Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

Aprenda a valorizar as plantas nativas e usar com cautela

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As plantas medicinais são mais uma razão para que todos assumam a missão de preservar a vegetação nativa do Brasil para promover não só saúde, mas a vida. É preciso que todos enxerguem o valor das plantas para prevenção e cura de diversas doenças. Em Belo Horizonte, o Centro Especializado em Plantas Aromáticas, Medicinais e Tóxicas da UFMG (Ceplamt), com sede no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, assume essa demanda.





A professora e pesquisadora Maria das Graças Lins Brandão, coordenadora do Ceplamt-UFMG, destaca que o Brasil abriga a maior biodiversidade do mundo. “O site flora do Brasil, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, aponta mais de 46 mil plantas que compõem a biodiversidade brasileira. Existe também a estimativa de que 10% de toda biodiversidade vegetal tem algum tipo de uso, quer seja como remédio, alimento, corantes e aromas, quer seja como madeiras etc. Seguindo esse cálculo, teremos então cerca de 4.500 plantas úteis nativas do Brasil. Essas milhares de plantas estão distribuídas em diferentes ecossistemas (cerrado, Amazônia, mata atlântica), com solo, clima e altitude diferentes. Isso faz com que as plantas brasileiras produzam substâncias (princípios ativos) com estruturas moleculares também diferentes, únicas, e que poderiam gerar produtos inovadores. Daí vem o grande interesse das indústrias.”

Diante de tanta riqueza e dos resultados das plantas medicinais, Maria das Graças assegura que a desconfiança e o ceticismo ficam cada vez mais no passado. “Essa 'desconfiança' em relação aos remédios das plantas está mudando e eles são hoje bastante aceitos. É preciso sempre lembrar que as plantas vêm sendo submetidas a vários estudos químicos, testes farmacológicos e toxicológicos que endossam (ou não) seus benefícios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre a necessidade de que os profissionais da área de saúde sejam devidamente treinados para orientar a população para o uso das plantas medicinais e fitoterápicos. Considero isso fundamental, para que as plantas sejam mais bem aproveitadas, já que a população já usa esses remédios, mesmo que de forma empírica.”


Para o leigo, Maria das Graças explica que são consideradas plantas medicinais todas aquelas usadas como remédio, inclusive com base apenas em informações populares. Já os fitoterápicos são considerados os medicamentos preparados com plantas, com registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Esses passaram por estudos/testes em laboratório e, por isso, têm custo mais elevado. Espinheira-santa e guaco são exemplos de espécies nativas com produtos registrados na Anvisa. “A maior parte desses produtos é de venda livre, mas outros, como o guaco ou o Ginkgo biloba, por exemplo, apresentam contraindicações. Eles devem ser usados com cautela, como qualquer medicamento.”





Por isso, é sempre bom alertar. São plantas, mas não são inofensivas. “É preciso lembrar que plantas também têm substâncias químicas, que são os princípios ativos, os verdadeiros remédios. Quando preparamos um chá, por exemplo, estamos extraindo essas substâncias. Então, tem de tomar alguns cuidados, da mesma forma quando se usa um medicamento de farmácia. A maior parte das plantas usadas como chás são espécies exóticas, nativas da Europa, onde já foram estudadas e seus efeitos muito conhecidos. Infelizmente, poucas espécies brasileiras foram submetidas a estudos e o uso delas deve ser mais cauteloso. O link “banco de amostras”, da página do Ceplamt (www.ceplamt.org.br) traz orientações sobre uso e dosagem de várias plantas”, avisa a professora.


INVESTIMENTO  


Maria das Graças enfatiza que o valor das plantas medicinais é incalculável. “Nossas plantas produzem substâncias químicas com características únicas, que as tornam extremamente valiosas no mercado farmacêutico. Além disso, grande parte dessas plantas nativas é usada há milênios pelos povos indígenas das Américas. Trata-se de um verdadeiro patrimônio cultural da humanidade. Mas, infelizmente, tudo vem sendo perdido desde a chegada dos portugueses, que iniciaram a exploração predatória do pau-brasil. A destruição da vegetação nativa e dos povos indígenas continua feroz nos dias atuais, levando a irreversível perda de toda uma riqueza que só existe aqui. Existem cálculos que mostram que o valor da biodiversidade supera o das commodities produzidas no país hoje (carne, soja, minério de ferro), mas, para obter o devido lucro, seriam necessários investimentos na pesquisa e desenvolvimento de produtos. A China e a Índia têm feito enormes investimentos no desenvolvimento de produtos a partir das suas plantas. Aqui, seguimos o caminho contrário.”

A professora explica que, no Brasil, nunca houve a devida atenção para a área, considerando o enorme patrimônio vegetal disponível. Mas projetos importantes já ocorreram em nível nacional. Entre os mais recentes, comandados pelo Ministério da Saúde, está a implantação de fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS). “O objetivo é orientar a população para o uso adequado de alguns remédios caseiros e disponibilizar produtos manipulados com qualidade e para uso em situações mais simples e corriqueiras. Em Minas Gerais, as coisas caminham lentamente também. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), por exemplo, nossa agência de fomento e que vem financiando algumas pesquisas, sofre hoje com a falta de recursos, que não vêm sendo repassados pelo estado. Essa falta de continuidade nos ensaios de laboratório é fatal.”





TIRADENTES 


Na luta por essa preservação, Maria das Graças conta que o Ceplamt-UFMG desenvolve um projeto em Tiradentes, no qual estão trabalhando especificamente na obra do botânico tiradentino do século 18 frei Mariano da Conceição Vellozo. Ele foi o primeiro cientista brasileiro a descrever as plantas do Brasil. Em sua obra Flora fluminensis, de 1790, ele citou os usos tradicionais e nomes indígenas de várias plantas nativas, como panaceia, salsaparrilha, sucupira e carqueja. Um exemplo é a ora-pro-nóbis, a qual ele descreve que era usada pelos escravos no lugar do hibisco, uma planta exótica. “As informações sobre as plantas citadas pelo frei Vellozo estão sendo recuperadas e devolvidas à comunidade por meio de bibliografia (um livro foi publicado e disponível na página do Ceplamt), cartazes, criação de trilhas para observação das plantas, entre outras atividades. De 20 a 22 deste mês, faremos um evento em Tiradentes em homenagem a ele – 1º Encontro Regional Sudeste de Farmacognosia e 25º Seminário Mineiro de Plantas Medicinais. Todo esse trabalho está sendo feito com o apoio do Câmpus Cultural da UFMG, em Tiradentes.”



Para fazer em casa
» Sabonete de mel e própolis
Ingredientes: 1kg de glicerina, 70ml de mel, 30ml de lauril e 20 gotas de própolis
Preparo: derreter a glicerina em banho-maria, depois de três minutos adicionar o mel e o própolis e, em seguida, o lauril. Mexer bem. Despejar na forma, deixar secar.

» Sabonete pós-sol
Ingredientes: 1kg de base de glicerina, essências de sua preferência, óleos de urucum e de girassol
Preparo: derreter a glicerina em banho-maria, acrescentar os óleos de girassol e de urucum. Mexer até que os óleos incorporem bem. Deixar amornar e colocar a essência de sua preferência. Despeje nas formas e deixe esfriar, secando naturalmente. Desinformar e embalar.





» Xampu para piolho
Ingredientes: 1 maço de arruda, 10 folhas de boldo, 1 maço de folhas de melão-de-são-caetano, 1 folha de confrei, 100g de sabão de coco, 500ml de água
Preparo: bater as folhas no liquidificador com a água e coar. Derreter o sabão de coco em fogo baixo. Misturar suco no sabão derretido. Deixar ferver, apagar o fogo e deixar esfriar para guardar.
Como usar: lavar a cabeça duas vezes por semana, até eliminar o piolho.

» Xarope expectorante
Ingredientes: 4 folhas de hortelã-pimenta, 5 folhas de alfavacão, 4 folhas de saião, 1 beterraba pequena, água e açúcar mascavo a gosto
Preparo: levar ao fogo a água e o açúcar mascavo. Ao ferver, ir retirando a espuma, deixar chegar em ponto de mel. Nesse momento, acrescentar tudo o que foi batido no liquidificador. Tampar e apagar o fogo. Coar depois de esfriar.
Como usar: tomar uma colher de chá três vezes ao dia.

» Pomada para frieira
Ingredientes: 2 copos de cinza de palha de alho, um punhado de erva-de-bicho e aroeira, azeite de oliva até dar ponto
Preparo: queimar a palha de alho junto com as ervas até juntar dois copos de cinza. Depois, acrescentar azeite de oliva até formar uma pasta. Embalar.





 
» Pomada cicatrizante
Ingredientes: 500g de vaselina sólida, 50g de lanolina sólida, 100ml de composto de tintura das seguintes ervas: aroeira, boldo, macaé, transagem, caju, alecrim, confrei e arruda, 10 gotas de própolis
Preparo: misturar a vaselina e a lanolina até incorporar. Acrescentar a tintura aos poucos e ir mexendo até juntar todos os ingredientes. Acrescentar o própolis por último. Embalar em potes.

» Pomada milagrosa
Ingredientes: 1l de óleo, 2 punhados de mão cheia de parafina, 25 ervas medicinais do tipo cicatrizante, antibióticas e adstringentes (sendo aproximadamente 200g)
Preparo: levar ao fogo numa panela as ervas com o óleo para fritar até ficar crocante. Tirar do fogo, coar e levar ao fogo novamente com a parafina até derreter e dar ponto.
Propriedades: para dores articulares, pancadas, feridas e todos os 
tipos de problemas na pele