Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

Paisagistas dizem que cuidar da natureza é questão de saúde

Para a paisagista Lucia Borges, o contato com a natureza, por si só, ameniza as tensões diárias (foto: Farid Sarsur/Divulgação)

“As pessoas procuram estar entre plantas pelo bem-estar e a qualidade de vida. É tudo uma coisa só. Todos somos seres vivos. Fazemos parte da natureza. A relação com as plantas é uma relação de troca de energia. Cada um tem um pouco para doar e para receber, e mexer com plantas desenvolve a sensibilidade”, diz a paisagista Regina Rocha, que tem 12 anos de experiência na área e hoje trabalha com minijardins, terrários, kokedamas, quadros vivos, entre outros.

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Para ela, as plantas proporcionam muitas experiências, e de várias maneiras – quando estão em casa, não são apenas enfeite ou parte da decoração. “A planta não só proporciona bem-estar, frescor, mas transmuta energia, independentemente de quem interage com ela. É uma forma de terapia, ocupa o tempo, muito mais que um hobbie”, pontua Regina. Ela ressalta que, para muitas pessoas, lidar com plantas pode ser a descoberta de um talento. “Quando a pessoa começa a fazer vasinhos com suculentas, fazer composições harmônicas, por exemplo, descobre uma aptidão, começa a ser elogiada e a se sentir útil. Mexer com plantas é uma forma de arte. É lidar com cores, texturas, formas”, conta.
 
(foto: Pixabay/reprodução)
 
Para a paisagista Lucia Borges, a convivência com plantas tem proveitos físicos, mas também psicológicos e emocionais. "Seja árvores, plantas em vasos, plantas de forração, grama, cercas vivas, jardins verticais, elas renovam o ar que respiramos, limpam as impurezas, tirando os poluentes, e também são uma barreira contra o excesso de barulho. Ajudam na umidade do ar, tornando o ambiente mais fresco. Em casas, em varandas, onde for, é sempre bom ter uma massa verde”, orienta. Lucia tem 25 anos de trabalho com paisagismo, como professora, palestrante, consultora e autora de projetos, além de comandar um canal no YouTube, Vida no Jardim, em que aborda tudo sobre o assunto, com dicas de cultivo, de paisagismo, de jardinagem e temas afins. Em outra perspectiva, Lucia salienta que o contato com a natureza, por si só, desestressa, faz relaxar, ameniza as tensões diárias.

“Ver a semente brotar, germinar, a planta florescer, colher o que você plantou. Isso dá tranquilidade, traz alegria. Ter uma horta em casa é uma emoção especial. Abraçar uma árvore, pisar na grama, molhar o jardim, sentir o cheiro da terra úmida. Sem contar o uso dos chás que derivam das plantas. É uma maneira de descarregar energia, ajuda a vencer doenças. Quando se está ao ar livre, em um jardim, o próprio contato com o sol e seu fornecimento de vitaminas é bom. A pessoa se sente bem, acolhida pela natureza. Presentear com plantas também é muito legal", diz a paisagista.

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Em uma perspectiva macro, é tendência mundial levar de volta a natureza para as cidades, pontua o paisagista Benedito Abbud, com 50 anos de atuação no ramo. “Isso não é moda, é sério. A vegetação ajuda a melhorar a amplitude térmica e as ilhas de calor. Absorve o sol, deixando o dia fresco e, à noite, quando libera o calor, mais quente. Também ajuda a diminuir a poluição, favorece a umidade relativa do ar, além de diminuir a incidência de doenças”, explica. Ele ressalta que, muito mais que os benefícios ambientais, as plantas também têm papel fundamental em termos sociais.

O paisagista aponta como conceito em voga atualmente a biofilia, que significa o amor à natureza, a volta da atenção sobre as coisas vivas. “Biofilia é lidar com a vida, resgatar a natureza”, esclarece Benedito, que coordena um canal no YouTube chamado Criando Paisagens. Estar entre o verde, acrescenta, influi na saúde física e mental, é importante para crianças, adultos e idosos. Partindo da percepção de aromas, sabores e cores, conviver com plantas só tem pontos positivos, muito também no sentido psicológico. “A própria cor da vegetação alegra a paisagem”, salienta.

Em hospitais, exemplifica, é cada vez mais comum a introdução das plantas, com a especificação de tetos retráteis, por onde entra o sol e abre a visão para a natureza ao redor. “É sabido que ficar dentro do quarto o tempo todo é ruim. Para quem está em cadeira de rodas, por exemplo, ir para o bosque, tomar ar fresco, ver pássaros, peixes, árvores, é muito bom. Está provado que, em ambientes médicos com mais verde, a ocorrência de infecção hospitalar é menor”, diz Benedito.

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Considerando as características da sociedade contemporânea, o paisagista demonstra a importância de sair da internet, dos ambientes virtuais, desconectar e aproveitar os ambientes naturais. Essa é uma preocupação mundial. Em uma escala menor, ele cita a oferta amplificada de cursos de jardinagem, fabricação de arranjos, entre outros. “Muitas pessoas estão deixando a profissão convencional para estabelecer uma ligação maior com o verde. Essa energia, essa vibração é fundamental. É uma busca pela natureza. Fato é que ficar 24 horas fechado em um escritório não faz bem para ninguém. Planta é vida.”

ENCANTAMENTO 

O biólogo e botânico Samuel Gonçalves, de 41, diz que é fascinado pelas plantas, paixão que carrega desde os 12. No início, lidava com suculentas e orquídeas, e o encantamento cresceu dia a dia. “Fui me aprofundando cada vez mais. As plantas são auxiliares terapêuticos, ajudam contra a depressão, a ansiedade, a organizar os pensamentos, manter o foco. No momento do cuidado com as plantas, nasce um vínculo, um senso de responsabilidade sobre um outro ser vivo. Você dispõe da própria energia para resolver as questões relacionadas ao cultivo”, afirma. Samuel diz que muitas pessoas pedem plantas de presente para não se sentirem tão solitárias e tristes – a planta é uma forma de companhia.

“Além da função ecológica de produção de oxigênio e renovação do ar (estudo da Nasa comprova que as plantas são capazes de retirar poluentes da atmosfera), tem o efeito visual, quando a planta é integrada à decoração. Sou apaixonado com as formas, cores e texturas. É uma sensação de bem-estar. Não consigo ficar longe das plantas. Elas unem as pessoas. Fiz muitos amigos por causa das plantas. Faço parte de um grupo que se encontra todas as sextas-feiras em uma feira de plantas e flores em Belo Horizonte para trocar mudas, trocar ideias.”

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Autor do canal on-line Um botânico no apartamento, Samuel inclusive criou uma urban jungle no apartamento onde mora, na capital. Todas as paredes são tomadas por plantas, dentro da coleção de aráceas, que é a maior do gênero no país. São antúrios, filodendros, costela-de-adão, tinhorão, copo-de-leite, entre outras. “É uma relação de muito amor e afeto. Acho que a palavra-chave é contemplação. Apreciar, meditar observando as plantas, as nervuras das folhas, perceber cheiros diferentes”, conta. Afinal, quem cuida ama, e quem ama cuida.