O problema da obesidade já encontra dados alarmantes no Brasil. De cada 100 habitantes, 50 estão acima do peso e, entre esses, 16 enfrentam a balança e não conseguem retomar a forma, nem melhorar hábitos alimentares. O levantamento é da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). De acordo com a entidade, a população obesa aumenta em ritmo acelerado por aqui – nos últimos 10 anos, a taxa nacional de obesidade cresceu mais que o índice americano, o mais grave mundialmente, e, se a situação persistir, a perspectiva é de que daqui a outros 10 anos os brasileiros serão tão obesos quanto os americanos. Quando considerados os casos piores, que demandam intervenção séria, o Brasil já é o segundo país que mais realiza a cirurgia bariátrica, e pode vir a ser o primeiro.
O coordenador do Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital da Baleia, Marcos Reis, ensina que a obesidade é uma doença com diferentes causas. “Vários fatores levam ao desenvolvimento da obesidade, como alimentação inadequada, sedentarismo, além de fatores emocionais, genéticos, medicamentos e outras enfermidades relacionadas”, afirma. O cirurgião chama a atenção ainda para o fato de o excesso de peso, com o passar do tempo, levar a outros males. “Os mais comuns são hipertensão arterial, diabetes, alterações de colesterol e triglicérides, apneia do sono, complicações cardiovasculares, doenças pneumológicas, refluxo, incontinência urinária, impotência sexual e outros distúrbios”, reforça.
O tratamento cirúrgico tem sido o caminho escolhido por muitos brasileiros, desde os anos 1990. De lá pra cá, a medicina avançou intensamente, com novas técnicas de operação e desenvolvimento de medicamentos, o que originou um boom na procura pela cirurgia bariátrica. Conforme estatísticas da SBCBM, somente em cinco anos a busca pelo procedimento cresceu 47%, aumento superior ao de cirurgias mais simples, como extração de vesícula (que subiu 38%) e tireoide (6%).
Anteriormente, a cirurgia de redução do estômago era prescrita apenas para adultos com obesidade mórbida, mas agora é indicada também para adolescentes e para pessoas com diabetes descontrolado. De acordo com Marcos Reis, a resposta ao enfrentamento à obesidade somente com dieta acaba em resultados insatisfatórios. Por isso, a operação é recomendada para melhor resolutividade, em algumas situações graves.
CONSEQUÊNCIAS Para o professor universitário aposentado Cristiano Machado, de 68 anos, a convivência com o sobrepeso vem de cedo. Ele conta que, a partir dos 7 anos e na pré-adolescência já começou a ficar “gordinho”, em suas palavras. “Minha saúde era boa, a alimentação normal, nunca fui de comer demais. Acho que é questão de genética mesmo”, diz. Com 18 anos, surgiu o problema da hipertensão, que Cristiano controlou por toda a vida com medicamentos. Ao passar do tempo, já aos 60, apareceu o diabetes tipo 2 e, ainda com remédios de controle em dose máxima, os valores glicêmicos se mantinham altos, em torno dos 200mg/dl, e ele era um sério candidato a precisar de aplicações de insulina.
A operação ocorreu em setembro de 2015. “O procedimento costumava ser com bisturi, abrindo a barriga, mas atualmente, com a videolaparoscopia, é muito tranquilo. Não senti dor nem mal-estar. O intestino funcionava bem, a alimentação habitual. Uma parte do meu estômago foi retirada e ele está do tamanho de uma banana prata”, compara. Antes, Cristiano pesava quase 140 quilos e, em um ano, baixou perto de 50. Agora, está na casa dos 98 quilos e se demonstra extremamente satisfeito.
Palavra de especialista - Mauro Jácome, cirurgião geral e gastroenterologista
Nova cirurgia para obesidade
“Para aqueles pacientes que não se enquadram nos critérios para a cirurgia bariátrica de índice de massa corporal, ou seja, com IMC entre 30 e 35, uma opção passa a ser a gastroplastia endoscópica. A técnica, conhecida como ‘nova bariátrica por endoscopia’, é menos invasiva, apresenta durabilidade de dois anos e possibilita o tratamento e o controle da obesidade leve, até mesmo em adolescentes e idosos, com ótimos resultados para quem precisa perder peso, cerca de 20% a 25% do peso total, quando associada a uma mudança nos hábitos alimentares e à prática de atividades físicas.