida. Faço vídeos dos meninos brincando e mando para ela", diz Simone, citando uma forma que encontrou para confortar Joaquina.

"Vamos passar o Dia das Mães eu, João, minha irmã e os dois sobrinhos. Faremos uma vídeo chamada, incluindo minha outra irmã. Estamos com a ideia de que as crianças cantem uma música do Roberto Carlos para ela. É chorona. Só do telefone tocar, chora", brinca. "Passar esse dia longe da minha mãe é complicado. Somos muito ligados, gostamos de farra, de festa. É uma família matriarcal, uma coisa bem mineira mesmo", declara Simone.

Hora de ressignificar a data
Em tempos de pandemia, o isolamento social é uma demonstração de amor e cuidado com quem se ama. Neste momento, cabe aceitar o que estamos vivendo para sair fortalecidos



Dia das Mães geralmente é uma data de superlativos. Shoppings e lojas lotados, movimento intenso no comércio, restaurantes, em locais públicos ou com muita gente junta nas residências. Reunião de pessoas especialmente perigosa em tempos de pandemia, quando um ponto essencial é evitar aglomerações. Por isso, a palavra de ordem é ressignificar. É o que diz a pedagoga Luzia Umbelino Borges. "Estamos em um momento bastante delicado. Perdemos o direito de ir e vir, uma verdadeira luta pela sobrevivência. Algo complicado principalmente para as mães que estão no grupo de risco. O sentimento que une pais, mães e filhos é muito forte. Com a pandemia, o que queremos, mais do que nunca, é que nossos filhos estejam bem, em segurança, protegidos, sem nenhum sintoma", declara.



"Temos a oportunidade de perceber a importância do outro. Mais do que nunca saber que somos uma rede, que um precisa do outro", continua. Em uma data que celebra o amor e a gratidão, para Luzia o real significado passa por ceder, iluminar, abençoar, mandar boas vibrações. "E pedir aos nossos filhos que cuidem-se. Esse é o maior presente. Se estiverem bem, estaremos realizadas."

Luzia vive com o marido em Sabará, é mãe de duas moças e tem uma neta criança, todas moradoras de BH. Ela tem 57 anos e desde 11 de março diz que não sai de casa, literalmente. Trabalha em uma escola da rede privada em Sabará, responsável pela coordenação do ensino fundamental. Pouco antes da determinação pela quarentena na cidade, a equipe da escola estava em fase final de um projeto para a Páscoa, e preparando um grande encontro para as mães. Mas tudo precisou ser interrompido.

"Entendemos que não dá para celebrar o Dia das Mães dentro de uma unidade escolar sem beijos e abraços, sem alegria, sem música. É uma ocasião quando reconhecemos a importância vital que a mãe representa na vida de todos. Precisamos também reinventar essa data, como profissionais da educação. Mais uma vez fazendo uso da tecnologia para enviar a elas nossa gratidão, principalmente porque agora se dedicam 24 horas do dia à casa e à família. Muitas estão sobrecarregadas, mas exercendo um papel fundamental."



A pedagoga Luzia Umbelino, de 57 anos, com as filhas Juliana e Luiza e a neta Helena: chamadas de vídeo são a forma que elas encontraram para matar a saudade enquanto não podem ficar juntas (foto: Arquivo Pessoal)

Em época de isolamento, para Luzia é preciso aceitar o que estamos vivendo, ainda que seja tamanho o desconforto. "Sabemos da importância em seguir as diretrizes da OMS, ficar em casa, e mais uma vez nossos filhos e netos dão uma aula de tecnologia. Fazemos chamadas de vídeo para abençoar, rezar à noite, conversar, dar uma olhada, falar do amor, falar da saudade, mas também da felicidade em saber que estão todos seguros. Mesmo que tenhamos que ficar longe, o amor independe da posição geográfica e manter esse amor vivo ou não é uma questão de opção", diz Luzia. Para ela, este também é um momento para se ter esperança. "É o nosso compromisso, trata-se da nossa descendência. Tudo passa e, quando tudo passar, teremos um tempo melhor."

No Dia das Mães, é Luzia quem dedica um gesto de amor para as filhas. Ela vai mandar pelo marido um almoço especialmente feito para elas, com direito a sobremesa. "É um jeito de amenizar a dor. Fazer o que lhes agrada chegar até elas. Enche meu coração de felicidade. É como se estivessem aqui à mesa, com toda a alegria e o sorriso. Depois poderemos nos abraçar de novo. O isolamento social é necessário, mas não impede que estejamos presentes, que repassemos bons valores. Não há pandemia que faça o amor morrer, e sim reacender. Está mais vivo do que nunca", diz. "Tenho certeza que isso está acontecendo com todas as mães", completa.

O coronavírus é o grande tema que envolve hoje todos os setores da sociedade e as atividades humanas, desde as mais cotidianas até os problemas de gravidade mundial. Muito tem sido dito. Para a doutora em psicologia Maria Clara Jost, agora, no entanto, esse é um contexto que toca o âmago do coração, em suas palavras. "Chega-se perto da fonte, da origem, do início de toda interrelação. O princípio do contato, do afeto, do encontro, do cuidado. O Dia das Mães, então, é o grande dia, autorizado oficialmente para que esse afeto, o carinho e o amor, apreendidos desde o útero materno, possam, enfim, ser evidenciados. Mas, como será isso em tempo de coronavírus? Em tempo de isolamento social, de proibição do toque, do abraço e da presença real e em carne e osso?", questiona.



Para Maria Clara, certamente o Dia das Mães de 2020 tem um sentido particular. O esperado momento de encontrar, de abraçar e de expressar o sentimento, ainda que disfarçado e confuso, não poderá ocorrer, ou não poderá ocorrer como antes. Assim, a profissional enxerga precisamente a reflexão: o que poderá ser ou voltará a ser como antes? Esse pode ser o momento de um divisor de águas. "Será que quando tudo passar, quando o rio voltar ao seu curso, ainda seremos os mesmos? E se pudermos ser, será que deveríamos ser?", coloca a psicóloga.

Maria Clara chama à criatividade. Conclama as pessoas a usar a capacidade de criar e inventar respostas inusitadas diante de situações complexas, particularmente nesse Dia das Mães tão diferente. Pode ser uma oportunidade para tirar do desafio que a vida coloca, em esfera ampliada, um aprendizado, parar com a atenção apenas sobre o "não", e mudar o foco para a possibilidade do "sim", e desse modo mirar no que realmente importa: deixar que o afeto apareça e que seja concretizado das mais variadas maneiras.

"Talvez, sem tanta afobação, possamos, de fato, conseguir que a mensagem de gratidão e amor seja acolhida no nosso coração e no coração daquela mãe, de qualquer idade, que não é necessariamente perfeita, mas que foi canal do nosso primeiro encontro com o mundo. Mãe que talvez não esteja mais presente no âmbito mundano, mas que continua eterna no tempo do coração. Mãe que, mais do que nunca, faz falta. A impossibilidade de estar perto, por causa da pandemia, talvez nos faça acordar, precisamente, para a importância insubstituível de sua presença", finaliza Maria Clara Jost.



PALAVRA DE ESPECIALISTA
Maria Clara Jost, doutora em psicologia


O valor do abraço

A psicóloga Maria Clara Jost sonclama as pessoas a usar a capacidade de criar e inventar respostas inusitadas diante de situações complexas, particularmente nesse Dia das Mães tão diferente (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
"Quem sabe esse não é um momento em que a impossibilidade de abraçar, beijar e tocar nos faça enxergar o valor desses gestos? Quem sabe se, ao falarmos ao telefone ou nos comunicarmos pela internet, por meio de uma tela de computador, não iremos sentir, talvez como nunca antes, a falta que faz aquele gesto simples de abraçar, muitas vezes, sem nada dizer? Quem sabe as palavras escritas nos cartões e nas mensagens não poderão agora dizer mais do que jamais puderam dizer, talvez porque eram antes ofuscadas pela falta de tempo, pelo barulho da corrida às compras, pelo movimento de shoppings lotados e pela concorrência de muitos afazeres inadiáveis? Talvez, quem sabe, paradoxalmente, nesse Dia das Mães de 2020, o isolamento social não possa significar, verdadeiramente, aproximação emocional? Quem sabe não seremos agora chamados a trocar muita quantidade por uma dose maior de qualidade? Qualidade nas palavras, qualidade no carinho, no cuidado e no zelo. Qualidade na responsabilidade. Sim, porque talvez estejamos nos dando conta, ao vivenciar o significado da palavra, que a nossa 'resposta', única e individual, tem efeito e impacto no todo, afetando, construtivamente ou não, aqueles que amamos e a coletividade."