Jornal Estado de Minas

Amor que não tem fim

Irmãs provam que amizade e companheirismo são possíveis mesmo com as diferenças

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Protagonizado por Carol Duarte e Júlia Stocker, o filme A vida invisível narra a história de duas irmãs muito ligadas, que são obrigadas a se separar,  afetanto suas vidas. Na vida real, irmãs contam suas relações de amizade, entrega, proteção e, principalmente, amor fraterno. E, mesmo que distantes, conseguem manter uma vida de proximidade, como as irmãs Júlia e Rita Gontijo, que  moram, uma em Belo Horizonte e outra em Cincinatti, nos Estados Unidos. “A distância nos uniu ainda mais”, afirmam.  

Para a médica psiquiatra Jaqueline Bifano, o convívio entre irmãos faz com que nos tornemos mais solidários e compa nheiros. A psiquiatra aponta que, por ter uma experiência compartilhada durante várias fases da vida, aprendemos desde cedo a partilhar, respeitar e ter responsabilidades emocionais e sociais. “Além de dividirmos a carga genética, a mesma família, contexto histórico, experiências e vivências, é com os irmãos que temos as maiores lembranças, sentimentos e emoções.”





Jaquelino Bifano diz que esse elo faz com que haja reforço dos vínculos afetivos, como compartilhamento de acontecimentos, valorização da cumplicidade, da atenção ao outro e do afeto, fortalecendo a identidade familiar. “A partir do momento em que sabemos desse amor dentro de casa, diminuímos os níveis de ansiedade, solidão e isolamento, por saber que pertencemos a alguém”, afirma.

Além disso, para a médica, esse contato de amizade e sentimento de ter alguém com quem contar em todos os momentos faz com que se tenha mais predisposição à reconciliação “Faz com que tenham bons conselhos e boas tomadas de atitude. Ao escutarmos conselhos dentro de casa, por mais que inicialmente não queiramos escutá-los, sabemos que, vindos da família, devem ser levados em consideração e isso tem um grande peso positivo”, pontua.

UNHA E CARNE 

Imagine ter os mesmos grupos de amigos, praticar os mesmos esportes e trabalhar no mesmo lugar?! Para uns, pode ser um desafio de convívio muito intenso e ser bastante desgastante. Mas para as irmãs Kátia Suely, de 58 anos, e a aposentada Sandra Lúcia Silva Moreira, de 55, é motivo de muita alegria, entrosamento e conversas. “Gostamos das mesmas coisas, temos o mesmo gosto musical, somos de viajar nós duas, fazemos praticamente tudo juntas”, conta Kátia. Ao todo, são três irmãs do primeiro casamento do pai. “Somos do samba e da MPB, enquanto nossa irmã mais nova, a Soraya, que é professora de inglês, curte mais música americana. Apesar dos gostos diferentes, somos bem unidas, nós três podemos contar uma com a outra”, destaca.





Na infância, as duas concordam que existiam diferenças entre elas, mas o amor sempre foi o principal alicerce. “Sandra sempre foi muito correta e nós eramos mais largadas. Com a idade, nossa relação mudou”, conta Kátia. “Tínhamos as rusgas de criança, porque sempre fui mais difícil e ela era a de contornar a situação. Mas não tem pessoas melhores para serem nossas amigas do que as irmãs. É um vínculo muito mais fluido e confiável”, complementa Sandra.

Hoje, o valor da amizade é visto em todos os momentos “Quando alguém pede um contato de emergência, é sempre o nome da Sandra que cito. Tenho uma companheira para horas boas e ruins. Não preciso ficar cheia de dedos, ela é muito aberta”, frisa Kátia. “Ela é minha melhor companhia. Tudo se encaixa quando estamos juntas. É uma cumplicidade muito boa. Na minha concepção, todas as irmãs deveriam ser assim”, finaliza Sandra. Nesta edição, o Bem Viver conta histórias de irmãs que encontram uma na outra força e motivação. E que, além de irmãs, se tornaram melhores amigas.

Irmãs são almas gêmeas
Relações fraternas, normalmente, são mais duradouras do que qualquer outra na vida e desempenham papel fundamental em experiências socioemocionais


Julia e Rita Gontijo conseguem manter a proximidade, mesmo uma morando em BH e outra nos EUA (foto: Arquivo pessoal)

Não é preciso ir além de nossas casas para encontrar verdadeiros amigos. Irmãs podem tirar você do sério, mas são elas que estarão ao seu lado em todos os momentos. Não importam as brigas, o amor fraternal é sempre reconciliador. Um simples olhar ou troca de palavras podem ter efeitos para além das questões sanguíneas.



As irmãs Júlia Gontijo Brandt, de 36 anos, gerente sênior global de educação comercial na Johnson & Johnson, e a administradora Rita Lemos Gontijo Cruz, de 38, são daquelas que, mesmo com a distância, desempenham um papel de afeto importante na construção da vida de cada uma. Apesar dos dois anos e meio de diferença de nascimento, sempre foram muito próximas. “Hoje, moro em Belo Horizonte e minha irmã em Cincinatti, nos Estados Unidos. Crescemos muito juntas, dividimos o mesmo quarto e me lembro de que desde pequena sempre me preocupei em protegê-la. Isso cria uma cumplicidade muito grande”, conta Rita.

Esse senso de apoio e fraternidade fez com que Júlia enxergasse a irmã como modelo a ser seguido. “Ela é um exemplo para mim, tem o poder de me acalmar sempre com sábias palavras e entende o que quero dizer apenas com troca de olhares”, comenta. As lembranças de acolhimento da irmã mais velha transformaram a mais nova em vários aspectos. “Muito do que sou, sei que devo à oportunidade de ter convivido de perto com ela, aprendendo com seus erros e acertos”, lembra, com saudosismo.

Em 2002, as duas se aventuraram em um mochilão pela Europa. Para Júlia, esse momento foi determinante para a amizade. “Melhor companheira de viagem: nos complementamos”, relembra. Rita também guarda esse momento com ternura. “Cheio de casos, histórias engraçadas e apertos. Ela fez todo o planejamento e eu a parte financeira. É a minha lembrança preferida. Foi o que selou de vez nossa união”, frisa.



Desde 2004, as irmãs vivem afastadas fisicamente uma da outra, mas a distância as uniu ainda mais. “Não sinto que estou longe dela. Hoje, com a tecnologia, a gente não se sente mais sozinha”, salienta Rita. A fraternidade adquirida com as histórias da infância e adolescência se fortalecem ainda mais com a maturidade. “Acho que o amor que temos uma pela outra é potencializado, porque não só é amor de irmã, mas também amor de amiga, daquelas que a gente escolhe e sabe que sãos especiais”, afirma Júlia. “Vejo a Júlia como a mim mesma. Sou mais coração e ela mais razão, e isso nos completa”, conclui a administradora.

CUMPLICIDADE

Paula Milagres sempre se sentiu responsável por Lívia, quase dois anos mais nova, e fazem tudo junto (foto: Arquivo pessoal)

A jornalista Paula Milagres, de 35, conta uma história que a marcou no dia em que sua irmã nasceu. Ela se lembra de que sua mãe lhe deu uma boneca, dizendo que “da mesma forma que ela tinha ganho outra filha, eu também teria uma filha pra cuidar. Isso fez com que, em vez de ciúmes pela chegada da irmã mais nova, me sentisse responsável pela minha filha (boneca) e pela minha irmã”, relembra. A servidora pública Lívia Milagres, de 33, conta que Paula sempre foi um exemplo, por ser a mais velha. “Ela quem me ensinou a engatinhar, falar, ler e escrever”, comenta.

A diferença de idade de 1 ano e 11 meses fez com que a irmandade se fortalecesse. Além do laço fraternal, as duas compartilhavam alegrias e frustrações, estudaram no mesmo colégio e conviveram com as mesmas pessoas. “Isso fez toda a diferença e faz até hoje, porque continuamos fazendo quase tudo juntas e a nossa rede de amizades acaba sendo a mesma também”, pontua Lívia. Da infância à maturidade, muitas situações e puxões de orelha aconteceram, mas a sensação de poder contar uma com a outra permaneceu intacta. “Passamos por essas mudanças todas juntas. Até mesmo quando os gostos não são parecidos, fazemos esforço para fazer o que a outra quer. No final das contas, tudo acaba sendo agradável”, destaca a jornalista.



Paula Milagres diz que, além de irmã, Lívia é a melhor amiga, parceira, companhia de viagem, companheira e cúmplice de todas as horas. “Saber que alguém te ama de forma incondicional, não te julga, torce por você, está pronto pra ajudar no que precisar, faz o máximo pra ver você bem e feliz e a escuta de verdade é algo impagável”, reforça. “Até quando queremos tomar sol, cozinhar algo gostoso ou tomar uma cerveja pra relaxar não precisamos sair de casa ou arrumar companhias, pois nos temos e isso torna tudo mais fácil”, complementa a irmã.

EXPERIÊNCIAS DISTINTAS

Tatiana Tonnuci é mãe de quatro meninas: as gêmeas Victória e Sophia Tonnuci Silva, de 10, Antonieta, de 8, e Angelina Faria Melo, de 4. Para a mãe, a relação das filhas entre si é muito forte, principalmente entre as gêmeas. “Elas têm um reconhecimento e identificação muito grandes e isso se deu de forma natural. Sinto que elas se conscientizaram sobre o que uma significava para a outra.” Com a caçula, as mais velhas têm um cuidado muito especial, de querer vivenciar e (re)experimentar sentimentos de suas infâncias. “A criança é muito ego, então, às vezes, disputar ciúmes acontece, mas de uma forma sadia. Há um espírito de uma ajudar a outra”, diz a mãe.

A psiquiatra Jaqueline Bifano afirma que quando a criança tem um irmão, aprende o que é amor e amizade desde os primeiros momentos da vida. “É ganho de carinho, amizade, brincadeiras e companhia nos bons e nos maus momentos”, frisa. Por mais que a relação fraternal possa, em algum momento, gerar desconfortos, como o ciúme, por exemplo, é a forma mais positiva de livrar crianças de uma série de competições sociais, segundo Bifano. “É a partir desse laço que a criança aprende a dividir, cooperar, colaborar, ser exemplo, dar exemplo, a abrir mão em favor do outro, tornando-se, assim, mais generosa, empática e compreensiva.”



O conflito de gerações, mesmo com tempo entre as idades pequeno, é sentido pelas mais velhas. “Tem mais momentos bons do que ruins. Como elas são mais novas, às vezes elas não nos entendem muito bem em certas coisas, e isso é chato. E, às vezes, elas são um pouquinho vidradas nos eletrônicos. Mas mesmo assim, as amamos”, contam as gêmeas.

Irmãs mais velhas acabam, naturalmente, assumindo o papel de liderança, mesmo que haja discordâncias. “Essa relação faz com que haja cuidado e reciprocidade entre elas, aprendizagem com relação ao respeito, interação com outras pessoas e resolução de desacordos e conflitos”, conclui Bifano.

Personagem da notícia
Anita, de 9, e Leonora, de 1 ano e 9 meses, pelo olhar do pai, Bruno Sales


Encantadas uma com a outra

(foto: Arquivo pessoal)
“Anita e Leonora são filhas de dois casamentos. Anita mora em Diamantina. Sua mãe passou no concurso e hoje é professora de linguística na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, mas o contato é imenso. Falamo-nos todos os dias e nos vemos uma a duas vezes por mês. Leonora é completamente encantada pela irmã. Vê foto, chama por ela, pede para ligar por vídeo para ver a irmã e conversar com ela. Anita recebeu com muita ternura a chegada de sua irmã. Um contato muito carinhoso, com muito cuidado, como se fosse mãe. Ela me ajuda muito quando estamos juntos. No verão deste ano, fizemos uma viagem para a Bahia, de carro. Se não fosse a ajuda da Anita, a viagem teria sido caótica. Ela dava comida, água, brincava com a irmã, dava bico para ela dormir. Quando elas se encontram é uma explosão de alegria. Leonora voa para o colo da Anita, no ato.”

* Estagiário sob supervisão da subeditora Elizabeth Colares




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