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Estado de Minas

À procura de um porto seguro

Cerca de 35 mil estrangeiros buscaram abrigo em Minas Gerais só em 2018. Atlas digital faz mapeamento da presença de imigrantes no estado vindos de várias partes do mundo


postado em 15/03/2020 04:00 / atualizado em 11/03/2020 18:59

O casal de médicos venezuelanos Olga Castillo e Renny Mosqueda com o filho Santiago Angulo, de 7 anos, chegou a Ribeirão das Neves, na Grande BH, com a roupa do corpo e muitos sonhos. Aqui, ela descobriu que está grávida (foto: Gladyston Rodrigues/em/d.a press)
O casal de médicos venezuelanos Olga Castillo e Renny Mosqueda com o filho Santiago Angulo, de 7 anos, chegou a Ribeirão das Neves, na Grande BH, com a roupa do corpo e muitos sonhos. Aqui, ela descobriu que está grávida (foto: Gladyston Rodrigues/em/d.a press)

Estrangeiros que buscam moradia no Brasil são pouco mais de um milhão, sendo 35 mil em Minas Gerais, de várias nacionalidades, em contrapartida aos 3 milhões de brasileiros que moram fora, segundo o observatório da imigração da Polícia Federal.

O Atlas digital, lançado no final do ano passado pelo Observatório das Migrações Internacionais de Minas Gerais (OBMinas), registra aumento significativo do número de haitianos, seguido de colombianos e italianos, encontrados em maior número nos municípios de Belo Horizonte, Contagem e Uberlândia. A quantidade de venezuelanos abrigados em terras mineiras também vem crescendo devido ao agravamento da crise política e econômica naquele país.

O Atlas traz informações do perfil de imigrantes, entre 2010 e 2016, como idade, sexo, município de primeira residência, país de nascimento e ocupação declarada no momento do ingresso no país. A atualização desses números estará disponível em breve. O pesquisador Duval Magalhães Fernandes, professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas e um dos organizadores do atlas, destaca a importância desse mapeamento. “A desinformação leva à xenofobia, racismo, agressões e vários tipos de violência.”

São muitos os depoimentos desses estrangeiros sobre a acolhida generosa dos brasileiros, mas também chamam a atenção as reclamações do excesso de burocracia na legalização de documentos, ausência de centralização de informações sobre deveres e direitos dos recém-chegados e insuficiência de políticas públicas de acolhimento nos primeiros momentos, além de discriminações pontuais por autoridades e cidadãos brasileiros.

Uma congolesa, que não se identificou, conta que não entendia por que ninguém se sentava ao seu lado no metrô de Belo Horizonte “mesmo com o vagão lotado”. Um imigrante haitiano diz que não demorou a conseguir trabalho, mas ao questionar sobre o salário inferior ao dos demais funcionários brasileiros ouviu de seu patrão “que ele deveria estar acostumado, afinal o Haiti era muito pobre e lá se ganhava pouco”.

O casal de médicos venezuelanos Renny Mosqueda, de 29 anos, e Olga Castillo, de 25, conta que depois de andar 13 quilômetros da fronteira até Boa Vista com o filho Santiago Angulo, de 7, dormiram no chão por três noites aguardando em uma fila para regularizar a documentação de entrada. “Éramos os primeiros da fila e quando os atendimentos começavam pela manhã, policiais nos tiravam do início e nos levavam ao fim da fila. Parecia que estavam com raiva de estarmos recorrendo ao Brasil. Mas não tínhamos outra opção. Não entendi a atitude deles, mas depois que conseguimos legalizar tudo fomos muito bem tratados por todos que encontramos até aqui.” Eles moram em Ribeirão das Neves, na RMBH.

EFEITOS POSITIVOS 

O professor Duval ressalta que a migração é positiva e que não há imigrante que tome emprego de brasileiro. “Em um país com número de desempregados acima de 11 milhões, falar em 200 mil pessoas é muito pouco. Precisamos ver que é a chegada de uma mão de obra já formada, de pessoas com as quais o país não precisará investir em educação básica ou fundamental”, afirma.

“Quando estão empregadas, são pessoas que contribuem e financiam a Previdência e muitas delas não se beneficiarão desse serviço, porque retornarão aos seus países antes do direito à aposentadoria. Não se trata de bandidos ou terroristas.” Além da riqueza cultural, os imigrantes trazem uma bagagem recheada de conhecimento, habilidades e qualidades que interferem de forma positiva na relação entre os povos. “Quantos brasileiros foram buscar oportunidades fora? A grande pergunta é: quem não conhece ou tem um amigo ou parente que migrou, e como gostaria que ele fosse tratado lá fora? Temos que aprender a conviver com isso.”

Os pesquisadores chamam a atenção de que Minas nem sempre é a primeira opção do migrante estrangeiro ao chegar ao Brasil. Geralmente, a entrada se dá por São Paulo. Grande parte que procurou a capital e região metropolitana já tinha como referência parentes ou amigos morando nessas localidades. O Bem Viver desta semana conversou com estrangeiros que escolheram Minas para refazer sua vida.





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