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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Apoio emocional

Criado há 60 anos, o Centro de Valorização da Vida reúne mais de 4 mil voluntários em todo o país, dispostos a ouvir pessoas que buscam um alento para seguir em frente


postado em 26/01/2020 04:00 / atualizado em 21/01/2020 23:34

Ação Solidária na Casa Bola de Gude, pelo grupo Tio Flávio Cultural, promove atividades com crianças(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Ação Solidária na Casa Bola de Gude, pelo grupo Tio Flávio Cultural, promove atividades com crianças (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
 
O número crescente de pessoas que atentam contra a própria vida chamou a atenção da Organização Mundial de Saúde (OMS), que acendeu o sinal de alerta para que a prática fosse considerada uma questão de saúde pública. Em 2015, o Ministério da Saúde, atendendo ao chamado do órgão internacional, criou o movimento Setembro Amarelo, mês mundial de prevenção ao suicídio, visando sensibilizar e conscientizar a população sobre essa questão. De acordo com o próprio ministério, o suicídio mata pelo menos um brasileiro a cada 45 minutos, mais do que a Aids e muitos tipos de câncer, porém pode ser prevenido em nove de cada 10 casos.
 
Os conflitos inerentes ao ser humano, internos ou externos, de solidão, rejeição, abandono, frustração, não aceitação da orientação sexual constituem pesos que podem arrastar o indivíduo à depressão e levar ao suicídio. Com o propósito de acolher e oferecer apoio emocional e prevenir a efetiva tentativa de se tirar a própria vida, chegou ao Brasil, há 60 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV), formado por pessoas que se alternam voluntariamente em aconselhamentos. Esse grupo, que hoje ultrapassa os 4 mil voluntários em todo o país, realizou 3 milhões de atendimentos em 2018.
“No início, o atendimento era pessoal, por carta ou telefone, a máxima tecnologia na época”, comenta Carlos Correia, voluntário e porta-voz do CVV. “Hoje, além desses modelos, nosso serviço é acessível por chat e e-mail, além de aperfeiçoarmos o telefone, possibilitando que o voluntário esteja em qualquer município do Brasil, ou até em outro país.”
 
Carlos explica que há várias maneiras de se tornar voluntário, “uma vez que não é necessário ter uma formação específica. Há diferentes maneiras de atuação, inclusive sem sair de casa, e o voluntário pode determinar o melhor horário e dia da semana para seu plantão”.

Sem preconceito É preciso ter idade mínima de 18 anos, tempo para os plantões semanais e vontade de acolher pessoas desconhecidas sem julgamentos ou preconceitos. O interessado pode se candidatar diretamente no site do CVV e participar dos cursos de seleção e preparação. “Não somos super-heróis ou diferentes de ninguém, somos pessoas que, por diferentes motivações, resolvemos utilizar parte de nosso tempo a serviço de pessoas que precisam conversar”, explica. “E muitos de nós fazemos esses atendimentos há mais de 20 ou 30 anos, ou seja, é recompensador.”
 
Ao voluntário não compete mensurar nem julgar quão verdadeira é a dor do outro. Não importa o fator desencadeante do problema, importa o sentimento. Aquilo que a pessoa não tem coragem de falar para o terapeuta, mãe, pai, amigo ou marido estará protegido pelo anonimato. “Ao atender a pessoa ao vivo ou pelo chat na internet, o voluntário não deve sugerir recursos religiosos e ter ciência de que sua função é apenas ouvir”, explica Carmen Ferrari, que atua no movimento há 18 anos.
 
O CVV presta serviço voluntário e gratuito de prevenção do suicídio e apoio emocional para pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os atendimentos são feitos em mais de 120 postos pelo telefone 188 (sem custo de ligação), ou pelo site www.cvv.org.br via chat, e-mail ou carta.

Solidariedade rompe fronteiras

Em 2010, o professor universitário, hoje com 46 anos, Flávio (pede para não citar sobrenome) criou o Tio Flávio Cultural, um movimento de voluntariado que a princípio ministrava palestras gratuitas às comunidades estudantis e profissionais que não tinham condições financeiras. “Uma iniciativa com objetivo de democratizar o conhecimento e melhorar a performance pessoal e profissional de quem participasse, além de promover o networking”, explica Tio Flávio.
 
“Depois, foram surgindo outras demandas, até que chegamos no atual contexto com atuação em mais de 70 grupos, 30 áreas diferentes e mais de 1.000 voluntários”, destaca.
 
No Tio Flávio Cultural não há doação ou recebimento de recursos financeiros e a metodologia requer apenas tempo e talento das pessoas. Além do atendimento a diferentes áreas, há uma modalidade de ação pontual, quando se trata de uma palestra numa instituição específica.
 
Cada grupo tem dois a três gestores voluntários que planejam as ações e coordenam o grupo de maneira ordenada no WhatsApp, cada qual com a sua finalidade definida, nas instituições parceiras que os recebem.
 
Não são aceitos voluntários eventuais. “Quando alguém pede para entrar em algum grupo, ele conhece todas as áreas que atuamos e é perguntado se o voluntariado já cabe em seu dia a dia, pois a criação de vínculos com os assistidos é de fundamental importância para a proximidade e a confiança.”
 
As atividades são contínuas. Vão desde palestras em escolas públicas, a visitas com bingo e maquiagem em hemodiálises, oficinas de artesanato em abrigos públicos nos municípios, projetos de estímulo à leitura e brincadeiras em casas de acolhimento, orientação pessoal, profissional e educação financeira para jovens, oficinas de esportes, gastronomia e música, entre outros.
 
Para fazer parte do grupo de voluntários não é necessário ter um conhecimento específico. A pessoa faz contato pelo Instagram ou Fanpage (tioflaviocultural) e recebe uma mensagem com um link de todos os projetos e diretrizes. “Depois alinhamos localização geográfica e disponibilidade de agenda do vo- luntário.” São 112 gestores voluntários e cerca de mil voluntários fixos distribuídos nos mais de 70 projetos. (EG)
 


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