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Use, com moderação!

Não há dúvida sobre os benefícios da tecnologia. No entanto, ela cria uma acomodação em relação a usarmos o cérebro para resolver problemas ou armazenar conhecimento. Como agir?


postado em 26/05/2019 04:06



Antigamente, para dirigir um carro, você precisava entender um pouco de mecânica para chegar ao fim da viagem. Hoje, basta saber ligar o motor. E, daqui a pouco, nem isso. Vai andar em carro autônomo (já existe a tecnologia, falta ainda a infraestrutura). Esse é um dos vários exemplos dentro da concepção de uma sociedade coletivamente mais inteligente e, individualmente, mais burra. Ao pensarmos no smartphone, que se torna cada vez mais uma ferramenta indispensável, Gilda Paoliello, psiquiatra, psicanalista e professora do curso de pós-graduação em psiquiatria da Faculdade Ipmed de Ciências Médicas, afirma que não é exagero dizer que os smartphones se tornaram uma extensão de nossos corpos, chegando até a fazer parte de nosso esquema corporal, além de ser um “controle remoto de nossas vidas”, pois podemos ser acionados a qualquer momento.


Quando estamos sem ele é como estar sem um braço ou, mais grave ainda, sem nosso cérebro. “Aí é que a coisa pega: esse aparelhinho mágico acessa a internet, toca música, tira fotos, permite a comunicação, anula tempo e distância, ouve e responde nossas dúvidas, conhece nossas preferências em todos os âmbitos de nossas vidas e faz tantas outras coisas. Mas será que todas essas facilidades proporcionadas não nos deixam sequelas? Afinal, tudo tem um preço e é importante ver pra que lado a balança pende.”


Gilda Paoliello ressalta que, não há dúvida alguma em relação a todos os benefícios que a tecnologia traz. Mas será que todas essas facilidades não deixam as pessoas mais acomodados em relação a usar o próprio cérebro para resolver problemas ou armazenar conhecimento? “Afinal, se a partir de um toque ou até de um comando verbal, podemos ter acesso a uma infinidade de informações, por que cansar nossa cabeça em busca de respostas para nossas dúvidas? A pergunta, então, é – o que o smartphone provoca em nossas vidas? Essa é uma questão que vem interessando e desafiando muitos pesquisadores, desde que, em 2007, Steve Jobs apresentou o incrível ‘3 em 1’, capaz de, ao mesmo tempo, substituir o celular, computador e a internet.”


A psiquiatra e psicanalista destaca que um dos principais estudos foi conduzido pelo neuropsicólogo Anthony Wagner, da Universidade Satnford (EUA): “Ele nos mostra que essa estimulação por múltiplas mídias é altamente prejudicial à nossa saúde mental e está, sim, nos ‘emburrecendo’, pois, à medida que substituímos o estímulo de nosso raciocínio e memória, delegando isso aos mecanismos de busca virtuais, estamos ‘terceirizando nosso cérebro’, deixando de estimular nossa capacidade cognitiva, limitando nossa capacidade criativa e também deixando de filtrar informações. O que pode trazer consequências desastrosas”.

refúgio virtual Além disso, Gilda Paoliello chama a atenção que a permanência em redes sociais e em multimídias simultâneas em grande parte do dia, acaba gerando um desgaste intenso em nosso psiquismo, podendo levar a desgaste mental, irritabilidade e até mesmo aumento da impulsividade. Além de nos afastar do convívio pessoal com familiares e amigos, gerando solidão e angústia, que é preenchida por maior refúgio na vida virtual.


Para a psiquiatra, “a ilusão é termos o mundo nas mãos acionando esses aparelhinhos. A realidade é nos tornarmos prisioneiros, levando a uma verdadeira síndrome de abstinência na impossibilidade de usar tais recursos, o que caracteriza um transtorno que já tem nome: nomofofobia, uma abreviação, do inglês para no-mobile-phone phobia”.


Gilda Paoliello alerta que essas questões são ainda mais importantes quando o usuário tem o cérebro em formação, ou seja, para as crianças e adolescentes. “Ainda não sabe se esses problemas são causados ou potencializados pelo excesso de tecnologia, mas os danos já são comprovados. É importante discutirmos essas novas relações, suas dimensões e seus limites, lembrando que esses limites devem ser impostos por nós, usuários, pois a tecnologia não tem ética nem moral. Temos que cuidar para que a parte boa seja preservada, nos ocupando desses limites para que não sejamos controlados pelo que criamos. Então, a ordem do dia é: smartphone, use com moderação.!”

 

 

três perguntas para...

 

1 - andrea ramal, educadora, doutora em educação e autora do livro
Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem

 

 

2 - Excesso de estimulação e exposição simultânea a múltiplas mídias afetam a memória?


No que se refere à educação, posso dizer que afeta ao menos a forma de estudar: decorar menos, cada vez menos, pois o conhecimento está ao alcance com um clique. E é possível que interfira, pelo menos no que se refere às intenções. Ninguém quer perder tempo decorando coisas. Isso é interessante porque reservamos a energia de nossa atenção e foco para o que realmente é necessário.

3 - O fato de toda informação estar a um clique interfere no processo de aprendizagem?


Sim, pois o acesso ao conhecimento é mais rápido, e a diversidade de fontes é muito maior. Por outro lado, nem todas as fontes são seguras e confiáveis, ao contrário do que era a Barsa (enciclopédia). Então, o aprendizado precisa se focar em saber interpretar, avaliar informações, selecionar o que é válido, comparar visões… Em vez de simplesmente consultar e copiar. O uso excessivo de tecnologia provoca alguns prejuízos. Um deles é a perda de foco com relação às atividades do dia a dia, outro é o isolamento social. E há também o impacto no desenvolvimento de alguns aspectos da cognição (memorização) e na capacidade de memorizar. No entanto, o problema não é a tecnologia, mas sim a maneira como se usa.

Como usar as múltiplas mídias como ferramentas de aprendizagem?


Essa é a proposta das metodologias ativas de ensino. Graças às tecnologias digitais, está ocorrendo uma revolução nas relações da sala de aula: entre alunos e professores, entre estudantes e conhecimentos. Hoje, o estudante pode ser mais proativo e buscar o conhecimento por si mesmo, enquanto o professor pode assumir um novo papel, de orientador da aprendizagem. Não há dúvida de que mesclar o estudo por livros impressos com objetos digitais, conforme os percursos e ritmos de aprendizagem de seus alunos, é o caminho mais indicado para que escolas e universidades brasileiras melhorem o padrão de desempenho dos estudantes. Isso implica reestruturar os planos de ensino, associando de forma lógica as aulas presenciais e as atividades a distância. Mas, para dar certo, em cada área do conhecimento, há que garantir conteúdo de qualidade também nos aplicativos eletrônicos. É preciso ter cuidado com certas adaptações, improvisos e produções caseiras sem grande valor didático. Um ou outro aplicativo popular e divertido sempre pode motivar os alunos. No entanto, é mais provável que os melhores resultados de aprendizagem sejam os que derivem de conhecimento impresso e digital consistente, oriundo de autores e editoras de referência na área técnica, científica e acadêmica, estudado com a orientação de professores bem preparados. É isso que, para além de divertir e motivar, desenvolve competências para o trabalho e para a vida.


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