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Lembrança afetiva

Movimento comfort food busca despertar emoções por meio do paladar, com pratos que remetem a momentos especiais e que afloram sensações ligadas ao conforto, ao bem-estar e à memória


postado em 16/06/2019 04:04

A personal organizer Mariana Faria conta que, ao se alimentar, busca justamente um conforto, principalmente quando é uma comida especial, de família, que traz um acolhimento (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
A personal organizer Mariana Faria conta que, ao se alimentar, busca justamente um conforto, principalmente quando é uma comida especial, de família, que traz um acolhimento (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

 

 








“Salta a cerveja estupidamente gelada pr’um batalhão e vamos botar água no feijão. Mulher, não vá se afobar; não tem que pôr a mesa, nem dá lugar. Ponha os pratos no chão e o chão tá posto e prepare as linguiças pro tira-gosto. Uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão e vamos botar água no feijão. Mulher, você vai fritar um montão de torresmo pra acompanhar: arroz branco, farofa e a malagueta; a laranja-baía ou da seleta”, com as bênçãos do mestre Chico Buarque, a feijoada é o prato que embala a alegria de muitos. E pode muito bem ser apontado como comfort food. Está por dentro dessa onda?

Sabe aquele cheiro especial vindo da cozinha, que invade os outros cômodos da casa e fica para sempre na memória das pessoas? Aquele sabor que remete à infância, uma receita da mãe, da avó, da madrinha ou de alguém especial, seja um simples arroz com feijão, uma macarronada, um bolo de cenoura ou aquele pudim... Esse tipo de comida, que mexe com as memórias e traz a sensação de bem-estar, de ser cuidado, ganha cada vez mais adeptos no mundo. E ela tem o poder de aflorar lembranças e momentos únicos, que podem ser um jantar com o namorado, um piquenique com os amigos, o almoço de domingo em família ou mesmo aquele café da manhã que, definitivamente, marcou o sabor de uma viagem. Tudo isso integra o movimento comfort food, ou “comida confortável”, que é uma espécie de reverência às coisas mais simples da vida. E não significa que ela tem de ser saudável. A única obrigação é de se emocionar.

E você, qual é o seu prato, a comida que lhe permite voltar no tempo? Aquele que só de imaginar a boca enche de água e as papilas gustativas se alvoroçam? O Bem Viver hoje decidiu discutir o quanto o prazer de comer marca e é importante para a construção, não só do paladar, mas da alegria de viver. Descobrir o poder da comida que faz você feliz contrapondo esse tempo de dietas, de todo tipo de restrições, fast food, gourmetização, culto à magreza, enfim, anos em que o ato de ser alimentar é cheio de regras e patrulhas.

O comfort food surgiu em contrapartida à mecanização no preparo e à forma de consumir alimentos. Comer rápido demais pode não ser saudável e trazer desconfortos, assim como não prestar atenção na comida e no próprio ato de se alimentar. O prazer de comer requer tempo, experiência aprazível e caráter sensorial.

A personal organizer Mariana Oliveira de Faria revela que sua relação com a comida nem sempre foi muito saudável. “Lembro-me de ser insatisfeita com o meu corpo/peso desde o início da adolescência (mesmo não estando acima do peso nessa época) e de fazer dietas desde então. Nos últimos 10 anos, tive um ganho de peso considerável e identifiquei que ele está muito ligado a uma ‘fome emocional’, que acredito ter seu gatilho em situações de estresse, cansaço, tédio e tristeza para preencher algum vazio emocional. Mas gosto sim de comer, é uma fonte de prazer. Vivi muito tempo entre a restrição (provocada pelas dietas) e impulsos alimentares e hoje busco o equilíbrio. Tenho buscado comer de maneira mais saudável, focando na qualidade dos alimentos.”

Mariana diz que agora, ao se alimentar, busca justamente um conforto, principalmente quando é uma comida especial, de família, que traz um acolhimento. “A comida traz conforto, mas é preciso dosar e estou aprendendo.” A personal organizer tem bem vivos na memória os pratos que a emocionam: “O pão de queijo e o bolo de cenoura feitos pela minha mãe. Como boa mineira, adoro pão de queijo e para mim não existe no mundo um melhor do que o dela. Tem aquela sensação de estar em casa, sabe? Morei alguns anos fora de Minas e longe da minha família e esse pão de queijo era como ter um pedacinho de casa (pois muitas vezes ela fazia e congelava e, quando me visitava, levava para eu poder comer depois). Já o bolo de cenoura tem gosto de infância. Até hoje, quando ela faz me remete ao tempo em que eu era criança”.

ACOLHIMENTO

Essa comida que acolhe é tão importante que, muitas vezes, quando encontramos alguém chateado, triste, pensativo, é comum oferecermos um chá quente, um pão de queijo com cafezinho, uma bela fatia de bolo de chocolate... Oferta que significa o cuidado com o outro no sentido de acarinhar, de tornar o dia melhor. Para Mariana, “essa oferta é sim um cuidado, um acolhimento. Prova disso é que, geralmente, as melhores lembranças das nossas avós estão relacionadas à comida. Aquele carinho de sempre fazerem o que mais gostamos, de ficarem felizes e satisfeitas de nos ver comendo algo que prepararam com tanto amor”.

Por isso, muitas vezes, as regras atuais e a “ditadura” da alimentação baseada no que pode e não pode tira o prazer de comer. Há quem tenha, realmente, uma alimentação ruim, desregrada, mas também quem ficou refém de exageros ditos “saudáveis” e esquecendo de se agradar, de ter alegria, de sentir o gosto: “Acho que está tudo muito radical. As pessoas só estão enxergando a função de nutrir da comida e se esquecendo de todas as outras (social, conforto etc.). A cada hora surge algum alimento milagroso ao mesmo tempo em que outro é demonizado e o mundo passou a ser dividido em alimentos bons e ruins, nos deixando cada vez mais confusos e nos obrigando a abrir mão do prazer de comer. Como se comer focando só no prazer em certos momentos fosse totalmente errado. Acho que precisa haver um equilíbrio”.

Consciente de que ter prazer na vida é fundamental, Marina revela o prato que cativa e cria memória: “Não sou de cozinhar, não tenho muita prática, mas me saio melhor com os doces. O meu brigadeiro faz sucesso em casa e o petit gateau é certeiro nos jantares preparados com os amigos. Até tento inovar (geralmente, fico responsável pela sobremesa), mas ele é o mais pedido... E não é difícil de fazer, como todo mundo pensa!”.


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