Jornal Estado de Minas

Novo vírus responsável por surto na China é contagioso e pode ser transmitido de pessoa para pessoa


Os casos recentes de pneumonia viral na China alimentam receios sobre uma potencial epidemia, depois de uma investigação ter identificado a doença como um novo tipo de coronavírus, uma espécie de vírus que causa infecções respiratórias em seres humanos e animais e é transmitido através da tosse, espirros ou contato físico. A mídia estatal no país CCTV informou que Zhong Nanshan, um dos principais especialistas em doenças infecciosas da China, confirmou a transmissão de pessoa para pessoa.

A rápida propagação do vírus preocupa as autoridades chinesas, em um momento em que milhões de seus cidadãos desejam viajar para celebrar o Ano Novo Lunar. O alerta de disseminação do vírus foi dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), depois que os três primeiros casos constatados fora da China foram conhecidos na Tailândia e no Japão. As autoridades desses dois países alegam que os pacientes foram à cidade de Wuhan (onde teria começado o problema) antes de sua hospitalização.

Esse é um tipo de vírus que pode ser transmitido como qualquer outro vírus respiratório. Segundo o médico infectologista membro da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Carlos Starling, o cuidado básico para evitar o contágio é evitar ir para a região onde o surto acontece. E, para quem, por acaso, está retornando desses locais, o importante é ficar atento aos sinais de uma possível infecção respiratória grave, semelhantes aos de uma gripe, como tosse, febre, mal estar de início súbito, evoluindo para uma insuficiência respiratória. "Se, ao voltar dessa região, a pessoa apresentar esse quadro, é fundamental procurar assistência médica e informar que esteve nesses lugares", orienta o médico.

Ele esclarece que este é um tipo de vírus que provoca quadros respiratórios sérios e, apesar de ainda não ser conhecida exatamente sua origem, é um micro-organismo que já apareceu em outros surtos pelo planeta, como na Arábia Saudita. "Não é um vírus novo. A epidemia e a rapidez da dispersão é que são novos, preocupando a própria OMS, muito em função do que vivemos em 2009, com a gripe suína, que teve início em fevereiro no México e, em seis meses, estava no mundo inteiro. Trata-se de uma infecção viral com um grande potencial de expansão rápida", explica Carlos Starling.


No cenário da globalização, em que Brasil e China mantêm relação estreitas, com pessoas daqui viajando para lá e vice-versa, não está descartada a possbilidade do vírus chegar ao Brasil, alerta o infectologista. "Não estamos imunes. O vírus pode chegar a qualquer outro lugar, como também pode chegar ao Brasil. Mas não dá para mensurar um período de tempo para que isso aconteça. Depende da dimensão do problema na China e o grau de controle. E o momento para que o vírus seja controlado é agora. Depois que o vírus se espalha, esse controle se torna muito mais difícil", acrescenta Carlos.

A investigação das autoridades constatou que vários pacientes trabalhavam em um mercado de Wuhan especializado no atacado de frutos do mar e peixes. O município tomou várias medidas, ordenando, em particular, o fechamento do mercado em questão, onde foram realizadas operações de desinfecção e análises.

O vírus misterioso similar ao responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) causou um terceiro morto desde seu aparecimento no centro da China, como anunciaram as autoridades nesta segunda-feira, que informaram sobre 217 novos casos, cinco deles em Pequim. A Coreia do Sul também acaba de confirmar o primeiro caso de paciente com este vírus em seu território. A SARS matou cerca de 650 pessoas na China continental e em Hong Kong entre 2002 e 2003.


Wuhan tem 11 milhões de habitantes e serve como um importante centro de transporte, inclusive no feriado anual do Ano Novo Lunar que começa esta semana e durante o qual centenas de milhões de chineses viajam para visitar seus familiares. Na cidade, foram diagnosticados 198 casos. Nesta segunda-feira, pela primeira vez, soube-se de casos em outras partes da China: cinco em Pequim (norte), e 14 no Cantão (sul), em frente a Hong Kong. Também há sete casos suspeitos em Xangai, e quatro na província e nas regiões do leste, do sul e do sudoeste do país.

Os cientistas do Centro MRC para a Análise Global de Enfermidades Infecciosas do Imperial College de Londres advertiram, porém, em um artigo publicado na sexta-feira, que o número de casos pode se aproximar de 1,7 mil, muito acima do que foi anunciado oficialmente.

Em sua primeira reação pública sobre o assunto, o presidente chinês, Xi Jinping, disse nesta segunda-feira que o novo vírus deve ser "completamente contido". "A segurança da vida das pessoas e sua saúde física têm que ser prioridade", afirmou à rede de televisão estatal CCTV.