Estrangeiros que buscam moradia no Brasil são pouco mais de um milhão, sendo 35 mil em Minas Gerais, de várias nacionalidades, em contrapartida aos 3 milhões de brasileiros que moram fora, segundo o observatório da imigração da Polícia Federal.
O Atlas digital, lançado no final do ano passado pelo Observatório das Migrações Internacionais de Minas Gerais (OBMinas), registra aumento significativo do número de haitianos, seguido de colombianos e italianos, encontrados em maior número nos municípios de Belo Horizonte, Contagem e Uberlândia. A quantidade de venezuelanos abrigados em terras mineiras também vem crescendo devido ao agravamento da crise política e econômica naquele país.
O Atlas traz informações do perfil de imigrantes, entre 2010 e 2016, como idade, sexo, município de primeira residência, país de nascimento e ocupação declarada no momento do ingresso no país. A atualização desses números estará disponível em breve. O pesquisador Duval Magalhães Fernandes, professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas e um dos organizadores do atlas, destaca a importância desse mapeamento. “A desinformação leva à xenofobia, racismo, agressões e vários tipos de violência.”
São muitos os depoimentos desses estrangeiros sobre a acolhida generosa dos brasileiros, mas também chamam a atenção as reclamações do excesso de burocracia na legalização de documentos, ausência de centralização de informações sobre deveres e direitos dos recém-chegados e insuficiência de políticas públicas de acolhimento nos primeiros momentos, além de discriminações pontuais por autoridades e cidadãos brasileiros.
Uma congolesa, que não se identificou, conta que não entendia por que ninguém se sentava ao seu lado no metrô de Belo Horizonte “mesmo com o vagão lotado”. Um imigrante haitiano diz que não demorou a conseguir trabalho, mas ao questionar sobre o salário inferior ao dos demais funcionários brasileiros ouviu de seu patrão “que ele deveria estar acostumado, afinal o Haiti era muito pobre e lá se ganhava pouco”.
O casal de médicos venezuelanos Renny Mosqueda, de 29 anos, e Olga Castillo, de 25, conta que depois de andar 13 quilômetros da fronteira até Boa Vista com o filho Santiago Angulo, de 7, dormiram no chão por três noites aguardando em uma fila para regularizar a documentação de entrada. “Éramos os primeiros da fila e quando os atendimentos começavam pela manhã, policiais nos tiravam do início e nos levavam ao fim da fila. Parecia que estavam com raiva de estarmos recorrendo ao Brasil. Mas não tínhamos outra opção. Não entendi a atitude deles, mas depois que conseguimos legalizar tudo fomos muito bem tratados por todos que encontramos até aqui.” Eles moram em Ribeirão das Neves, na RMBH.
EFEITOS POSITIVOS
O professor Duval ressalta que a migração é positiva e que não há imigrante que tome emprego de brasileiro. “Em um país com número de desempregados acima de 11 milhões, falar em 200 mil pessoas é muito pouco. Precisamos ver que é a chegada de uma mão de obra já formada, de pessoas com as quais o país não precisará investir em educação básica ou fundamental”, afirma.
“Quando estão empregadas, são pessoas que contribuem e financiam a Previdência e muitas delas não se beneficiarão desse serviço, porque retornarão aos seus países antes do direito à aposentadoria. Não se trata de bandidos ou terroristas.” Além da riqueza cultural, os imigrantes trazem uma bagagem recheada de conhecimento, habilidades e qualidades que interferem de forma positiva na relação entre os povos. “Quantos brasileiros foram buscar oportunidades fora? A grande pergunta é: quem não conhece ou tem um amigo ou parente que migrou, e como gostaria que ele fosse tratado lá fora? Temos que aprender a conviver com isso.”
Os pesquisadores chamam a atenção de que Minas nem sempre é a primeira opção do migrante estrangeiro ao chegar ao Brasil. Geralmente, a entrada se dá por São Paulo. Grande parte que procurou a capital e região metropolitana já tinha como referência parentes ou amigos morando nessas localidades. O Bem Viver desta semana conversou com estrangeiros que escolheram Minas para refazer sua vida.