Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Pesquisa aponta que, em 10 anos, número de brasileiros com diabetes tipo 2 cresceu 61%


 
Marcella Freitas*
 
 
 
 
 
Em 10 anos, o número de brasileiros com diabetes tipo 2 cresceu 61,8% no Brasil — índice que, acreditam especialistas, deva ser bem maior. Estima-se que, hoje, 9% da população tenha a doença, na maioria das vezes adquirida por conta de maus hábitos alimentares e sedentarismo. Os dados são de pesquisa realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, e comparou o período entre 2006 e 2016.



Caracterizada pela elevação da glicose no sangue (hiperglicemia), o diabetes pode ocorrer devido a defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas, pelas chamadas células beta. Esse pode ser manifestado de duas maneiras. No tipo 1, o paciente é incapaz de produzir insulina — hormônio essencial para o controle da glicose — e se apresenta ainda nos primeiros dias de vida do paciente. Já no tipo 2, há uma disfunção que impede o organismo de usar a substância de forma adequada, consequência, na maioria dos casos, por má alimentação e sedentarismo. É esse tipo que mais afeta o brasileiro.

Tanto por conta da faixa etária e de doenças relacionadas, as consequências do diabetes tipo 2 podem ser mais sérias. E, na maior parte dos casos, está ligada à obesidade. Para o enfermeiro militar Paulo Ricardo Pajeú, de 28 anos, a busca pela cirurgia bariátrica foi inicialmente por estética. Mesmo da área da saúde, só se deu conta do risco que corria quando estava prestes a realizar o procedimento.

“Além de todas as comorbidades (doenças ligadas à obesidade), estava com a predisposição ao diabetes tipo 2 e já havia iniciado medições hipoglicemiantes. Quando vi os resultados dos exames pré-cirúrgico, em 2015, fiquei com medo de não conseguir. Vi que estava morrendo aos poucos”, relembra. Hoje, após a cirurgia, Paulo Ricardo se alimenta melhor, pratica atividade física diariamente e recuperou a qualidade de vida. “Eu me descobri como nunca”, conta.



A perda de peso é considerada apenas um dos efeitos colaterais da cirurgia bariátrica para os diabéticos. Para o médio Luiz Fernando Córdova, representante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em Brasília, o procedimento é indicado a partir do grau, tempo e insucesso do paciente obeso com outros tratamentos clínicos.

A legislação brasileira prevê que pacientes com índice de massa corporal (IMC) superior a 35 — considerada a obesidade grau 2—associada a alguma doença já tem a indicação cirúrgica. E, recentemente, pacientes com obesidade grau I e IMC acima de 30 também foram incluídos na recomendação do procedimento pelo Conselho Federal de Medicina. “A sugestão não é baseada no quanto se pesa, mas diretamente relacionada ao número de doenças do paciente, como apneia do sono, gordura no fígado, hipertensão, alteração de colesterol e o próprio diabetes”, explica.

CONTROLE 

A falta de campanhas educacionais sobre a doença é um dos principais fatores que influenciam o aumento de casos e fazem com que o diagnóstico, em especial do tipo 2, seja tardios e resulte em casos extremos, como a amputação de membros e a ocorrência de óbitos por doenças cardiovasculares, que representam 80% dos casos dos acometimentos, como explica o cardiologista José Francisco Kerr Saraiva.



“A sociedade tem conhecimento das complicações ditas microvasculares do diabetes. Por isso, o controle adequado da doença, aliando estilo de vida saudável e tratamento com medicamentos apropriados, permite, hoje, que o paciente viva não apenas melhor, com mais qualidade de vida, mas também por mais tempo”, destaca. Ainda há uma grande parcela da população que não teve diagnóstico, não procurou o profissional certo nem fez os exames adequados.

O diagnóstico é simples e indolor, podendo ser tanto por meio de exames laboratoriais, que vão desde o teste de glicemia na ponta do dedo até o exame de sangue normalmente feito em laboratório.

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte