Jornal Estado de Minas

COVID-19

Coronavírus: especialista alerta para uso de tabaco, cigarro e maconha

 
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos e, portanto, estão mais suscetíveis a uma contaminação por COVID-19. Isso porque o tabaco e a maconha podem inflamar as vias aéreas e prejudicar a capacidade de resposta das células imunológicas.  

Além disso, pessoas que fumam regularmente são acometidas, com maior frequência, por patologias que comprometem o sistema respiratório, como pneumonia e tuberculose. Dessa forma, este aspecto se torna outro alerta quanto à predisposição de fumantes em desenvolver a doença de forma mais grave, visto que o novo coronavírus também compromete as vias aéreas. 





Alice Gallo de Moraes, pneumologista, médica intensivista e professora assistente de medicina na Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, destaca que o hábito de fumar prejudica o corpo, de forma a aumentar o risco de contágio da COVID-19, bem como a sua gravidade. 

“Fumar prejudica essencialmente todos os sistemas do organismo humano e está associado a doenças cardíacas, vasculares periféricas, diabetes, aumento do risco de tromboses venosas e também afeta o bom funcionamento do sistema imunológico. Ainda, o consumo de tabaco, cigarros eletrônicos ou mesmo maconha torna o fumante mais suscetível ao novo coronavírus, pois estes produtos destroem, aos poucos, as defesas naturais do pulmão.” 

A pneumologista explica também como tais substâncias agem no organismo, comprometendo o desempenho de sistemas cruciais para uma boa performance do corpo no combate a doenças. “Cigarros normais ou eletrônicos, conhecido como ‘vape’, destroem os cílios dos pulmões. Esses cílios são folículos finos e semelhantes a pêlos que ajudam a capturar vírus e detritos e movê-los para fora dos pulmões, para que, assim, não causem problemas, como doenças, por exemplo.” 
 
 

Alice detalha, ainda, como esses cílios agem no corpo, a fim de elucidar a compreensão acerca dos prejuízos gerados ao organismo pelo hábito de tragar um cigarro. “Os cílios atuam como um dos principais sistemas de defesa contra infecções. Sem eles, os fumantes, infelizmente, ficam indefesos. Isso explica porque algumas pessoas que fumam regularmente, ao desenvolverem resfriados comuns, podem ter tosse por dias ou mesmo semanas.” 

Além disso, a especialista pontua a ação destes cílios, de forma mecânica, na proteção do corpo. “Os cílios do trato respiratório cobrem desde as narinas até os ramos distais da traqueia e auxiliam na defesa de poluentes e infecções. Atuam, também, se movimentando em direção à garganta e o nariz, levando organismos infecciosos para longe dos pulmões mecanicamente.” 

Hora de parar?  


Tendo em vista os riscos de gravidade e óbitos aumentados em casos de fumantes infectados pelo novo coronavírus, a pneumologista recomenda a desconstrução desse hábito. “Não há momento melhor para parar de fumar do que agora. Os fumantes ativos estão mais propensos a desenvolver um agravamento do quadro de COVID-19, em caso de contaminação. Então, não há momento melhor do que em meio a essa crise de saúde mundial.” 

Para isso, Alice afirma que o primeiro passo a ser dado, a fim de interromper o consumo de tabaco, cigarros eltrônicos e maconha deve ser a motivação e indica os melhores hábitos a serem adotados a partir de então.  

“É muito importante ingerir uma quantidade abundante de água, pois esse líquido contribui para desintoxicar o organismo. Fazer atividade física por 30 minutos, durante quatro vezes por semana e evitar situações que são normalmente associadas ao vício de fumar também podem ajudar no momento de parar. É imprescindível que, ao longo desse processo, uma consulta com um pneumologista seja feita para que tratamentos auxiliares possam ser sugeridos, como o uso de chicletes ou adesivos de nicotina.” 

No entanto, a especialista alerta que, mesmo após parar de fumar, os órgãos e sistemas funcionais do ex-fumante ainda estão comprometidos, devido ao tempo de exposição e desgaste. Portanto, alguns resultados podem ser percebidos tardiamente, e a condição de risco mantida por longo tempo ou perpetuada

“Cerca de três dias depois do uso do último cigarro, os benefícios pulmonares já começam a ser percebidos: os brônquios permanecem abertos por mais tempo e a oxigenação do organismo se torna mais fácil. Os cílios demoram mais tempo a voltar a funcionar, em torno de seis e nove meses. Infelizmente, se o paciente já tem doença pulmonar crônica causada pelo cigarro, esse dano é permanente.” 

 

* Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram