Há um mês no processo de introdução alimentar, José Carvalho de Souza Teixeira Raposo, de 7 meses, já demonstra suas preferências. Não come abacate, uma das frutas preferidas da mãe, de jeito nenhum, e tem interesse por melancia, banana e por frutas mais exóticas, como graviola.
O mingau de aveia com banana também faz sucesso com Zeca, como é chamado pelos pais. E, entre os salgados, o feijão é o vencedor. A designer Daisy Barros de Carvalho, de 34 anos, e o biólogo João Marcelo de Souza Teixeira, de 35, aproveitam para colocar o caldinho em diversos alimentos e estimular o paladar do filho.
Pais estreantes, o casal conta que o processo foi mais difícil do que haviam pensado, o que fez com que investissem em um método misto. “Tinha a expectativa de que seria mais fácil. Ele nem sempre pega a comida por conta própria, mas estamos indo aos poucos. O que ele demonstra querer pegar, deixo que coma com a mão”, conta Daisy.
A introdução de Zeca começou completa: com frutas, carne, verduras e carboidratos. Daisy conta que dá preferência aos alimentos orgânicos e às frutas colhidas no pé, que, por sinal, são as que Zeca mais consome por conta própria.
AUTONOMIA João Marcelo é o cozinheiro da família e, uma vez por semana, prepara as papinhas e as congela em pequenos potinhos, deixando tudo pronto para Zeca. A amamentação continua com livre demanda, com exceção de três horas que Daisy passa no estúdio, trabalhando. No início, o filho a acompanhava no trabalho, mas, depois do terceiro mês, se tornou muito ativo e precisou ficar em casa.
No período em que não tem acesso ao leite, não costuma sentir falta, pois é o momento da manhã em que come frutas. Daisy conta que volta para dar o almoço ao filho, mas, de vez em quando, espera que ele coma para retornar à casa. “Ele faz corpo mole quando está comigo, quer na boca. Quando não estou, ele come com mais autonomia. Então, algumas vezes, espero para que ele tenha esse momento.”
Sobre a resistência ao abacate, a designer garante não ter desistido ainda e conta que leu em algum lugar que, antes de decidir que não gostamos de um alimento, precisamos experimentá-lo de sete formas diferentes.
REFLEXO DE PROTEÇÃO Comumente confundido com um engasgo, o GAG é um reflexo de proteção das vias aéreas do bebê, mecanismo natural para expulsar elementos identificados como perigosos. De acordo com a nutricionista clínica funcional Kelly Luchtemberg Ferro, como o corpo do bebê ainda não está habituado a alimentos sólidos, pode expulsar pedaços maiores e até mesmo a comida pastosa no início da introdução.
O reflexo nos bebês de 6 meses é mais distante das vias aéreas quando comparado a uma criança mais velha, de 1 ano, por exemplo, diminuindo assim o perigo de engasgo, pois, antes que esse se torne um perigo, ocorre o GAG.
O engasgo é a obstrução parcial ou total das vias aéreas e pode ocorrer com as papinhas e com os pedaços de alimentos. Segundo Kelly, uma das vantagens do BLW é que, praticando desde cedo o contato com alimentos sólidos, o bebê tem mais autonomia e destreza para se alimentar.
z Introdução segura
» Alimente o bebê devagar e pacientemente. Encoraje-o a comer, mas não o force. Fale com a criança e mantenha contato visual
» Pratique a boa higiene e o manuseio adequado dos alimentos
» Comece aos 6 meses com pequenas quantidades de comida e aumente gradualmente à medida que a criança cresce
» Aumente gradualmente a consistência e a variedade dos alimentos
» No caso do BLW, alimentos redondos e pequenos não são indicados no início. Entre eles, amendoim, uva-passa, uva inteira, pipoca, sementes e castanhas
» Aumente o número de vezes em que a criança é alimentada: de duas a três refeições por dia para bebês de 6 a 8 meses, e de três a quatro para crianças de 9 a 23 meses, com um a dois lanches adicionais, conforme necessário.
» Não ofereça açúcar até os 2 anos, não faça uso de sal nem oferte suco (mesmo naturais), leite e derivados até 1 ano
z Dez passos para uma dieta saudável
» 1 – Apenas leite materno até os 6 meses, sem oferecer água ou quaisquer outros alimentos
» 2 – A partir dos 6 meses, introduzir lenta e gradualmente outros alimentos, mantendo o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais
» 3 – Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno, e cinco vezes se estiver desmamada
» 4 – A alimentação complementar deverá ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando a vontade da criança
» 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher. É recomendado aumentar gradativamente a consistência
» 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos todos os dias. A alimentação variada é também colorida
» 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições
» 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida.
» 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos e garantir armazenamento e conservação adequados
» 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo a alimentação habitual e os alimentos preferidos e respeitando sua aceitação
Fontes: Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde (MS/OPAS) e Sociedade Brasileira de Pediatria
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