Os índices de obesos e de pessoas com sobrepeso são alarmantes. Segundo dados do Ministério da Saúde, 18,9% da população acima de 18 anos é obesa e 53,9% da população brasileira tem sobrepeso. Com isso, vêm surgindo novas propostas de planos alimentares e protocolos para perda súbita de peso. De acordo com Lucas Penchel, médico generalista, nutrólogo e diretor da Clínica Penchel, é preciso ter senso crítico na hora de iniciar alguma dieta. “As pessoas prometem muitas coisas e boa parte da população acaba comprando a ideia baseada na emoção, já que está em desespero para a perda rápida de peso”, alerta.
Para quem quer começar a seguir um plano alimentar, segundo o nutrólogo, a primeira coisa a fazer é procurar um profissional capacitado, que vai pedir exames laboratoriais para identificar qualquer alteração. O especialista, então, vai oferecer um plano alimentar elaborado com base nos objetivos, na rotina e, principalmente, no paladar da pessoa. Depois, vêm a antropometria e a pesagem, medidas feitas para avaliar os resultados após o início do tratamento.
O que é remédio para uns, pode ser veneno para outros. “Quando a pessoa faz uma dieta que é destinada para outra, ela corre vários riscos”, comenta o nutrólogo.
Uma das novas tendências é a denominada dieta cetogênica, que vem desafiando a pirâmide alimentar padrão. A proposta é diminuir drasticamente os carboidratos – em geral, a pessoa ingere 50 gramas por dia – e aumentar a quantidade de gorduras. Estudos demonstram que a dieta pode auxiliar no controle das convulsões em pacientes epilépticos, e nos tratamentos do câncer e do Alzheimer. Porém, como todas as dietas, a estratégia funciona para um grande grupo de pessoas, mas não para todo mundo.
O psicólogo Maurício Brum, de 47 anos, trata um melanoma em metástase e já tinha lido sobre os benefícios da alimentação cetogênica para pacientes com câncer. A ideia de aderir à dieta foi abordada por ele em uma consulta com a sua nutricionista. “Realmente, a célula cancerígena se alimenta de açúcar. Quando você decide cortá-lo totalmente, acaba encontrando a dieta cetogênica.” Ele está fazendo imunoterapia e acompanhando uma boa evolução do tratamento.
No começo, teve um pouco de dificuldade em se adaptar à dieta – alguns sintomas aparecem na fase inicial da mudança.
Maurício também observou uma perda de peso. Do fim do ano passado até hoje, ele já eliminou seis quilos e, em outra época em que fez a dieta, chegou a perder 30 quilos. “Antes de ir malhar, tomo apenas uma xícara de café com óleo de coco”, comenta. Ele frequenta a academia pelo menos três vezes por semana e garante que a crença de que uma alimentação sem carboidrato não fornece energia é falsa.
CUIDADOS Fazer dietas com baixa ingestão ou restrição alimentar pode ser prejudicial para a saúde. Além da perda de gordura, pode ocasionar a perda de massa magra. “Essa perda de músculo não é saudável.
Além disso, quando a perda de peso é ainda mais significativa, pode ocorrer uma hipovitaminose, que é a deficiência de vitaminas B1, B2, C e B12, e de ferro. E, consequentemente, a pessoa pode vir a adquirir a anemia ferropriva, megaloblástica ou, até mesmo, uma doença chamada de beribéri, que é a deficiência de tiamina.
O psicólogo não enxerga a dieta cetogênica como estratégia. Para ele, a alimentação se tornou um estilo de vida. Como o foco dele é o câncer, Maurício enxerga que se adaptar é uma necessidade ainda maior. “A maior vantagem é saber que não estou produzindo o alimento do meu câncer. Não posso descuidar. A alimentação é fundamental.”
Penchel diz que, quando o indivíduo faz uma dieta saudável, seja ela para queda de cabelo, estresse, sono e tratar de uma anemia, seja para qualquer disfunção intestinal, ele emagrecerá. “Hipócrates, pai da medicina, antes de Cristo, já dizia: ‘Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio’.
Nesta edição, o Bem Viver convida o leitor para desvendar mitos e verdades sobre dietas que ganham fama no meio nutricional. Entender os riscos de uma dieta sem orientação médica e que é necessário também mudar um estilo de vida sedentário são bases para entrar com tudo em uma alimentação saudável e sem restrições drásticas.
* Estagiário sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares